Adversários nas urnas, mas com visões semelhantes sobre como conduzir o Estado, Eduardo Leite (PSDB) e José Ivo Sartori (MDB) terão base equivalente na Assembleia, seja quem for o eleito em 28 de outubro. As bancadas numerosas, contudo, não garantem vida fácil ao ungido pelas urnas. Ambos terão de conquistar o apoio de partidos que hoje estão coligados ao rival caso queiram aprovar mudanças estruturais, principalmente se houver exigência de alterações no texto constitucional.
Pela matemática fria do primeiro turno, a nova formatação da Assembleia, a tomar posse em 1º de fevereiro, garantiu a Leite o apoio de pelo menos 18 deputados. Sartori larga com sustentação de 14 parlamentares.
As adesões no segundo turno, contudo, privilegiam o atual governador. Com o apoio declarado nesta quinta-feira (18) por DEM e PSL, ele ampliou a base para 20 deputados. Leite atraiu o SD, totalizando 19 cadeiras do Legislativo.
Com essa composição, nenhum deles teria maioria absoluta de 28 votos entre os 55 integrantes da Casa. Para aprovar propostas de Emenda à Constituição (PECs), a dificuldade é ainda maior. Para dispensar a realização de plebiscito sobre privatização de estatais, por exemplo, são necessários no mínimo 33 votos favoráveis.
É a partir desse mapa político que os dois candidatos terão de dar início às articulações tão logo se dissipe a euforia pela vitória. Pelo menos 13 votos estão praticamente descartados. São as cadeiras conquistadas por PT, PSOL e PDT, partidos que disputaram o primeiro turno e anunciaram oposição ao próximo inquilino do Palácio Piratini.
Movimento da sigla derrotada é incógnita
Por enquanto permanecem neutros o Novo e o Podemos. Juntos, eles somam três deputados. Por afinidade ideológica e postura afável à agenda de Leite e Sartori, é possível projetar que os parlamentares de cada um acabem se juntando ao vencedor.
Nessa onda política-pragmática entrariam PP, PRB, PPS e SD, legendas que estão com Leite mas ocuparam a base de Sartori nos últimos quatro anos. Somente nesse bloco há 10 deputados. Na via oposta, estão PR, PSD, PSL e DEM, atualmente com Sartori mas que poderiam muito bem dar sustentação a Leite. Os quatro partidos têm nove deputados.
Por esse exercício, se o eleito obtiver êxito na negociação, inclusive atraindo Novo e Podemos, Leite teria 31 deputados e Sartori, 33. Ficam fora dessa conta o PTB, mais fiel aliado do ex-prefeito de Pelotas e que se manteve independente durante o governo Sartori, e o PSB, parceiro de primeira hora do emedebista e tido como mais refratário ao tucano.
Sempre há também a possibilidade de o partido derrotado aderir ao vencedor. Com oito deputados, o MDB é um dos partidos que formou a maior bancada da Assembleia, empatado com o PT. Se apoiar eventual administração de Leite, garante caminho fácil nas votações. Por outro lado, se for para a oposição, cria muitas dificuldades ao tucano.
No PSDB, a lógica é a mesma, mas não na mesma proporção. Como o partido conquistou somente quatro vagas, ajuda o MDB a consolidar maioria confortável em caso de adesão a um segundo governo Sartori. Na oposição, não teria a mesma relevância, pois mesmo somado a PT, PSOL e PDT não seria capaz de impedir vitórias da situação.