Os dados da Defesa Civil estadual referentes ao período de 15 de novembro até as 12h de sexta-feira (240) apontam que, até o momento, 194 municípios gaúchos reportaram ocorrências em razão das últimas chuvas. Destes, 40 estão em situação de emergência, sendo que sete cidades são da Serra: Boa Vista do Sul, Caxias do Sul, Cotiporã, Gramado, Nova Pádua, Nova Petrópolis e Nova Roma do Sul.
Já os municípios de Bento Gonçalves, Flores da Cunha, Garibaldi e São Marcos também decretaram situação de emergência, mas ainda aguardam a homologação dos decretos pelo governo do Estado para serem inseridas no levantamento do órgão estadual.
Com o reconhecimento dos decretos, os documentos são inseridos no Sistema Integrado de Informações sobre Desastres (S2iD). Esse é o canal utilizado pela Defesa Civil do Estado do RS para compilar os dados. O governo estadual orienta que as prefeituras providenciem o decreto com a maior brevidade possível, uma vez que esse é o primeiro passo para que as cidades atingidas possam receber ajuda financeira do Estado e da União.
Após o decreto, as prefeituras podem requerer a homologação pelo governo do Estado e, na sequência, o reconhecimento pelo governo federal. Caso ocorra a homologação da situação de emergência ou estado de calamidade, os municípios receberão recursos para as ações de resposta e reconstrução.
O governo do Estado alerta ainda que a publicação de decretos por parte das prefeituras será fundamental para o acesso a uma nova ferramenta, que são as transferências na modalidade fundo a fundo, ou seja, do Fundo Estadual diretamente para o Fundo Municipal de Defesa Civil. Os valores serão liberados para municípios com situação de emergência ou estado de calamidade pública homologado pelo Estado.
Situação na Serra
Conforme o governo, a dimensão dos impactos varia de acordo com a situação de cada município. A Serra registrou duas mortes em Gramado e uma em Vila Flores em função da forte chuva que atingiu o Estado entre os dias 17 e 18 de novembro. Além das vidas perdidas, a região registrou danos materiais, ambientais e prejuízos econômicos e sociais. Em Gramado, um prédio interditado desde 2020 desabou na madrugada de quinta-feira (23).
Santa Tereza, uma das cidades mais devastadas pela chuva não consta na lista do Estado, mas já estava em situação de emergência desde setembro, sendo que o município deve pedir para estender o prazo do decreto.
Boa Vista do Sul
O município decretou emergência em função da chuva, inclusive, com queda de granizo. Entre os problemas, a cidade registrou elevação do nível do Arroio Boa Vista. O km 74 da RS-453, em Boa Vista do Sul, foi totalmente liberado na manhã de sexta-feira (24). Esse ponto estava bloqueado desde o último final de semana devido aos deslizamentos de terra.
A cidade também registrou diversos pontos de alagamento, desmoronamentos de terra e barreiras, enxurradas, falta de energia elétrica, de água e de sinal de telefonia.
Caxias do Sul
A cidade decretou situação de emergência em 18 de novembro, sendo que o temporal destruiu plantações, estradas e deixou moradores sem luz. De acordo com levantamento da Emater/RS e da Secretaria Municipal da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, a estimativa é de cerca de R$ 30 milhões de perdas na agricultura. Conforme o documento, somente o temporal que atingiu o município nos dias 17 e 18 de novembro causou danos estimados em R$ 20.622.022,50. Os outros R$ 10 milhões são uma estimativa levantada pelos técnicos para o total de estragos causados pelas chuvas que atingem a Serra desde meados de julho.
Os dados apontam que o plantio de grãos em Caxias está comprometido por causa da perda do trigo. As plantas já estavam prontas para serem colhidas, mas, no caso da soja e milho, a semeadura foi adiada e, por isso, será reduzida. O prejuízo para essas culturas é estimado em R$ 1.111.200. As hortaliças foram as mais afetadas por causa do solo encharcado, que ocasionou na erosão, perda de nutrientes da plantação e proliferação de doenças. No levantamento, ficou estimado que hortaliças, folhosas e alho tiveram prejuízo de cerca de R$ 13.613.595.
As frutas também foram afetadas, principalmente as que estão em período de colheita. Pêssego, ameixa, maçã e uvas acabaram tendo a colheita, floração ou o desenvolvimento afetados. O levantamento de perdas no caso das frutas é estimado em R$ 5.897.227,50. O município também registrou quedas de barreiras e pontos sem energia elétrica. Em Vila Oliva a queda de cobertura no Parque de Rodeios deixou dois feridos sem gravidade.
Cotiporã
Em Cotiporã, os problemas enfrentados foram quedas de barreiras, acessos interrompidos, a Ponte do Rio das Antas submersa e casas atingidas. Desde o temporal, equipes do município trabalham com a liberação dos trechos das estradas, sendo que praticamente todos já foram reestabelecidos.
Conforme informações da prefeitura, esta é uma das cheias com o maior volume de estragos registrados em 2023, equiparando-se com o acontecido no mês de setembro, quando as águas do Rio das Antas invadiram a cidade.
Gramado
A cidade da Região das Hortênsias consta na lista do governo do estado pela situação de emergência. Porém, depois de registrar duas mortes no final de semana em função das chuvas, e de um prédio desabar na quinta-feira (23), a prefeitura de Gramado decretou estado de calamidade pública. A diferença entre situação de emergência e estado de calamidade pública está na capacidade de resposta do poder público à crise. No caso da situação de emergência, essa capacidade é afetada parcialmente, de modo que o município precisa de recursos complementares. Já o estado de calamidade pública se configura quando o desastre compromete completamente a capacidade de resposta do município.
No sábado (18), duas mulheres morreram após uma casa ser soterrada na Linha Marcondes Baixa. Segundo a prefeitura, quatro pessoas residiam no local — duas delas conseguiram sair da moradia e estão bem. As vítimas foram identificadas como Elisabeta Maria Benisch Ponath, 51, e Lidwina Lehnen, 86.
Em relação ao prédio que desabou e aos bairros com moradias interditadas, geólogos contratados pelo poder público, além de profissionais da prefeitura e um especialista da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) vão a campo neste domingo (26) para entender melhor o que pode ter acontecido na cidade nos últimos dias. São eles, que vão emitir pareceres sobre quais ações deverão ser realizadas pelo município para evitar novos deslizamentos e permitir que as famílias, principalmente no bairro Três Pinheiros, possam voltar para casa na próxima semana.
Ao todo, são 526 pessoas fora de casa na cidade, sendo que a maioria delas em casa de familiares e outras em espaços da prefeitura. O poder público garantiu que as famílias seguem trabalhando, estão recebendo apoio do município e que haverá um plano para que elas retornem às casas, nos próximos dias, para retirar pertences, principalmente moradores do bairro Piratini. O prefeito afirmou que irá à Brasília na segunda-feira (27) para também tentar auxílio do Governo Federal, por meio da Defesa Civil. .
Nova Pádua
Na cidade foi registrado deslizamento de barreiras, atingindo a área rural e urbana, sendo registradas também perdas em diferentes culturas atingidas pelo temporal. Um dos problemas mais graves é a interrupção da estrada municipal entre a cidade e Nova Roma do Sul, bloqueada por conta de deslizamento de terra. É por essa via que os motoristas acessam a balsa sobre o Rio das Antas.
As equipes trabalharam durante a semana para levantar os prejuízos e limpar acessos para permitir que as pessoas saíssem de casa, especialmente, no interior. Na estrada que liga Nova Pádua a Nova Roma do Sul foi registrada mais de 20 quedas de barreiras em um trecho de sete quilômetros.
Nova Petrópolis
O município registrou danos ocorridos em diversos pontos, sendo que a as equipes da prefeitura se mobilizaram para desobstruir vias públicas e reparar redes pluviais. A chuva afetou inclusive os acessos municipais, como a BR-116, que está interditada em ambos os sentidos Caxias do Sul e Picada Café.
Além disso, comunidades do interior de Nova Petrópolis sofrem há uma semana sem energia elétrica. As casas das famílias estão sem luz desde que a chuva forte destruiu a rede em 17 de novembro. Sem acesso à localidade em que estava a rede de energia devido às quedas de barreiras, a Rio Grande Energia (RGE) informa que está construindo uma nova rede em outra área. Com isso, pretende retomar a distribuição de eletricidade "o mais breve possível".
Nova Roma do Sul
Praticamente ilhada, Nova Roma do Sul, conta com apenas um acesso para entrar ou sair da cidade. O município, que ainda contabiliza o reflexo da queda da ponte de ferro em 4 de setembro, agora não tem como chegar a balsa sobre o Rio das Antas, uma vez que a estrada registrou diversas quedas de barreira. Soma-se a isso as perdas na agricultura e na pecuária, as principais fontes da economia local.
Um levantamento feito pela Emater, entre 12 e 18 de novembro, aponta que o prejuízo chega a R$ 10,7 milhões — sendo R$ 6,3 milhões apenas no cultivo da uva. Além da uva, a cidade teve perdas na produção de milho, cebola, alho, pêssego, além da criação de perus, frangos, resfriamento do leite e avarias em galpões, aviários, entre outras estruturas. Parte dos prejuízos também foram provocados porque estradas e pontos de acesso foram danificados, levando a queda de postes, provocando a falta de energia elétrica e de água.
No momento, para sair ou chegar a Nova Roma do Sul, há apenas um acesso: a RS-448, por Antônio Prado. O trecho também passa por obras, o que torna o tempo de distância até Caxias do Sul, por exemplo, em duas horas. Desde setembro, a cidade está sem a ponte que ligava o município até Farroupilha.
Ainda não estão na lista
Bento Gonçalves
A tempestade causou desmoronamentos em encostas de Bento Gonçalves, queda de árvores, rompimento de tubulação e alagamentos. Além dos bairros, os distritos de Faria Lemos, Tuiuty, Vale dos Vinhedos e São Pedro também foram atingidos. Bento Gonçalves registrou também queda de granizo.
Flores da Cunha
Flores da Cunha estima uma perda de R$ 70 milhões na agricultura. Conforme dados coletados pela Secretaria de Agricultura, Emater e Sindicato dos Trabalhadores Agricultores Familiares de Flores da Cunha e Nova Pádua, mais de 5 mil hectares de área produtiva foram atingidos, com uma estimativa média de 30% de perdas. Várias culturas tiveram estragos, principalmente: uva, pêssego, ameixa, caqui, cebola e alho. Estufas, galpões e aviários, estradas de produção e abastecimento de água das localidades também foram comprometidos.
Além das perdas na safra, mais de 550 famílias foram atingidas no município e tiveram problemas com danos em telhados. Os estragados atingiram também o abastecimento de energia elétrica. Quinze postes de luz foram danificados e 30 eventos de falta de energia, registrados. Já a Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan) informa que seis estações de bombeamento foram comprometidas pela falta de energia e/ou rompimento de adutoras. Na área da educação, duas escolas, sendo a 1° de Maio e Irmã Tarcísia, foram as mais atingidas pelo temporal.
Garibaldi
Em Garibaldi, segundo a administração municipal, foram registrados deslizamentos de terra, inundações de imóveis, interrupção de estradas, danificação da pavimentação de vias urbanas e rurais, entupimento de bueiros e danificação de plantações. Além disso, foram causados danos na rede elétrica, com a queda de diversos postes e rompimento de fios de energia, além de problemas no abastecimento de água, que perduram até o momento.
Santa Tereza
Desta vez a cidade não teve vítimas fatais como na enchente de 4 de setembro, quando duas pessoas morreram após serem arrastadas pelas águas do rio. Contudo, em meio à reconstrução, os moradores de Santa Tereza vivenciam novos prejuízos após segunda cheia do Rio Taquari.
Além dos prejuízos financeiros, da suspensão de aulas e da quebra na safra da uva, um pouco história de Santa Tereza também foi levada pela força da água de duas enchentes registradas no município em menos de 80 dias. Na primeira, no início de setembro, quatro casas tombadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) foram destruídas. A ocorrência de uma nova tempestade neste fim de semana, que dessa vez fez subir o nível do Arroio Barra Mansa, destruiu a ponte centenária idealizada por Olympio Valduga, em 1917.
São Marcos
Conforme levantamento da Emater e da Secretária de Agricultura de São Marcos, o prejuízo estimado é de R$ 14,9 milhões, sendo que a cultura com maior perda foi a uva, com cerca de R$9,6 milhões. Esses dados foram inseridos pela Defesa Civil em sistema nacional e o município aguarda homologação do Decreto Emergencial nº 3.954 pelo Estado e pelo Governo Federal.
O laudo aponta perdas em plantações em nove culturas diferentes, sendo que 45 aviários também tiveram danos na cobertura devido ao granizo. Conforme o levantamento, há perdas nas localidades de São Roque, Pedras Brancas , São Jacó, Santo Henrique, Zambicari e Marechal Deodoro da Fonseca.
O levantamento de danos públicos apresenta um prejuízo estimado em R$78 mil. De acordo com informações da prefeitura, o prédio do Centro Administrativo e das escolas Amor Perfeito, Ruy Henrique Nicoletti e Francisco Doncatto precisam de reparos no telhado. As escolas foram provisoriamente cobertas com lona, sendo que a administração municipal já iniciou processo de aquisição de mais lonas e também de telhas para reparos.
Procedimento para decretar emergência
- O município deve registrar o desastre no S2iD e preencher, nesse mesmo sistema, o Formulário de Informações do Desastre (FIDE). Segundo o Estado deve constar as informações a respeito do evento adverso que atingiu o território, como danos humanos e danos materiais em infraestrutura, por exemplo. Em seguida, a solicitação passa por análise técnica.
- Havendo o reconhecimento, o governo federal libera recursos para ações de resposta e recuperação. As ações de resposta compreendem socorro, assistência às vítimas e restabelecimento de serviços essenciais. São medidas emergenciais que objetivam o atendimento à população. As ações de recuperação consistem na reconstrução das áreas destruídas.
Municípios que decretaram emergência no Rio Grande do Sul (de 15/11 às 12h de 24/11)
- Boa Vista do Sul
- Caxias do Sul
- Cotiporã
- Gramado
- Nova Pádua
- Nova Petrópolis
- Nova Roma do Sul