Ainda calculando os impactos após a queda da ponte que encurtava a distância aos principais municípios da Serra, Nova Roma do Sul agora soma as perdas na agricultura e na pecuária, as principais fontes da economia local, após a chuva forte e o granizo da última semana. Um levantamento feito pela Emater, entre 12 e 18 de novembro, aponta que o prejuízo chega a R$ 10,7 milhões — sendo R$ 6,3 milhões apenas no cultivo da uva.
Na propriedade da família da agricultora e enóloga Daiane Kloss, 31 anos, 70% dos oito hectares de uva niágara branca e rosa foram perdidos. As frutas seriam colhidas em janeiro para a produção de vinho e suco de uva na vinícola da família. O cenário é desolador: os pequenos cachos de uva em desenvolvimento no parreiral ficaram machucados com a força do granizo. Outra parte caiu e está no chão. Perdas que chegam a ocasionar um clarão em meio ao parreiral coberto de folhas.
— A gente vai tentar ajeitar, fazer com que ele (grão) cicatrize, para não afetar o restante da fruta. Mas a parreira, o caule, estão machucados e isso tem impacto nas safras dos próximos dois ou três anos. Vai demorar muito tempo para se recuperar. É uma pena porque a uva estava se desenvolvendo bem. Estamos passando um tratamento para minimizar — afirma.
Além de ter produção própria da fruta, Daiane também compra uva de outros produtores para a fabricação de 200 mil litros de suco e 500 mil litros de vinhos, que é a média de produção da vinícola da família. Entretanto, como outros agricultores da cidade estão enfrentando os mesmos problemas e perderam as suas produções, outras alternativas terão que ser avaliadas.
— Dependo muito dos outros produtores. Compramos cerca de 80% para a fabricação do suco e do vinho. Vamos precisar encontrar quem forneça a uva, mas que seja de qualidade, para que a gente mantenha o nível daquilo que levamos para o consumidor. Vamos procurar por Antônio Prado, municípios próximos, já que as estradas também não permitem longas distâncias — explica ela, que, mesmo diante do desafio, é grata pela chuva e pelo vento não terem provocado danos maiores na vinícola.
Além da uva, a cidade teve perdas na produção de milho, cebola, alho, pêssego, além da criação de perus, frangos, resfriamento do leite e avarias em galpões, aviários, entre outras estruturas. Parte dos prejuízos também foram provocados porque estradas e pontos de acesso foram danificados, levando a queda de postes, provocando a falta de energia elétrica e de água.
Para o prefeito Douglas Pasuch (PP), grande parte das perdas também foram provocadas pela interrupção da estrada municipal entre a cidade e Nova Pádua, bloqueada desde sábado (18), por conta do deslizamento de terra. Considerada um dos principais acessos às demais cidades da região, é por ela que os motoristas acessam a balsa sobre o Rio das Antas.
No momento, para sair ou chegar a Nova Roma do Sul, há apenas um acesso: a RS-448, por Antônio Prado. O trecho também passa por obras, o que torna o tempo de distância até Caxias do Sul, por exemplo, em duas horas. Desde setembro, a cidade está sem a ponte que ligava o município até Farroupilha (leia mais abaixo).
— Estamos tentando abrir, de forma precária, o acesso até a balsa. É um caminho provisório, um carreiro. Estamos trabalhando todos os dias e penso conseguir abrir a estrada, tirar toda a terra que desceu, amanhã (hoje) no fim da tarde. Decretamos mais uma vez situação de emergência porque os prejuízos estão muito grandes. O que já estava ruim, ficou ainda pior — desabafou, referindo-se ao temporal de setembro e de agora.
Era também pela balsa que os estudantes da cidade estavam se deslocando para Caxias do Sul após a queda da ponte entre Nova Roma do Sul e Farroupilha. Agora, o transporte voltou a ser realizado por Antônio Prado.
Município contratou serviços de saúde em Antônio Prado
Para atender a saúde das pessoas, a prefeitura de Nova Roma do Sul contratou serviços de baixa e média complexidade no Hospital São José, em Antônio Prado. A instituição surgiu como opção, já que os atendimentos antes eram realizados no Hospital São Carlos, em Farroupilha, trajeto que ficou inviável depois da queda da ponte no Rio das Antas.
Agora, a distância encurtou, mas nem todos os serviços podem ser feitos na instituição de saúde vizinha.
— Tivemos que levar uma paciente para o Hospital São Pedro, em Garibaldi, nessa semana, que é uma viagem ainda maior. Levamos até Antônio Prado, que não tinha como atender devido à complexidade. A ambulância saiu às 16h30min e retornou às 22h. Nesse período todo a cidade ficou desassistida, sem ambulância. Bento e Garibaldi ficou muito mais difícil chegar — comenta o secretário de Saúde de Nova Roma do Sul, Roberto Panazzolo.
Segundo ele, no mês de outubro, 10 moradores foram encaminhados para atendimento em outras instituições.
— Estamos pagando pelo serviço, sem contar o custo com combustível, que subiu de 20% a 30% desde que passamos a percorrer mais quilômetros para chegar aos locais — afirmou.
Nova ponte começa a ser montada
Em meio a tantas notícias negativas, o prefeito Douglas Pasuch comemorou o início da montagem da ponte provisória, que ligará novamente Nova Roma do Sul e Farroupilha. As peças de aço chegaram na cidade na última quarta-feira (15) e estão sendo levadas até a divisa entre os dois municípios. O acesso ao local está restrito e apenas funcionários podem entrar.
No local, uma espécie de canteiro de obras se formou, com equipes trabalhando na montagem das peças. A organização da estrutura começará no chão. Quando estiver pronta, a ponte será içada em etapas e colocada no lugar da antiga. A previsão inicial de conclusão é entre o fim de janeiro e o início de fevereiro de 2024.
A intenção é que a obra se torne um ponto turístico no futuro, quando a ponte definitiva, a ser construída pelo governo do Estado, for concluída. Um dos principais objetivos da nova ponte era o escoamento da safra da uva, a partir do fim de janeiro, atividade comprometida com as chuvas dos últimos dias.
Tem quem observa diariamente o andamento da obra. O casal Jandira e Claudino Bin são donos de uma lancheria localizada na divisa de Nova Roma do Sul com Farroupilha, bem próximo da ponte.
— Queremos muito a vida normal, como era antes. Não chega fornecedor, não chega ninguém. Abrimos as portas por costume, porque moramos aqui — conta Claudino.
Prejuízos
O impacto financeiro das perdas na agricultura e pecuária na última semana
- Uva - R$ 6,3 milhões
- Milho (silagem e grão) - R$ 153 mil
- Cebola - R$ 1,7 milhão
- Citros - R$ 13,6 mil
- Alho - R$ 648 mil
- Pêssego - R$ 6,8 mil
- Criação de perus e frangos - R$ 210 mil
- Leite - R$ 38 mil
- Galpões, aviários e outras estruturas - R$ 742 mil
Fonte: Emater