Além dos prejuízos financeiros, da suspensão de aulas e da quebra na safra da uva, é também um pouco história de Santa Tereza que é levada pela força da água de duas enchentes registradas no município em menos de 80 dias. Na primeira, no início de setembro, quatro casas tombadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) foram destruídas. A ocorrência de uma nova tempestade neste fim de semana, que dessa vez fez subir o nível do Arroio Barra Mansa, destruiu a ponte centenária idealizada por Olympio Valduga, em 1917.
Com plataforma de madeira e sustentada por cabos de aço, a ponte pênsil foi ampliada logo após a sua construção para permitir a passagem de cavalos que carregavam grãos em direção ao Moinho Valduga, também destruído na madrugada do último sábado (18). Na manhã desta segunda-feira, o neto do idealizador das estruturas, Derly Valduga, 75 anos, lamentava a perda de um dos ícones da cidade colonizada por imigrantes italianos. Da representatividade da sua utilização no século passado, ao uso para pescarias nos tempos atuais, a ponte pênsil, localizada na entrada de Santa Tereza, fará falta em especial para a família Valduga:
— Tinha um açude grande lá em cima e um canal que corria até aqui e tocava o moinho. As pessoas chegavam a cavalo para moer milho e trigo. Agora o rio levou embora, vai ser uma lástima, tu visse a pescada que se fazia aqui, quando o rio crescia eu pegava muito judiá. Isso aqui era uma beleza — contou Valduga.
O aposentado, morador de uma residência em frente à ponte, perdeu a cozinha e o muro de casa na enchente de setembro. Neste final de semana, a nova barreira que construiu resistiu à força da água, mas não impediu que o primeiro pavimento ficasse alagado.
Para atravessar o arroio, desde a queda da ponte, a comunidade conta agora com apenas uma opção, a ponte de ferro localizada próxima ao salão paroquial e que resistiu à duas cheias causadas pela chuva.
Danos ao patrimônio histórico
De acordo com o superintendente do Iphan no Rio Grande do Sul, Rafael dos Passos, o moinho, que havia sido parcialmente destruído na enchente de setembro, e a ponte pênsil compõe a lista de bens inventariados isoladamente no Núcleo Histórico de Santa Tereza:
— Por parte do Iphan, ainda carece de estudos para avaliar eventual construção de nova ponte no local. Precisamos fazer uma avaliação, que ainda não tem data para acontecer, que deve levar em conta a atual demanda da população pela ponte e os critérios de intervenção no patrimônio cultural.
Na tarde desta segunda-feira (20) o governador Eduardo Leite esteve na cidade e acompanhado da prefeita de Santa Tereza, Gisele Caumo, visitou o local onde estava instaladas as estruturas. Na visita, acompanhada pelo chefe da Defesa Civil, coronel Luciano Chaves Boeira, o governador orientou que prefeitos de cidades atingidas busquem recursos emergenciais a partir da instalação de decretos de emergência.
Santa Tereza suspendeu as aulas nesta semana devido às más condições das estradas que ligam o interior ao centro da cidade, onde estão localizada as duas escolas do município. Nesta segunda-feira a maioria dos acessos já haviam sido liberados de forma parcial.