Os sacos de cimento ao lado das caixas de piso indicavam que a Cooperativa Santa Tereza realizada obras de reconstrução desde a enchente que atingiu a cidade, em setembro. Neste domingo (19), os itens estavam cobertos pelo resto da lama deixado pela nova enchente que cobriu o município, no sábado (18).
De acordo com o presidente da cooperativa, Valtemor Gentilini, 66 anos, os prejuízos estimados na enchente de setembro foi de cerca de R$ 4 milhões. Na ocasião, a estrutura foi totalmente danificada e parte chegou a ser levada pela água.
Nas paredes do local, é possível ver a marca deixada pela enchente desse final de semana, mostrando a altura que a água chegou. O nível da água foi dois metros mais baixo que o da enchente em setembro. Há cerca de duas semanas os vidros das janelas, levados na última enchente, foram recolocados e, felizmente, desta vez resistiram.
— É uma situação de desolação. Nosso trabalho está todo aqui, estávamos reconstruindo tudo e quando pensamos que já podíamos recomeçar, vem essa nova enchente. Nós não imaginávamos que teria outra, nem nos nossos piores pesadelos, é uma tristeza ver de novo essa situação — lamenta o presidente.
Freezers da cooperativa foram amarrados para que não fossem levados pela água mais uma vez. O prejuízo da nova enchente, apesar de menor, é contabilizado com o sentimento de impotência e tristeza pela família.
— É muito triste. É desolador! A palavra é desolador. Conseguimos tirar algumas coisas mais importantes e saímos para não sermos levados pela água. Muitas coisas nossas foram levadas e estamos encontrando hoje em terrenos de outros moradores. Esperávamos que pudesse entrar um pouco de água, mas não que fosse chegar nessa altura. Um enchente atrás da outra é desolador — lamenta a filha de Valtemor, Michele Gentilini.
"Perdi tudo, pela segunda vez"
O mesmo sentimento desolador é vivenciado pelo morador Celso Nelson Casagrande, 62. Na pequena residência de madeira em cor verde, também na região central de Santa Tereza, Casagrande havia comprado móveis novos depois de perder tudo na enchente do mês de setembro.
— Perdi tudo de novo. Olha lá para a minha casa (aponta o morador para a residência), nem dá para chegar porque a água não baixou ainda. Eu tinha perdido todos os meus móveis naquela enchente maior, mas consegui recuperar, achei que pudesse recomeçar e que ia dar para seguir a vida, mas agora não sei. Perdi tudo, pela segunda vez. Não sei mais se continuo morando aqui — lamenta Casagrande.
Com o olhar triste pela segunda perda, diz não saber como encontrar forças e esperança para recomeçar novamente, mas afirma que vai tentar.
Contabilizando estragos
Conforme a prefeita de Santa Tereza, Gisele Caumo, o município ainda está em processo de contabilizar os estragos. Desta vez não houveram vítimas fatais como na enchente de setembro, quando duas pessoas morreram na cidade. Para que as famílias tenham suporte, o pavilhão da igreja está aberto, oferecendo refeições aos moradores prejudicados pelas cheias.
A previsão para o retorno da energia elétrica, que está em falta desde sexta-feira (17), é para a domingo a tarde, quando caminhões da RGE poderão acessar a cidade. Quem tenta chegar em Santa Tereza deve encontrar, além de máquinas e moradores trabalhando, pedras caídas, deslizamentos em diferentes pontos e pequenas nascentes de água, que se formaram nos morros e caem diretamente nas estradas. Por isso, os motoristas devem ter paciência e atenção no trajeto.