Apreciado rotineiramente, o chocolate ganha ainda mais adeptos nesta época do ano. É hora de preparar o estoque para a Páscoa. Aliás, as gôndolas de supermercados e lojas especializadas já estão repletas dos tradicionais ovos e coelhinhos de chocolate. O momento também é de acelerar a produção. É o que tem ocorrido nas fábricas da Serra, porque a aposta é que, depois de dois anos em que o setor foi prejudicado pela pandemia, ocorra um crescimento nas vendas. Há quem fale até que a data pode ser a melhor da história para o setor.
A região tem um polo produtor de chocolate. Gramado possui, conforme levantamento da Secretaria Municipal da Fazenda repassado à Associação da Indústria e Comércio de Chocolates Caseiros de Gramado (Achoco), 28 fabricantes. Dessas, oito estão associadas à entidade. O diretor executivo da Achoco, João Teixeira, explica que as projeções mostram vendas promissoras na retomada desta temporada:
— O setor vem se preparando muito para a Páscoa deste ano, pois, se tudo ocorrer bem, teremos um ano produtivo, para ajudar no equilíbrio das contas, tendo em vista que viemos de duas páscoas "canceladas": a de 2020, quando foi perdida em torno de 90% devido à pandemia da covid-19, pegando a todos de surpresa, e em 2021, quando tudo estava melhorando, com bom início de ano, mas veio a segunda onda da covid-19 e a cidade fechou, com perdas estimadas em 70%. Foram dois anos difíceis exigindo diversas adaptações — relembra.
Para se ter uma ideia, a produção de chocolates de Páscoa no município representa em torno de 30% do total do ano. A previsão é de que 500 toneladas de chocolates saiam das fábricas gramadenses. A projeção para 2022 é obter um crescimento nas vendas em torno de 20% na comparação com 2019, o último ano antes da pandemia. Esse número otimista, explica Teixeira, está relacionado ao comportamento das empresas de Gramado, que têm buscado parcerias, abertura e expansão de lojas e franquias.
DIFICULDADES DO SETOR
Porém, o setor também enfrenta algumas dificuldades. Uma delas é o aumento no preço dos insumos. Conforme o presidente da Achoco, houve incremento de 30% no custo da matéria-prima nos últimos meses
— Aumentos estes que não conseguimos repassar no produto final, para não ter impacto ainda mais negativo nas vendas, gerando uma diminuição drástica na margem líquida do produto.
Esta Páscoa será excelente em todos os aspectos
JOÃO TEIXEIRA
Diretor executivo da Achoco
Outro problema enfrentado é a contratação de mão de obra para a produção e venda de chocolate. O setor emprega cerca de três mil pessoas em Gramado. A estimativa é de que a indústria e o comércio precisem de um incremento de 20% no quadro de funcionários em março e abril. Mas hoje existe uma defasagem de cerca de 100 funcionários para contratação temporária. Isso mesmo que a intenção de grande parte dos empregadores seja aproveitar esta época para o treinamento dos colaboradores para uma possível efetivação futura.
Apesar disso, o cenário também mostra um aquecimento do setor. E, mesmo com os aspectos mais complicados, o otimismo predomina para os fabricantes de chocolate de Gramado, que terá programação especial de Páscoa de 25 de março a 17 de abril:
— Esta Páscoa será excelente em todos os aspectos, com destaque à decoração e atrações gratuitas, que atraem um público extra para curtir o evento e, na grande maioria, aproveitam para saborear do melhor chocolate do Brasil, produtos da Capital Nacional do Chocolate Artesanal — afirma Teixeira.
Experiência com novos sabores
O tradicional chocolate artesanal de Gramado está atrelado à marca Prawer, devido ao pioneirismo da empresa na cidade. Com produtos premium, fabrica de 800 a mil toneladas de chocolate por dia, que são vendidas para todo o país por meio de lojas próprias, licenciadas ou parceiras, além do e-commerce. Para a Páscoa deste ano, o aumento na produção é de 30% na comparação com 2020 e de 15% em relação a 2021.
A gerente comercial da Prawer, Jéssica Sachet, conta que uma percepção é de que os clientes têm buscado experimentar produtos que trazem novos sabores. Para essa Páscoa, a Prawer traz dois carros-chefes. Um deles é o ovo trufado Noir com casquinha de chocolate dark 73% cacau, recheado com uma ganache cremosa de cacau em pó e decorado com nibs de cacau, inspirado em um dos bombons mais consumidos da empresa. O outro é o ovo trufado vanille e blueberry, com metade caramélisé recheado com ganache de vanilla e metade casquinha de chocolate ao leite recheado com caramélisé e blueberry.
— O cliente vem comprar o tradicional, mas leva um diferente para provar. Então, o cliente sempre sai com mais de um produto — relata Jéssica.
Na Prawer, a experiência não passa só pelo chocolate em si. O processo de elaboração das embalagens, por exemplo, é todo manual. Duas opções de ovos vêm dentro de panos desenhados um a um por uma artista, por exemplo. Quem visitar a Prawer em Gramado também tem à disposição produtos a granel (inclusive, alguns desenvolvidos apenas para a Páscoa) e uma variação de sabores e formatos de chocolates embalados. No total, são 267 itens fabricados, com inspiração principalmente nos chocolates franceses e suíços.
— A gente vende bem na Páscoa, mas continua vendendo bem a linha tradicional. Então, metade das vendas é da linha Páscoa e outra metade da linha normal — explica a gerente comercial.
No total, a empresa emprega 170 funcionários. Esse número não chega a ser alterado para a Páscoa, porque a Prawer trabalha com programação que prevê o aumento da procura nesta época do ano.
Esperança pela melhor data da história
Fundada em 1976, uma das marcas mais conhecidas quando se fala em chocolate de Gramado espera ter a melhor Páscoa da história. É a Lugano, que já distribuiu 56 toneladas de chocolate para franquias e 11 toneladas para as lojas próprias. Com a produção de Páscoa 96% maior que a do ano passado encerrada, a expectativa agora está concentrada nas vendas:
— A gente tem uma fé muito grande de que vai ser uma Páscoa ímpar. A gente prevê inclusive que tem chance de ser a melhor Páscoa da história, devido à retomada toda que vem ocorrendo nos últimos meses — detalha o diretor de Marketing e Operação da Lugano, Jonas Esteves.
As duas principais datas para a empresa são a Páscoa e o Natal, que juntas concentram 60% das vendas do ano. Esteves menciona que, desde a metade do ano passado, o processo de retomada da comercialização permitiu tanto o aumento nas vendas de chocolate quanto a expansão dos negócios. Para se ter uma ideia, hoje são 250 funcionários que operam a fábrica em todos os turnos em todos os dias da semana _ no ano passado, eram 90 empregados.
Para essa Páscoa, a principal aposta da Lugano é o ovo trufado com chocolate cookie & cream. Conforme Esteves, a inspiração foi buscada em tendências mundiais, já que há mais de dois anos a empresa estuda o mercado para entender quais são os produtos que serão apostas do setor. Isso sem abrir mão da qualidade atrelada à Lugano, que usa cacau brasileiro certificado (a maior parte da Região Amazônica, onde é plantado em um sistema agroflorestal) e faz um processo próprio de refino do açúcar, para melhorar a experiência do consumidor.
— É esse cuidado premium que a gente está dando para um chocolate que está ganhando todas as cidades do país.
OS NÚMEROS EM GRAMADO
- 20% é a expectativa de crescimento nas vendas de 2022 em comparação com 2019, o último ano antes da pandemia.
- 30% é quanto representa a produção de chocolates para a Páscoa em relação ao ano todo.
- 500 toneladas é a quantidade de chocolate que deve ser produzido no município nesta temporada de Páscoa.
- 28 é o número de empresas cadastradas como fabricantes de chocolate no município.
- 20% é o número que representa a expectativa de aumento no número de funcionários do setor em março e abril.
- 100 é a quantidade de vagas de emprego abertas e não preenchidas.
Fonte: Achoco
"A gente está esperando a melhor Páscoa"
A Chocolataria Gramado acaba de abrir uma nova loja no centro da cidade que dá nome à empresa. Inaugurou a unidade na sexta-feira (11). Essa abertura próximo à Páscoa demonstra as expectativas otimistas para este ano. A empresa especializada em presentes, que vende para todo o país em lojas próprias ou parceiras, está com a produção a mil. Vai fabricar 60 toneladas de chocolate para as celebrações pascais deste ano.
Esse número representa 80% a mais de produção do que em 2020, quando o temor quanto à pandemia fez o processo ser desacelerado. O diretor Fabiano Contini conta que, no ano passado, os pedidos de última hora não foram atendidos, porque os riscos fizeram a empresa se retrair.
Mas, agora, o cenário é diferente. Com o avanço da vacinação e a consequente redução do impacto da pandemia nos negócios, a perspectiva é tão boa que a Chocolataria Gramado tentou contratar 80 funcionários temporários para atuar na indústria ou no comércio e não conseguiu preencher todas as vagas _ o quadro hoje está em 110 empregados.
— A gente está esperando a melhor Páscoa dos últimos anos. Já tivemos um Natal (em 2021) excelente. Então, a expectativa é muito boa — projeta Contini.
As apostas para este ano, diz ele, são os ovos trufados e os drageados (com drágeas de chocolate no lado de fora da casca). A produção desses e de outros itens, como bombons e coelhinhos de chocolate, segue pelas próximas semanas no ritmo da expectativa de uma Páscoa recheada de boas notícias.
— O consumo de chocolate aumentou bastante. E existem pesquisas que mostram que o chocolate faz bem à saúde. O nosso não tem gordura hidrogenada, por exemplo. O povo está buscando algo de qualidade — comenta o diretor.
Primeira vez embalada em boas expectativas
Instalada em uma sala aérea no centro de Caxias do Sul, a Amendoeira Chocolaterie é um espaço em que o chocolate predomina do cheiro à decoração. Essa vai ser a primeira Páscoa da empresa, que usa matéria-prima totalmente importada da Bélgica. Aberta em agosto do ano passado, a Amendoeira é resultado da paixão de Liliane Gräff Michelon pelo produto.
Em 2015, ela foi a São Paulo para fazer cursos com Diego Lozano, chef reconhecido por representar o Brasil em competições internacionais. Quando voltou para a Serra, começou a fazer uma série de doces para vender. Mas, no final daquele ano, decidiu voltar para o setor bancário, em que já tinha experiência. Foi em outubro de 2020 que o amor pelo chocolate prevaleceu e ela decidiu se dedicar a formular o próprio negócio. A chocolatier colocou o que chama de empresa dos sonhos para funcionar plenamente em agosto do ano passado. Desde então, já vendeu meia tonelada de chocolate. E nessa segunda-feira (14), lança o primeiro catálogo de Páscoa da Amendoeira.
— Acredito que só na Páscoa a gente vai comercializar esse montante de meia tonelada — planeja.
A empresa tem, além do pequeno varejo, um motoboy que faz entregas e um braço forte no mundo corporativo. Aliás, embora esse seja a primeira Páscoa de produção da Chocolaterie, não é a primeira de Lilian, que em outras épocas já era bastante demandada pelo sabor que entrega. O produto desenvolvido por ela é caracterizado como gourmet e, embora ainda feito em pequena escala, deve ter a produção aumentada nos próximos meses, porque Lilian planeja abrir uma fábrica maior, sem abrir mão da qualidade atual.
Hoje, Lilian trabalha com duas funcionárias fixas e outros quatro em esquema de sobreaviso. Das mãos deles, saem o chocolate produzido artesanalmente. Para a Páscoa, são seis ovos desenvolvidos. O carro-chefe é o ovo Diamond, nome que é usado para a linha.
— Tudo remete a uma joia. Quando a pessoa abre, é quase um porta-joias. É como se a pessoa estivesse recebendo uma relíquia, uma joia, algo de muito valor. É o significado do ovo ser algo bastante forte.