Florisbela Varela, 53 anos, teve o desafio de ao longo da vida cuidar de familiares, como os próprios pais e sogra, em idade avançada. Formada em Ciências Contábeis, a necessidade de prestar serviços a pessoas próximas a despertou para uma nova profissão. Foi assim que ela decidiu se tornar cuidadora de idosos. Embora o mercado informal seja comum, Flor, como é chamada, resolveu buscar uma forma de se sentir mais segura para oferecer este trabalho. Então, em 2017 fez um curso voltado à área na Universidade de Caxias do Sul (UCS).
— Me aprimorou em algumas coisas e me deu a segurança para dizer que é isso que eu quero, é certo como estou agindo, é assim mesmo. Trouxe muitas confirmações — conta a cuidadora.
Flor já trabalhou em hospitais, oferecendo serviços para famílias que não podem ficar o tempo todo com os pacientes internados. Há um ano e três meses, cuida de uma senhora de 98 anos, em Caxias do Sul.
— Hoje eu trabalho quatro horas por dia nessa residência. Todo o meu trabalho é diretamente com ela. É o banho, é cuidar da aparência, é a higiene, é ver se está tudo bem com ela. Eu fico as quatro horas ao lado dela.
Com o envelhecimento da população e famílias menos numerosas, a tendência é de que esses profissionais sejam cada vez mais demandados. Além da atuação em hospitais e em residências, também trabalham em casas geriátricas. É, portanto, um mercado em crescimento.
Uma das situações que demonstram isso é a decisão da prefeitura de Farroupilha de oferecer um curso gratuito de 80 horas para a formação de cuidadores de idosos. Com início na próxima segunda-feira (14), as aulas vão dar um treinamento básico sobre quais as necessidades dos idosos desde o aspecto da convivência até aspectos que garantem a segurança deles. Foram 15 vagas destinadas a moradores de Farroupilha, depois da prefeitura notar uma procura por esses profissionais:
— Nós identificamos uma procura bastante grande de famílias que estavam buscando profissionais cuidadores de idosos. Foi identificado com familiares buscando na Secretaria de Assistência Social de famílias buscando cuidadores — conta o secretário de Assistência Social, Jorge Censi.
Na região, uma formação tradicional nesta área é a oferecida pela Universidade de Caxias do Sul (UCS). A próxima edição, prevista para iniciar em abril, será a de número 14. O curso passou por uma reformulação para atender as especificações de um projeto de lei que regulamenta a profissão de cuidador de idosos. Apesar do projeto aprovado no Congresso ter sido vetado pelo presidente Jair Bolsonaro, a UCS decidiu se antecipar e oferecer os requisitos estabelecidos.
A professora Verônica Bohm, que coordena o programa UCS Sênior, explica que o currículo inclui o manejo de medicamentos, cuidados com banho e higiene, além de oferecer noções sobre o aspecto psicológico e principais doenças relacionadas à terceira idade. Ela destaca que esse conhecimento é relevante diante de um cenário em que há incremento na procura por profissionais que são capazes de cuidar de idosos, mas que ainda tem uma inserção grande de pessoas sem capacitação para os cuidados:
— Como (a profissão) não está regulamentado ainda, a forma como as pessoas acabam contratando às vezes é alguém que vem para cuidar do idoso e da casa. Só que a demanda é muito grande do trabalho. E cuidar de uma pessoa acamada ou que demanda de uma atenção maior é extremamente desgastante e precisa de conhecimento. Não basta só boa vontade.