A inflação que sacode os preços nos supermercados altera também os valores dos produtos vendidos para a Páscoa deste ano. Faltando pouco menos de 40 dias para o feriado, a movimentação para as vendas de ovos de chocolate se inicia com a maior expectativa dos últimos anos, já que as vendas de 2020 e 2021 foram enfraquecidas pelas restrições sanitárias e consequências econômicas da pandemia .
Nas Páscoas anteriores, os picos de contágio da covid-19 atingiram em cheio o setor, que foi obrigado a fechar lojas de rua e em shoppings centers devido as medidas tomadas para frear o avanço da doença.
Revendedor autorizado de uma chocolataria de Gramado, o micro empresário Julio Cesar Rios Pereira, 48, vai instalar pela primeira vez, desde o início da pandemia, as nove lojas que normalmente abria nesta época do ano no estado.
— Temos duas lojas em Caxias e uma em Porto Alegre que são fixas, para essa Páscoa temos a expectativa de boas vendas e investimos pesado para isso. — ressalta
Para que o investimento tenha retorno, o setor cruza os dedos e espera que o cliente não se assuste com os cerca de 15% de aumento em relação ao ano passado. De acordo com Pereira, matérias primas como o cacau e o plástico, usado nas embalagens, tiveram seus preços reajustados e precisaram ser repassados ao consumidor.
— Muito cacau vem da África, e além de ter o preço determinado por dólar, por ser uma commodity, o valor do transporte marítimo contribuiu para encarecer a compra. A embalagem é importada da Índia e também deixou o produto final mais caro.
Nos supermercados as vendas ainda são discretas, e os representantes das marcas começam a distribuir os ovos nas prateleiras estrategicamente montados pelas lojas a partir desta e da outra semana. Tradicionalmente visando o público infantil, produtos que contêm brindes e brinquedos podem custar até R$59,90 mesmo que ofereçam apenas 100g de chocolate.
Se a oferta é diversificada, os preços nem tanto. Nos locais onde já são vendidos, percebe-se que há três ou quatro valores, partindo de R$29,90 o mais barato até R$70,00 o mais caro, dependendo da marca e a gramatura do ovo de chocolate.
Segundo a Associação Gaúcha de Supermercados (AGAS) produtos que presenteiam com personagens infantis da moda chegaram a ter altas de 40% em relação ao ano passado. Isso porque, segundo a AGAS, os royalties pagos para conter o brinquedo dentro do ovo de chocolate custam cada vez mais. Para a associação, o aumento de cerca de 5% em todos os produtos, somados aos reajustes maiores de marcas específicas irão representar uma Páscoa 15% mais cara para o bolso do consumidor.
Na rede de supermercados Andreazza, os ovos de chocolate começam a figurar nos corredores na próxima segunda-feira (7), e de acordo com o diretor comercial Marcos Boeira, o aumento é significativo devido ao impacto nos reajustes do chocolate, do cacau, do açúcar e do leite, além da matéria prima das embalagens.
Para se manter entre os melhores do ano como historicamente é, o mês que abriga a Páscoa será de negociações com fornecedores. Dessa forma, Boeira acredita que abril possa acompanhar maio e dezembro, e resultar em um aumento de cerca de 8% nas vendas de 2022, em relação ao ano anterior.
—A Páscoa deste ano está em meio a um cenário econômico bem difícil, o que de alguma forma vem se mantendo desde 2020. Mas, adotando as medidas certas, esperamos crescer em relação ao ano passado - explica Boeira.
A solução para gastar menos ao presentear na data é antiga, as caixas de bombons ganharam espaço e destaque entre as marcas na Páscoa e podem ser adquiridas por quase um terço do preço do ovo mais barato. É possível encontrá-las na promoção numa média de R$10,90 cada.
E se a Páscoa não é só feita de chocolate, o diretor comercial dá dicas de produtos nacionais que ganharão destaque no próximo feriado.
— Uma grande aposta são os produtos nacionais pois, com o dólar alto, os importados acabam ficando mais caros. Na linha de peixe vamos apostar firme no bacalhau, camarão, salmão e tilápia como principal proteína para a data. Sabemos que em datas especiais, o consumidor está mais propenso a fazer compras e experimentar novidades —
Nova Páscoa
Para o presidente da Associação Gaúcha de Supermercados (AGAS), Antônio Cesa Longo, a Páscoa é um evento com volumes cada vez menores, pois a indústria tem trabalhado com redução na cota de compras.
—A produção está limitada, a indústria sabe os custos e sabe dos prejuízos caso não venda, então temos cada vez menos oferta das marcas tradicionais, os mercados não conseguem mais comprar grandes quantidades, explica.
Por isso, Longo alerta os consumidores a se adiantarem caso queiram comprar seus chocolates preferidos. No supermercado Apollo, do qual é proprietário, as vendas começaram ainda antes do carnaval.
—É preciso despertar o cliente, ele precisa ser estimulado até pra organizar seu orçamento, e essa antecipação já nos garantiu 3% das vendas totais programadas para esse período.
Diante das mudanças no setor, a AGAS recomenda que varejistas que pretendem ofertar uma diversidade maior de ovos de chocolate busquem novos fornecedores, pois segundo o presidente Longo, a indústria não aumentou sua produção.
—O diferencial serão as marcas locais que vão conseguir agregar as vendas, é preciso buscar fornecedores inéditos, pois quem ficar só com as marcas tradicionais terá uma Páscoa 20% menor, antecipou.