Há 70 anos, em 5 de julho de 1954, Caxias despedia-se de Elisa Venzon Eberle, esposa do industrialista Abramo Eberle. E tal como ocorrera em 13 de janeiro de 1945, quando morreu Abramo; e em 1941 e 1953, quando faleceram, respectivamente, os filhos Adélia e José Eberle (Bepin), o passamento de Elisa enlutou a cidade.
Matéria de capa do Pioneiro de 10 de julho de 1954 trouxe o seguinte texto, anunciando uma reportagem especial de duas páginas naquela edição:
“No dia 5 do corrente deixou de existir a veneranda senhora Elisa Venzon, esposa do saudoso fundador da Metalúrgica Abramo Eberle S.A. Sobre a vida dessa benemérita dama caxiense, o Pioneiro publica às páginas 9 e 4 uma ampla reportagem, como preito de homenagem a uma existência que constituiu um hino as mais belas virtudes de esposa e companheira de um dos homens que mais tem contribuído para o engrandecimento de nossa cidade. Elisa Venzon Eberle nasceu em 13 de maio de 1884 e deixou a prantear-lhe a morte os filhos Júlio João Eberle; Angelina, casada com o senhor Caetano Pettinelli; Rosália, casada com o senhor Aristides Peroni; Zaíra, casada com o senhor José Sassi; Marisa, casada com o doutor Walter Gewehr, e Lilia, casada com o senhor Wilton Lupo. Os últimos anos de vida de Elisa Eberle foram marcados por grandes sofrimentos morais, oriundos da morte de seu esposo Abramo Eberle e dos filhos Adélia e José”.
CASAMENTO EM 1901
A reportagem destacou também vários aspectos da trajetória de Elisa, a partir dos detalhes contidos no livro Abramo Já Tocou, de Álvaro Franco, lançado em 1943. Entre eles, o casamento, ocorrido em 26 de janeiro de 1901, quando Elisa contava 17 anos e Abramo, 21. Frisou ainda o fundamental auxílio da jovem nos primórdios da fábrica:
"Elisa passara a colaborar ativamente. Atendia aos serviço da casa, cuidava da parte da loja. Muitas vezes preparava a comida para o pessoal todo, inclusive alguns aprendizes, que recebiam alimento e hospedagem em troca de pequena colaboração. Não contente com isso, a esposa de Abramo ainda tomou sobre os ombros o encargo de consertar guarda-chuvas e sombrinhas. Entretanto, os negócios da funilaria e da fábrica de artefatos de cobre exigiam de Abramo prontas soluções, a fim de que a concorrência não lhe tolhesse a desejável expansão. Abramo necessitava obter novas colocações para seus produtos, e São Paulo acenava-lhe de Ionge. Precisava conquistar aquela praça. Expôs, então, à esposa os planos e obteve absoluta aprovação. Não somente aprovação, mas estímulo e aplauso”.
Discurso de Humberto Bassanesi
Após o velório no Palacete Eberle, na esquina das ruas Sinimbu e Borges de Medeiros, os atos de encomendação e sepultamento de Elisa ocorreram no Cemitério Público Municipal. Foi quando o senhor Humberto Bassanesi, um dos diretores da metalúrgica, proferiu o discurso de despedida. O texto também foi publicado no Pioneiro de 10 de julho de 1954.
Confira um trecho:
“A peregrinação que cessa neste túmulo foi um roteiro de virtudes e dedicação sem conta. Distanciam-se na memória os dias alegres, quando Caxias era pequena, e Elisa, em sua radiante juventude, unia a sua vida à do inolvidável Abramo Eberle. Ainda hoje, contam as pessoas mais idosas, como a viam trabalhar lado a lado ao marido nos misteres da velha funilaria, dedicando-se a pequenos consertos e ajudando Abramo nos assuntos de gerência. Elisa Eberle foi a companheira ideal. Sua personalidade irradiante dava a Abramo a sensação de segurança. Mãe de família numerosa, encontrava tempo para acompanhar e animar os vôos que o pensamento construtor do marido idealizava nos seus anseios de progresso. E quantas vezes Abramo haveria de dizer que foi Elisa a verdadeira heroína da metalúrgica. Agora repousam, no mesmo túmulo, lado a lado como estiveram em vida, essas duas criaturas que deram a Caxias o mais belo de seus monumentos. Lembramos neste momento, como derradeira homenagem, as palavras que lhe foram escritas quando a metalúrgica completou seu cinquentenário (1946), e que são tão atuais na hora presente.
À dona Elisa:
Estrela que iluminou todos os passos da metalúrgica. Guia espiritual do inesquecível Abramo, a reverente homenagem da coletividade que trabalha na casa feita - com o sacrifício e o gênio de teu esposo, com a tua Inspiração e o teu entusiasmo”.
NA IMPRENSA
Nas reproduções a seguir, a repercussão da morte de Elisa no jornal Pioneiro em 10 de julho de 1954.