Comprometido desde cedo com sua categoria profissional, o fotógrafo Mauro De Blanco (1923-2010) teve seu nome atrelado à fundação de dois importantes órgãos de classe: a Associação dos Fotógrafos Profissionais do Rio Grande do Sul e a Associação dos Fotógrafos Profissionais de Caxias do Sul, criada em 1961. O objetivo era claro: regulamentar o ofício e valorizar o trabalho de quem atuava por trás das câmeras.
Mas não foi só. Oito anos antes do aparecimento da associação por aqui, De Blanco também integrou o Foto-Cine Clube Caxiense, como diretor fotográfico. A entidade, que também reunia entusiastas da sétima arte, surgiu em 1º de setembro de 1953, conforme destacado pelo jornal Diário do Nordeste de 4 de setembro daquele ano, trazendo a cobertura da primeira reunião:
“No dia 1º de setembro corrente, na Biblioteca Pública Municipal, reuniu-se, numa demonstração de simpatia e de cordialidade, uma plêiade de fotógrafos amadores e profissionais e de elementos da sétima arte. Depois de uma cordial palestra, foi declarada aberta a sessão pelo sr. Oscar Boz, que atuava como presidente da comissão organizadora. Foi dada a palavra ao sr. Virgílio Zambenedetti que, num rápido esboço, teceu comentários relacionados com as finalidades do clube. A seguir, o sr. Ítalo Furlan procedeu a leitura do projeto e dos estatutos sociais”.
A reunião também serviu para ratificar objetivos que iam além dos limites caxienses:
“Os aficionados da arte fotográfica e cinematográfica de Caxias do Sul deliberaram congregar-se para a organização do seu clube, com o objetivo precípuo de se aperfeiçoarem na arte de bem filmar e fotografar, a fim de poderem concorrer nas exposições locais e do Estado, como também nas de caráter nacional e internacional. O Foto-Cine Clube Caxiense manterá um intercâmbio com os congêneres de todo o país e, sempre que se apresentar oportunidade, promoverá festivais, de caráter exclusivamente associativo”.
Confira abaixo a página com o texto original completo.
A primeira diretoria
O primeiro encontro oficial também serviu para eleger a diretoria do Foto-Cine Clube Caxiense. Conforme o texto de 1953, o advogado Renan Falcão de Azevedo foi indicado para ser o escrutinador, acabando “por chamar de "amigos da onça" todos os que votaram nele, mas, por vontade da maioria absoluta, teve de ceder”.
A apuração deu o seguinte resultado:
- Presidente: Clovis Pradel Pinheiro
- Vice-presidente: Virgílio Zambenedetti
- Conselho deliberativo: Roberto Torely, Renan Falcão de Azevedo, Mauro do Blanco, José H. Soares e Oscar Boz
- Conselho fiscal: Caetano Mancuso, Ítalo Furlan e Henrique Grossi
- Diretor de fotografia: Mauro de Blanco
- Diretor cinematográfico: Luiz A. Portella
- Diretor de propaganda e publicidade: Raimundo A. Vasques
- Secretário: Paulo Chiesa
- Tesoureiro: Walmor Baungartner
Mauro De Blanco: o fogo e a neve
Um ano antes do surgimento do Foto-Cine Clube Caxiense, em 1953, Mauro De Blanco já havia obtido reconhecimento no Brasil. Sua imagem mais famosa, “O Inferno de Dante”, recebeu o prêmio da melhor fotografia no concurso nacional da Revista “Aconteceu”, no Rio de Janeiro, em 1952.
Não foi para menos: De Blanco enquadrou a herma do poeta italiano em meio às chamas que atingiram a Ferragem Caxiense, em 23 de novembro de 1952 (foto abaixo). As labaredas contrastam com o cenário gelado de Caxias na década seguinte, quando De Blanco também eternizou de forma poética a cidade e o Parque dos Macaquinhos cobertos pela neve de agosto de 1965.
A saber: Mauro De Blanco foi colaborador dos jornais A Época, O Momento, Diário do Nordeste e Pioneiro, em Caxias; e dos periódicos Correio do Povo, Diário de Notícias e Folha da Tarde, de Porto Alegre. Também participou ativamente do Atelier de Teatro da Aliança Francesa (1958-1964), registrando ensaios, camarins e palco – e documentando com maestria uma época de efervescência cultural da cidade. Organizador do 1º Salão de Amadores da Arte Fotográfica de Caxias do Sul, em 1955, ele ainda conquistou prêmios em países como Índia, Japão e Finlândia.
Mauro De Blanco faleceu em 2010, aos 86 anos.
Oscar Boz e a paixão pelo cinema
Falecido em 2019, aos 99 anos, seu Oscar Boz foi um dos grandes incentivadores da criação do Foto-Cine Clube Caxiense, em 1953. Apaixonado pela sétima arte e cineasta amador nas horas vagas, ele havia registrado, um ano antes, as famosas Olimpíadas Caxienses de 1952 – um marco dos primórdios do audiovisual na cidade, assim como a apresentação dos acrobatas alemães na praça, em 1957.
Cinquenta anos depois, em 2003, seus registros caseiros, do cotidiano da família e dos filhos, se transformaram em uma preciosa matéria-prima para o documentário Oscar Boz: Aprender e Ensinar, dirigido por Jorge Furtado.
Boa parte da trajetória de seu Oscar está registrada também na biografia "Tecendo Memórias", lançada em 2010, quando ele completou 90 anos.