Morreu na tarde desta terça-feira, aos 99 anos, o empresário aposentado Oscar Boz, que notabilizou-se também como um dos pioneiros do audiovisual em Caxias do Sul, juntamente com Nazareno Michielin. O velório ocorre na Capela E do Memorial São José. O sepultamento está previsto para esta quarta (23), às 10h, no Cemitério Público Municipal.
Fundador e diretor da lendária Malharia Americana, Oscar Boz mesclava o cotidiano profissional e familiar a hobbies como a criação de abelhas — no Apiário Zé Colméia, em Ana Rech — e o cultivo de maçãs. Outra de suas paixões, nos anos 1940 e 1950, era o cinema. Tanto que o fascínio pela tela grande acabou por impulsionar um outro hobby: o de cineasta amador, tendo os filhos pequenos como protagonistas.
Passeios de bicicleta, festinhas de aniversário, apresentações escolares, brincadeiras de rua, nada escapava à lente de sua Kodak Magazine – a primeira câmera, adquirida após o vendedor de uma loja convencê-lo de que "os filmes de filmar estavam mais baratos que os de fotografar". Foi assim, captando cenas do cotidiano familiar, dos filhos, sobrinhos e de acontecimentos marcantes da década de 1950, como a inauguração do Monumento ao Imigrante e a visita de Getúlio Vargas em 1954, as Olimpíadas Caxienses de 1952 e a apresentação do grupo de malabaristas alemães Zugspitz Artisten, em 1957, que seu Oscar Boz acumulou um acervo valioso e pra lá de nostálgico.
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Seu Oscar e o diretor Jorge Furtado
Apesar de nunca ter filmado com intuito comercial, seu Oscar tinha olhar profissional, estudava ângulos, dirigia cenas, entrava na história. E alguns truques deixavam as filmagens de família ainda mais divertidas. Um deles consistia em fazer as crianças "aparecerem" montadas nas bicicletas, como num passe de mágica em sequência, antes dos passeios.
Toda essa magia do passado chamou a atenção do diretor Jorge Furtado em 2003, quando os filmes originais de seu Oscar deram entrada na Casa de Cinema de Porto Alegre. Na época, o material serviu de matéria-prima para um emocionante curta-metragem sobre a família. Oscar Boz: Aprender e Ensinar, dirigido por Furtado, foi um dos episódios da série Umas Velhices, produzida pelo Sesc São Paulo.
Em seu perfil no Facebook, na tarde desta terça-feira, Furtado relatou a amizade com seu Oscar:
"Eu o conheci em 2003, quando vi seus filmes caseiros, preciosidades que registram, com rara delicadeza, mais de 30 anos de vida familiar e da história de Caxias do Sul. Convidei seu Oscar para fazer um curta-metragem, registrando o processo de montar e sonorizar seus filmes, que foram digitalizados pela Casa de Cinema de Porto Alegre e agora integram o acervo do Arquivo Histórico Municipal, em Caxias. Descobri que seu Oscar era também meu vizinho de praia, em Xangri-lá. Tenho o hábito de caminhar muito cedo, ao nascer do sol, e um dia o encontrei, com mais de 90 anos, sozinho, caminhando na praia. Seu Oscar viveu uma vida longa e plena , cercado do afeto de sua família, que ele tanto amava e que eternizou em cenas comoventes".
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Trajetória em livro
Boa parte da trajetória de seu Oscar está registrada também no livro autobiográfico Tecendo Memórias, lançado em 2010, quando ele completou 90 anos. Estão lá dezenas de histórias de família, depoimentos de amigos, nuances do cotidiano, o aprendizado adquirido ao longo dos anos, enfim, um registro dos hábitos e costumes de uma época que não volta mais.
Oscar Boz era viúvo de Lea Sturtz e deixa os filhos Maria Luiza, Maria Helena e Eduardo Juliano, cujas fotos de infância foram publicadas por este colunista na edição do Pioneiro de 12 de outubro de 2015, Dia da Criança: "Nesta segunda-feira, quando todo mundo recorda de seus tempos de criança, os três filhos de seu Oscar podem muito bem se gabar: provavelmente, nenhum outro pai filmou tanto a infância de sua prole quanto ele. Naquele início dos anos 1950, Maria Luiza, Eduardo Juliano e Maria Elena eram os "atores" preferidos de seu Oscar".
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