Ele eternizou o palco e os bastidores do Atelier de Teatro da Aliança Francesa de Caxias do Sul entre 1958 e 1964. Mas também experimentou o outro lado das câmeras. Sim, o premiado fotógrafo Mauro De Blanco (1923-2010) fez uma breve participação especial como ator. Foi em 1961, durante a apresentação da montagem "Arsênico e Alfazema", um dos tantos textos encenados pela trupe formada por nomes como Nilton e Rose Scotti, Ely Andreazza, Lorita Sanvitto Andreazza, Darwin Gazzana, Zilá Dankwardt de Azevedo, David e Gloria Andreazza, Irmgard Bornheim, Corina Wainstein, Hermínio Bassanesi, Gerd Bornheim e até a jovem Ítala Nandi, revelada nos palcos da Aliança.
O Instante e o Tempo: Mauro De Blanco e a trajetória dos fotógrafos de Caxias do Sul
Confira uma galeria de imagens de Mauro De Blanco pertencentes ao acervo particular da fotógrafa Janete Kriger
A peça integrou a programação do 1º Festival de Cultura e Arte de Caxias do Sul, ocorrido de 14 a 31 de outubro de 1961. Conforme reportagem do Boletim Eberle de novembro daquele ano, assinada pelo senhor Alberto Arioli, o festival "teve contornos de maratona", com uma sequência de palestras, debates, conferências, apresentações de música e dança e ciclos de cinema.
Para se ter uma ideia, o clássico "A Aventura", de Michelangelo Antonioni, foi apresentado em avant-premiére. Pela cidade passaram também nomes como Augusto Boal, então diretor do Teatro de Arena de São Paulo, o pintor Di Cavalcanti, o professor e filólogo Aurélio Buarque de Hollanda e os escritores Fernando Sabino e Paulo Mendes Campos.
Outras atrações foram a Orquestra Sinfônica de Porto Alegre, o grupo folclórico El Pericon, de Montevidéu, que agitou o Hotel Samuara, e o conjunto de gaitas do maestro Eleonardo Caffi – que apresentou pela primeira vez o hino de Caxias do Sul. E, para encerrar a programação em grande estilo, a famosa Orquestra Dançante de Waldir Calmon, do Rio de Janeiro, botando para ferver os salões do Recreio da Juventude.
Nas fotos acima e abaixo, um registro da apresentação de "Arsênico e Alfazema", realizada no palco da Aliança Francesa. O espaço localizava-se na Av. Júlio de Castilhos, ao lado da Farmácia Central, bem defronte à Praça Dante Alighieri. O fotógrafo Mauro De Blanco (sentado de chapéu) aparece em cena junto a Clovis Mezzomo, Haydée Colussi, Renan Falcão de Azevedo e Zilá Danckwardt de Azevedo.
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Repercussão no Boletim Eberle
Nas imagens abaixo, as seis páginas que o antigo Boletim Eberle destinou ao festival, incluindo a montagem do Atelier de Teatro da Aliança Francesa de Caxias do Sul.
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Arsênico e Alfazema
Escrito pelo americano Joseph Kesselring, o texto de "Arsênico e Alfazema" mescla comédia, terror e uma boa dose de humor negro. Na trama, duas excêntricas velhinhas alugam os quartos da casa onde moram para senhores solitários. Porém, para aliviar o sofrimento de seus hóspedes, elas começam a servir-lhes vinho envenenado. A "boa ação" começa a ser desvendada com a chegada de um sobrinho e sua noiva e de um assassino procurado pela polícia.
No Brasil, a montagem atingiu grande sucesso em 1949, sob a direção de Adolfo Celli e com Cacilda Becker à frente do elenco. O texto também foi adaptado para o cinema em 1945, sob o título "Este Mundo é um Hospício". O filme, dirigido por Frank Capra, trazia nos papéis principais Cary Grant e Peter Lorre.
Eternizando amigos
Mauro De Blanco registrou a maioria das peças encenadas no Atelier de Teatro da Aliança Francesa entre 1958 e 1964. Ao mesmo tempo, eternizou uma parte emblemática da história do teatro caxiense, em especial amigos como Nilton Scotti, Darwin Gazzana, Hermínio Bassanesi e Waldira Danckwardt.