Quando se fala em incêndios de grandes proporções na área central de Caxias, imediatamente vem a lembrança dos sinistros na Câmara de Vereadores, em 1992, e no Cine Teatro Ópera, em 1994. Porém, 40 anos antes, o Centro também "parou". Foi em 23 de novembro de 1952, um domingo, que a população testemunhou o "devastador incêndio que destruiu a Ferragem Caxiense", conforme manchete do então semanário Pioneiro de 29 de novembro de 1952.
Localizado na Rua Sinimbu, em frente à Metalúrgica Abramo Eberle, o espaço comercializava ferragens, tintas, óleos, vidros, armas, munições, cristais, porcelanas e miudezas em geral. Conforme relatos da época, foi provavelmente no estoque de óleos e produtos inflamáveis, nos fundos da loja, que tiveram início as explosões.
Na sequência, o fogo consumiu parte da construção de alvenaria, um casarão de dois pavimentos em madeira ao lado, onde funcionava o curso de desenho da metalúrgica, e a antiga Casa Minghelli, estabelecimento comercial situado na esquina com a Marquês do Herval — desde o final dos anos 1950, o Edifício Minghelli.
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Na imprensa
Texto do Pioneiro da época destacou a história da casa, a esquina e o trabalho dos "soldados do fogo":
"Estabelecimento antigo que vinha servindo esta região, com abundante sortimento de ferragens das melhores procedências, em poucas horas, com assombro da população, desapareceu sob a voragem das chamas. A Casa Comercial Minghelli, cujo edifício era de madeira, em poucos instantes também desapareceu. Não obstante, houve tempo para serem retiradas todas as mercadorias existentes, de sorte que o único prejuízo foi a velha casa de madeira. Os soldados do fogo se houveram com bastante perícia e denodo, merecendo aplausos".
Ainda conforme a reportagem, prédios vizinhos como o Hotel Menegotto e a Funilaria Guidali também ficaram ameaçados: "Não fosse a ação eficiente dos bombeiros, sem dúvida o desastre teria assumido proporções gigantescas".
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As imagens
Nas fotos desta página, alguns registros da movimentação no entorno e uma rara sequência captada próximo ao chafariz da então Praça Rui Barbosa. As imagens integram o acervo do Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami.
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Prova de ciclismo em meio à tragédia
Três leitores recordaram do episódio em 2014, quando a coluna abordou o incêndio pela primeira vez.
"Exatamente no dia desse histórico incêndio da Ferragem Caxiense, a Rádio Caxias ZYF-3, a promotora de eventos esportivos na época, realizava uma prova de ciclismo com percurso Caxias-Farroupilha-Caxias. A transmissão radiofônica da competição foi interrompida para levar informações do incêndio ao vivo. Os ciclistas foram chegando na Av. Júlio de Castilhos, defronte ao Café Central, pulando sobre as mangueiras do Corpo de Bombeiros, que estavam entendidas através da Praça Rui Barbosa. Essa informação foi-me passada por Charles Milton Lamb, o "Chaleira", o ciclista vencedor naquele dia". (Ivan Zeni dos Santos)
"Este incêndio ficou muito marcado em mim. Naquele domingo, minha família tinha ido na missa da Catedral e eu estava junto. Tinha apenas três anos, mas lembro bem das explosões e das enormes labaredas". (João Carlos Pieruccini Faé)
"Com 12 anos e morando nos fundos do prédio, pela Av. Júlio de Castilhos, estávamos apavorados porque diziam que a quadra inteira poderia ser atingida". (Maria Helena Muratore)
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Hoje
O espaço que sediava a antiga Ferragem Caxiense hoje abriga uma loja de utilidades domésticas, praticamente a mesma atuação comercial de 66 anos atrás.