A década de 1950 ficou marcada por três acontecimentos que movimentaram o Centro como poucas vezes visto: as Olimpíadas Caxienses, organizadas pelo Departamento de Esportes da Rádio Caxias, nos dias 15, 16 e 17 de agosto de 1952; o incêndio na Ferragem Caxiense, em 23 de novembro de 1952; e a apresentação do grupo de acrobatas alemães Zugspitz Artisten, em 5 de junho de 1957.
Tanto as olimpíadas quanto a performance dos artistas europeus foram filmadas por seu Oscar Boz, 99 anos completados no último dia 11 de julho. Cineasta amador nas horas vagas, seu Oscar costumava registrar o cotidiano da família e dos filhos munido de sua Kodak Magazine, quando decidiu captar também a passagem da trupe de malabaristas pela cidade.
Confira o vídeo original das Olimpíadas Caxienses de 1952, feito por seu Oscar Boz
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Sem desmerecer as Olimpíadas, o filme dos trapezistas é algo que impressiona até hoje. Tanto que a apresentação bem que poderia ter ganho o subtítulo "o dia em que o Centro de Caxias parou" – por ter atraído milhares até os arredores da então Praça Rui Barbosa.
Famosos desde 1948 em todo o mundo pelas acrobacias sobre cabos de aço, os integrantes deixavam o público boquiaberto equilibrando-se a pé, de motociclo ou bicicleta. As acrobacias, oito no total, tinham nome e sobrenome: O Voador, Motociclo Aéreo, A Travessia Solitária, O Mastro Humano, O Trapézio Duplo, A Travessia às Cegas, Convite ao Bailado e Eletrizante. Este última, inclusive, vinha acompanhada de um aviso no programa:
"Número inconveniente para pessoas que sofrem dos nervos. A maravilha do equilíbrio combinado. Causa calafrios o desafio às alturas feito pelos três acrobatas alemães. Com motociclo, trapézio e escada, chegam à máxima exibição que tanta fama lhes deu".
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As atrações
A Travessia Solitária deu-se por um cabo de 16mm entre o recém-construído Edifício Minghelli (o prédio da Joalheria Kayser) e um poste instalado próximo à Rua Dr. Montaury, passando exatamente pelo centro do chafariz (foto que abre a matéria).
Outros destaques foram O Mastro Humano, em que um dos integrantes realizou uma série de acrobacias no topo da Metalúrgica Abramo Eberle, e O Voador. Neste último, o artista Rudi Berg, suspenso unicamente por uma corda na nuca e com os braços abertos, desceu pelo cabo em alta velocidade desde o alto do Edifício Minghelli até a frente da Catedral Diocesana.
Redes de proteção e equipamentos de segurança? Nenhum, conforme vemos nas imagens do antigo Studio Geremia.
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Os artistas
Surgido no pós-guerra, em 1946, o grupo era formado pelos artistas Alex Schack, Siegward Bach, Rudi Berg e Miss Sylvia, sob a direção do também alemão Wilhelm Butz. O nome era uma referência ao monte Zugspitz, o mais alto da Alemanha, onde o quarteto deu início às suas mais incríveis façanhas.
Reportagem do jornal Pioneiro da época fazia um alerta: “Não resta a menor dúvida de que quem sofre dos nervos não deve assistir a espetáculos dessa natureza, embora a beleza que transmitam esses verdadeiros homens voadores”.
No Rio Grande do Sul, os alemães fizeram apresentações também em Porto Alegre e Pelotas (foto abaixo), também em 1957.
Curta-metragem e livro
Filmes como o da apresentação dos artistas alemães e vários outras "produções caseiras" de seu Oscar Boz chamaram a atenção do diretor Jorge Furtado em 2003. Foi quando os originais do aposentado caxiense deram entrada na Casa de Cinema de Porto Alegre. Na época, o material serviu de matéria-prima para um emocionante curta-metragem sobre a família, Oscar Boz: Aprender e Ensinar.
Boa parte da trajetória de seu Oscar está registrada também no livro autobiográfico Tecendo Memórias, organizado pela filha Maria Elena Boz Nora e lançado em 2010, quando o pai completou 90 anos (foto ao lado). Estão lá dezenas de histórias de família, depoimentos de amigos, nuances do cotidiano, o aprendizado adquirido ao longo dos anos, enfim, um registro dos hábitos e costumes de uma época que não volta mais.
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Parte das informações desta página foi publicada originalmente na coluna de 28 de outubro de 2015.
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