Por Pedro Dutra Fonseca, professor titular do Departamento de Economia e Relações Internacionais da UFRGS
Um filme se repete na última década: começa-se o ano com projeções de crescimento modestas e, mesmo assim, aos poucos elas vão sendo rebaixadas. E o final é decepcionante. Já neste primeiro trimestre, isso acontece, e os minguados 2,2% iniciais parecem inalcançáveis. Em nenhum período da história republicana, nem mesmo na “década perdida” de 1980, tivemos tão longo ciclo recessivo.
Para explicar crises duradouras, contam os fatores estruturais ou de longo prazo: educação, infraestrutura (portos, estradas, energia), produtividade e competitividade externa. Mas estes não se revertem facilmente. Precisa-se de políticas com respostas mais rápidas. E aí é inescapável que se atue sobre a demanda, com apoio no truísmo de que, numa economia de mercado, ninguém vai produzir o que não espera vender.
Há quase um século, a Contabilidade Social separa a demanda em quatro segmentos: consumidores, investimento empresarial, governo e exportações. Seguindo tal método simplificado: o consumo das famílias não cresce devido o próprio desemprego. Aqui, há “causalidade recíproca”: o consumo não cresce porque o desemprego é alto e este persiste porque as vendas não crescem. Boa parte da literatura econômica sugere que, nesses casos, quem deve “puxar” o crescimento são as outras variáveis. Mas qual? É difícil que novos investimentos deem o pontapé inicial, pois os empresários tendem primeiro a ocupar a capacidade ociosa já existente. Só se houvesse investimentos chamados “autônomos”, capazes de se adiantar à demanda corrente, mas estes dependem de estado de confiança, que se cruza com os fatores de longo prazo já mencionados. Sem contar as trapalhadas da política, persistentes apesar de três governos e seis ministros econômicos diferentes em 10 anos.
Restam o governo e o setor externo. O primeiro, cujo déficit limita a capacidade de investir, subsidiar ou cortar impostos (algo como a “bolsa empresário” da época de Mantega, que fracassou). Restariam as exportações, mas o cenário externo não ajuda, com a tendência ao fechamento das economias, liderada pelas duas maiores. Para completar, não precisava o Itamaraty comprar rusgas com nossos principais importadores, como China, Zona do Euro, Mercosul e países árabes.
Parece que estamos longe de uma pré-estreia com final feliz.