O presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) também terá de administrar pontos que, para o setor produtivo e exportadores, parecem conflitantes. No programa de governo, uma das principais propostas na área é fazer maior abertura do Brasil ao comércio internacional. De um lado, reduzindo tarifas de importação para gerar "choque tecnológico" no país. E, em paralelo, priorizar acordos bilaterais com outras nações.
O presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, lembra que há um problema: se antecipadamente derrubar tarifas de forma unilateral enquanto se discute acordos bilaterais, não haverá grandes armas a colocar na mesa com outros países. Também neste ponto, é essencial a existência de um ministério independente voltado à indústria ao comércio exterior, defende o dirigente. O temor é de que uma retirada das tarifas de importações, se não ser feita de forma gradativa, prejudique a indústria nacional.
Por outro lado, a indústria defende que não há como derrubar tarifas de importação enquanto o custo para produzir no Brasil, por carga tributária elevada, burocracia e ineficiência logística, afetarem a competitividade das indústrias do Brasil. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) defende mais acordos de livre comércio, como com o México e com a União Europeia, mas pede o fortalecimento do sistema de defesa comercial e simplificação dar carga tributária enquanto uma reforma fiscal não avança.
No front externo, outro desafio será tentar melhorar a imagem do Brasil, após uma série de críticas de grandes veículos de imprensa do mundo relacionadas à ascensão de Bolsonaro, agora eleito.
— Essa é uma realidade que o governo terá de enfrentar por ter criado essa expectativa negativa. Muitas vezes, a imagem prejudica mais do que uma decisão econômica — pondera Castro.
Para o embaixador José Botafogo Gonçalves, vice-presidente do Cebri, há uma distorção na percepção internacional sobre potenciais riscos à democracia brasileira.
— Não era o candidato dos sonhos, mas as instituições estão funcionando. Democracia pressupõe liberdade de preços, eleições frequentes e alternância no poder. É o que tivemos nos últimos anos — diz Gonçalves, que vê uma possibilidade de melhora na visão estrangeira do país assim que forem retomadas medidas para o reequilíbrio financeiros e a economia volte a crescer.