1 - Os militares
Trinta e três anos depois da eleição indireta de Tancredo Neves para a Presidência, fato que marcou oficialmente o fim do regime militar iniciado em 1964, as Forças Armadas voltam, democraticamente, ao centro do poder. Não é um protagonismo institucional, mas tanto o presidente quanto o vice são militares, bem como boa parte da equipe mais próxima a eles.
O governo Bolsonaro será um teste delicado para as Forças Armadas, que se mantiveram coesas e fiéis ao seu papel constitucional nas últimas décadas. Governo e Congresso – os militares elegeram seis representantes diretos para a Câmara – são áreas com hierarquias movediças, disciplina relativa e divisão de poder negociada. Uma das primeiras medidas do novo presidente do STF, ministro Dias Toffoli, foi contratar, em setembro, um militar como assessor.
2 - E agora, esquerda?
Enfraquecido pelas urnas e devastado pela Lava-Jato, o PT enfrentará agora o desafio da reciclagem. Existe hoje espaço no Brasil para o surgimento de uma nova liderança de esquerda, descolada dos escândalos de corrupção e do próprio PT. A oposição a Bolsonaro será ressentida, atuante e difusa. Os 13 anos de poder do PT deixaram raízes no Judiciário, no MP, nas universidades e em amplos setores da cultura nacional.
3 - A inversão do fator tempo
Se no segundo turno o silêncio ajudou Bolsonaro, a partir de janeiro a lógica se inverte radicalmente. O presidente eleito sai das urnas com um importante crédito político, mas precisará dar respostas rápidas às inquietações populares que garantiram a sua eleição. O medo da violência é o maior delas. Se antes cada assassinato e cada assalto rendiam votos a Bolsonaro, a partir de 2019 o efeito será oposto. Os mortos e feridos pela onda de criminalidade serão debitados da conta do governo que se elegeu prometendo acabar com a bandidagem.
4 - Relações com o Congresso
O grande ponto de interrogação do novo governo. Bolsonaro se elegeu, segundo ele mesmo, sem fazer conchavos ou promessas aos partidos e aos políticos. O presidente eleito precisa agora construir uma maioria suficiente para aprovar seus projetos no Congresso, que, renovado em seus nomes, ainda precisará mostrar se mudou também a sua cultura de fisiologismo e corrupção.
5 - O poder da fé
Os evangélicos passam a desempenhar um papel central em Brasília. Já haviam conquistado grande área de influência no governo Temer, mas amanhecerão segunda-feira ainda maiores. Da política externa ao futuro da educação no país, a convivência entre a fé e um Estado supostamente laico estará na pauta diária dos próximos quatro anos.