Não existe outra forma a não ser as definidas pelo processo democrático. Eleições sempre, até que se invente um jeito melhor de garantir legitimidade ao poder exercido em nome do bem comum.
Feito o preâmbulo, olho para os números e para a rua. Hoje, não há perspectiva de um cenário positivo no desfecho dessa corrida maluca, que já teve tiros, facada e cadeia.
O impeachment e suas circunstâncias desarrumaram o país de um jeito tal, que a eleição de outubro, ao invés de pacificar, irá acentuar as mágoas e o radicalismo. Se as tendências se confirmarem, teremos um segundo turno violento.
Se Bolsonaro vencer, a esquerda promoverá um cerco destrutivo ao governo. Não só no parlamento, mas nas esferas onde tem legítimos representantes. Sem falar em eventuais medidas do próprio Bolsonaro que aprofundem o abismo entre os extremos hoje predominantes na política nacional. Será um governo sitiado e de reações imprevisíveis diante desse cerco – ou do que considerar como tal, mesmo que não seja.
Se Haddad vencer, enfrentará o antipetismo gigante que se espalhou pelo país. Um partido com boa parte da sua cúpula na cadeia terá dificuldades para se equilibrar no poder. A perspectiva de Lula mandando novamente no Brasil causa arrepios nos quartéis e em vários outros segmentos relevantes.
Se Bolsonaro e Haddad forem derrotados, o bolsonarismo e o lulismo não desaparecerão. Ao contrário. Permanecerão no centro do palco, como soluções milagrosas que não puderam acontecer, inflamadas pelas teorias de golpe, esquerdopatia, coxinhismo e petralismo.
Numa visão de processo histórico, talvez precise piorar ainda mais antes de melhorar. Há muita energia negativa acumulada e ela precisa se dissipar. A democracia oferece canais para isso - voto e livre expressão. Mas parece não ser suficiente. As boas notícias: 2022 é logo ali e o Brasil não vai acabar. Empreendedores irão empreender, professores irão ensinar, o Grêmio seguirá na disputa pela Libertadores e o Inter, na do Brasileirão.
Enquanto isso, só precisamos de uma única promessa e de um único compromisso, não apenas dos candidatos, mas de cada um de nós: serenidade. Essa palavra, no Brasil de hoje, não garante votos. Mas garante futuro.