A postura das Forças Armadas diante da prisão do general Braga Netto nos ensina algo que já deveríamos saber: coesão é diferente de unanimidade. Certamente, há divergências em relação ao ocorrido. Mas, da porta para fora, a instituição fala com uma só voz. E essa voz é o silêncio — uma forma inteligente e, acima de tudo, correta, de se pronunciar.
Teoricamente, a pena tem diversas funções. Além de punir quem ultrapassou o limite da lei, deveria assegurar a reeducação e ressocialização do infrator. Mas, neste caso, a terceira dimensão é a que mais importa: dar o exemplo, para que outros não caiam na tentação de repetir o erro.
Desde a redemocratização, as Forças Armadas brasileiras têm desempenhado seu papel constitucional de forma irrepreensível. Com divergências internas, sim, mas sempre coesas e fiéis à lei. Isso não significa que todos concordem, mas demonstra que o comando efetivamente comanda, apesar das eventuais divisões internas.
A mais importante mensagem da prisão de Braga Netto é para dentro dos quartéis: política partidária e farda não combinam nunca, ainda mais quando o assunto é uma tentativa de golpe de Estado. E é assim que deve ser, pelo bem do país.
Vale lembrar que Braga Netto iniciou seu mandato como ministro-chefe da Casa Civil, em 2018, ainda na ativa. Quarenta dias depois, foi transferido para a reserva. Porém, nesse curto período, foi simultaneamente general e ministro.
Fazer política partidária não é pecado. Pelo contrário. Mas optar por esse caminho exige, obrigatoriamente, abrir mão de tanques, aviões e do comando de tropas. Há uma incompatibilidade insuperável entre essas duas vocações.
No Brasil e no mundo, militares que se tornam políticos podem prestar serviços inestimáveis a diversas causas. Mas uma carreira implica abandonar a outra.
Há quem tente Braga Netto para atacar a imagem das Forças Armadas. Uma injustiça, no mínimo. Uma prisão desta natureza, desde que amparada pela lei e por provas robustas, representa uma demonstração da maturidade democrática. Não por aquele que foi preso, mas por todos aqueles que, diante do exemplo, não serão.