Algumas palavras muito usadas em 2024 chegaram cansadas ao final do ano. Reconstrução é uma delas. Embora ainda muito usada, perdeu um pouco da sua força original. Acabou sofrendo os efeitos do uso excessivo. Logo depois da enchente, era onipresente. Nos corações, nas mentes e do marketing.
Embora não cause mais o mesmo impacto, continua sendo fundamental. Porque a aparente normalidade reconquistada graças aos esforços de todos esconde desafios gigantescos. Um estudo divulgado pela Fiergs há poucos dias revelou a preocupação dos industriais gaúchos com as carências de infraestrutura, muitas anteriores aos alagamentos, mas agravadas por eles. Vale ressaltar: o mesmo levantamento da Fiergs mostrou que há otimismo em relação a 2025. Essa é uma baita notícia.
Mas a palavra que mais perdeu brilho nos últimos meses, ao meu ver, é a que mais deveria ter sido valorizada, como aprendizado coletivo da tragédia que tanta dor e sofrimentos nos trouxe. Essa palavra é voluntariado.
É claro que existem milhares de pessoas de instituições que se dedicam a esse tema. Merecem aplauso e apoio, sempre.
Me refiro aqui a todos os que inundaram as suas redes sociais com imagens e textos sobre ajuda, resiliência e união, que vibraram com os likes e com os novos seguidores, que deram seu tempo, seu dinheiro e seu talento para ajudar a comunidade em que vivem. Sempre correndo o risco de cometer injustiças — e me desculpando por elas —, sinto que uma parte considerável dos heróis da enchente acredita que o seu dever foi cumprido. E realmente foi. Mas cada etapa dessa jornada significa o começo de uma outra. Porque a postura do voluntariado não é uma linha de chegada, mas sim um caminho.
Mas que bom seria se não precisássemos esperar pela próxima enchente para formar novamente uma rede que deveria ser sólida e perene
Sei que a vida nos empurra para a gestão das nossas próprias crises e desafios diários. São muitos. Não tenho a intenção de julgar e muito menos dizer o que outros devem fazer. Cada faz o que pode e o que consegue. Mas que bom seria se não precisássemos esperar pela próxima enchente para formar novamente uma rede que deveria ser sólida e perene.