Nos dois anos da gestão Vitorio Piffero, o Conselho Fiscal do Inter, órgão que tem independência para promover questionamentos e emitir recomendações à direção do clube, enviou diversos ofícios requerendo informações e providências diante dos problemas que passavam a se avolumar.
A ata número 006 do Conselho Fiscal traz o detalhamento sobre tudo o que foi discutido na reunião do colegiado no dia 24 de agosto de 2015, quando Pedro Affatato, então vice-presidente de Finanças, foi recebido para se manifestar na condição de convidado. Nas justificativas, o dirigente vinculou o quadro de dificuldades devido ao "grande impacto financeiro gerado pela nova formatação do estádio (Beira-Rio) e de exploração, cujo custo mensal ultrapassa os R$ 2 milhões", registra a ata. Affatato ainda citou que o Inter estava com "falta de crédito" naquele momento.
O dirigente passou a ser questionado pelos conselheiros fiscais, conforme descrito a partir da alínea e) do documento: "O conselheiro Arthur Caleffi manifesta sua preocupação em relação à conta de adiantamentos a vice-presidências, onde a vice-presidência de Finanças, no acumulado do semestre apresentava saldo inicial zero, teve lançado a débito R$ 1.391.614,00, e a crédito, ou seja, com a nota fiscal comprovada, R$ 671.268,65, ficando um saldo de adiantamento a comprovar, em despesas efetivadas, de R$ 726.345,35", diz a ata, documento oficial do Inter.
No item p) da ata, os integrantes do grupo de fiscalização do clube, após o término da participação de Affatato, manifestaram preocupação com os métodos praticados para movimentar os recursos do clube.
"Após a saída dos convidados, os conselheiros comentaram que os temas que mais haviam chamado a atenção estavam relacionados aos adiantamentos que estavam registrados contabilmente, os quais já tinham sido explicados quanto ao perfil de atuação pelo vice-presidente de Finanças, mas sem comprovações documentais", pontua o registro do Conselho Fiscal.
Em 22 de setembro de 2015, o então presidente do Conselho Fiscal, Geraldo Da Camino, enviou o ofício 007/2015 ao presidente do clube, Vitorio Piffero, para solicitar medidas.
Nenhum relatório apontou superfaturamento ou fraudes
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Não houve desvio de recursos
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"Vimos pelo presente, tendo em vista a identificação, via contabilidade, de saldos elevados em adiantamentos às vice-presidências do clube, recomendar que a sistemática de adiantamentos de numerários seja utilizada de forma eventual, para pequenos gastos, bem como que sejam estabelecidas pela gestão regras formais quanto a situações passíveis de adoção do procedimento, limites de valores, prazos para prestação de contas e perfil de documentos habilitados para comprovação de tais gastos", diz o ofício.
Píffero respondeu, em 8 de outubro de 2015, informando que uma "resolução" havia sido "agilizada" para a adoção de "procedimentos ainda mais restritos para retirada de numerário do clube". Apesar disso, as fragilidades se mantiveram em 2016, conforme apuraram as consultorias EY e Baker Tilly Brasil.
Em 7 de abril de 2017, o Conselho Fiscal redigiu o ofício 007/2017, destinado ao Conselho Deliberativo, contendo o parecer pela desaprovação das contas da gestão Piffero de 2016 sob alegação de "graves falhas de controles internos".
Os conselheiros do clube acataram a recomendação do Conselho Fiscal e, pela primeira vez em mais de um século de história do Inter, um presidente do clube teve as contas de sua gestão rejeitadas.
Por causa das fragilidades, parecer do Conselho Fiscal foi pela desaprovação das contas da gestão Vitorio Piffero