Ao menos três casos policiais no Rio Grande do Sul chegam ao fim do ano sem respostas.
Em fevereiro, Jéssica Oliveira, 30 anos, saiu de casa em Sapucaia do Sul, na Região Metropolitana, e não retornou. O carro dela foi encontrado incendiado e a suspeita é de que ela tenha sido executada. No fim de março, João Vitor Macedo, 15, foi assassinado a tiros em Porto Alegre — um policial civil é investigado. Em julho, dois professores universitários foram mortos enquanto eram vítimas de um assalto a um hotel, no norte do Estado.
Com investigações ainda em andamento, mas sem expectativa de datas para serem concluídas, relembre estes e outros casos mais antigos que aguardam por respostas.
Professores mortos em assalto em Mato Castelhano
Em julho deste ano, os professores da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) Fabiano de Oliveira Fortes, 46 anos, e Felipe Turchetto, 35, seguiram até o norte do Estado para acompanhar estudantes do curso de Engenharia Florestal em visita de campo à Floresta Nacional de Passo Fundo. O grupo se hospedou num hotel em Mato Castelhano.
Na madrugada do dia 25, dois assaltantes se apresentaram como hóspedes no Hotel Romanttei. Por volta de 1h30min, os bandidos desceram ao saguão, renderam hóspedes, funcionários e a proprietária do estabelecimento. Os reféns foram amarrados e a dona do hotel foi levada para uma sala onde exigiram que ela fizesse transferências por Pix.
Por volta das 3h, o grupo formado pelos professores e estudantes chegou ao local, enquanto ainda ocorria o assalto. Eles também foram rendidos. Em meio à tensão, os professores teriam reagido, tentando dominar os bandidos, mas acabaram alvejados. Os criminosos roubaram pertences das vítimas e fugiram em seguida.
A polícia conseguiu identificar dois suspeitos do crime, que foram presos em 28 de julho. A prisão, no entanto, não se sustentou. Um deles apresentou álibi e teve a prisão revogada pela Justiça. A participação de um terceiro homem chegou a ser cogitada, mas foi descartada. A investigação segue, tentando obter provas de quem seriam os autores do latrocínio (roubo com morte). Ainda não há expectativa de quando deve ser encerrada a apuração.
— Estamos ainda organizando e fazendo análises de algumas quebras de sigilo, que eram alguns gigabytes de informações. Estamos processando toda essa informação, fazendo análises, cruzamentos, para chegar num prova técnica. As demais provas não foram suficientes. A prova testemunhal não deu nenhum reconhecimento plausível dos autores. O sistema de (câmeras de) segurança na cidade praticamente foi inexistente. Algumas deram indicativos, mas a qualidade era muito baixa. Estamos no aguardo dessa prova técnica — afirma o delegado Diogo Ferreira.
Adolescente assassinado a tiros em Porto Alegre
— Eu tinha muita esperança nessa punição e até agora nada — desabafa Juliana Lopes Macedo, 34 anos.
Mãe de João Vitor Macedo, 15 anos, ela espera há nove meses por respostas sobre o assassinato do filho. O adolescente foi morto a tiros em 28 de março deste ano, no bairro Agronomia, na zona leste de Porto Alegre. Um policial civil é suspeito de ter efetuado os disparos. Em razão disso, o caso passou a ser investigado pela Corregedoria da Polícia Civil.
João Vitor foi alvejado no Beco dos Marianos, próximo à Avenida Bento Gonçalves. Imagens de uma câmera de segurança flagraram uma viatura da Polícia Civil entrando no beco, logo após ele e outro adolescente correrem naquela mesma direção. O veículo deixou o local logo depois.
Socorrido por um pastor e por familiares, João Vitor foi levado para atendimento médico. No trajeto até o Hospital de Pronto Socorro (HPS), o próprio adolescente disse, segundo a família, que havia sido baleado por um policial civil. Ele não resistiu aos ferimentos e morreu no mesmo dia.
A Corregedoria da Polícia Civil iniciou uma investigação para elucidar como aconteceu a morte do adolescente. O policial, suspeito de ter baleado o garoto, foi identificado e, quando ouvido, confirmou ter atirado na mesma direção dele. Desde então, a família aguarda por respostas e pelo encerramento da investigação.
— Até momento nada. Só eu sei o quanto eu rezei para passar esse Natal logo — lamenta Juliana, sobre o vazio deixado após a morte do filho.
Em agosto deste ano, foi realizada a reconstituição do caso pelo Instituto-Geral de Perícias (IGP). O policial civil foi afastado das atividades, em razão de licença de saúde.
Segundo o chefe da Polícia Civil, delegado Fernando Sodré, ainda é aguardado o laudo dessa perícia para que o inquérito possa ser concluído.
— Sem esse laudo, não temos como concluir. Estamos nesse aguardo para poder finalizar a investigação — afirma.
Jovem desaparecida em Sapucaia do Sul
Jéssica de Oliveira, 30 anos, deixou a casa onde vivia em Sapucaia do Sul, na Região Metropolitana, em fevereiro deste ano. A mulher, mãe de um menino de cinco anos, dirigia um Polo branco, adquirido havia pouco tempo. O veículo foi encontrado no dia seguinte, incendiado em Novo Hamburgo, no Vale do Sinos. Depois disso, ela nunca mais foi localizada e nem entrou em contato com a família, que aguarda por respostas sobre o paradeiro dela. O desaparecimento segue sob investigação da Polícia Civil.
A mulher vivia em Sapucaia do Sul com uma irmã caçula e o filho. Segundo a família, ela saiu de casa no início da tarde de 1º de fevereiro para atender a um chamado realizado por meio de um site para contratação de acompanhantes. Na mesma tarde, Jéssica chegou a realizar uma chamada de vídeo para parentes e afirmou estar na Lomba Grande, em Novo Hamburgo. Um homem estaria no veículo com ela. Esse foi o último contato antes do desaparecimento.
No dia seguinte, o carro de Jéssica foi localizado incendiado em uma área de mata de difícil acesso nas margens da Rua Presidente Lucena, no bairro Primavera, também em Novo Hamburgo. Foi necessário usar uma retroescavadeira para remover o veículo do local. Não havia vestígios dela dentro do automóvel. Antes de desaparecer, Jéssica já havia relatado para pessoas próximas que vinha sendo ameaçada. Um dos motivos seria o envolvimento dela com um presidiário, para quem costumava realizar visitas íntimas na cadeia. A suspeita da polícia é de que ela tenha sido assassinada.
Segundo o delegado Gabriel Lourenço, responsável pela investigação, "neste período, a Polícia Civil cumpriu medidas cautelares deferidas pelo Poder Judiciário, segue investigando as circunstâncias do fato e se dedica à descoberta da autoria do crime".
Casos mais antigos
Duda, levada de casa na zona norte de Porto Alegre
Eduarda Herrera de Mello, a Duda, uma garota de nove anos, desapareceu de casa, no bairro Rubem Berta, na zona norte de Porto Alegre, em outubro de 2018. Há seis anos, a mãe, Kendra Camboim Herrera aguarda por alguma explicação sobre quem tirou a vida da filha. O corpo da criança foi encontrado no dia seguinte no Rio Gravataí, em Alvorada.
Duda brincava de patins com o irmão e uma vizinha, ambos então com seis anos, na frente de casa, na Rua Inácio Kohler. A mãe entrou na residência por alguns minutos para orientar um eletricista, que havia sido acionado em razão de falhas na energia da residência. Minutos depois, Kendra retornou para a rua e não avistou mais a filha.
A perícia realizada no corpo da criança apontou que Duda morreu por afogamento. A dinâmica do assassinato nunca foi esclarecida, assim como o autor. A investigação sobre a morte de Duda foi remetida ao Judiciário em maio de 2022, sem indiciamento pela Polícia Civil. Ninguém foi apontado como autor do crime. Em fevereiro do ano passado, o inquérito foi arquivado na 2ª Vara do Júri de Porto Alegre.
Potrich, desaparecido em condomínio de Anta Gorda
Jacir Potrich, à época com 55 anos, sumiu em Anta Gorda, no Vale do Taquari. Em 13 de novembro de 2018, o gerente do Sicredi desapareceu do condomínio de alto padrão onde residia no município de 6 mil habitantes.
O caso passou por série de reviravoltas, mas retornou à estaca zero em maio de 2020, quando o Superior Tribunal de Justiça (STJ) determinou que fosse encerrada a ação contra um suspeito, por entender que não havia indícios para que ele fosse processado pelo sumiço. Embora o Ministério Público e a Polícia Civil acreditem que a vítima foi morta, o corpo nunca foi encontrado.
Aquele processo foi encerrado, e o homem, que chegou a ser preso duas vezes, mas negava envolvimento no desaparecimento, não é considerado mais réu e nem mesmo suspeito. Diante deste contexto, a única opção para reabrir uma investigação é encontrar nova prova sobre o que aconteceu com o gerente.
O gerente morava com a esposa e um sobrinho no condomínio de onde sumiu após uma pescaria. A última imagem captada dele por câmeras de segurança é do momento em que seguia para o quiosque do residencial. Durante as buscas pelo gerente, até um açude chegou a ser esvaziado, junto ao local onde ele morava, mas nenhuma pista do paradeiro de Potrich foi encontrada.