— Não acredito em crime perfeito.
Esta convicção guia o promotor André Prediger, um dos engajados na busca por descobrir o que aconteceu com Jacir Potrich, à época com 55 anos, desaparecido em Anta Gorda, no Vale do Taquari. Há mais de dois anos, o gerente do Sicredi sumiu do condomínio de alto padrão onde residia no município de 6 mil habitantes.
Desde então, o caso passou por série de reviravoltas, mas retornou à estaca zero em maio do ano passado, quando o Superior Tribunal de Justiça (STJ) determinou que fosse encerrada a ação contra um suspeito, por entender que não havia indícios para que ele fosse processado pelo sumiço. Embora o Ministério Público (MP) e a Polícia Civil acreditem que a vítima foi morta, o corpo nunca foi encontrado.
Com a decisão em última instância, aquele processo foi encerrado, e um dentista, que chegou a ser preso duas vezes, mas negava envolvimento no desaparecimento, não é considerado mais réu e nem mesmo suspeito. Diante deste contexto, a única opção para reabrir uma investigação é encontrar nova prova sobre o que aconteceu com o gerente.
Na prática, não significa que o caso tenha sido deixado de lado, mas não há apuração por homicídio em andamento. MP e Polícia Civil seguem a busca por nova pista para desvendar o sumiço.
— Aquele processo não existe mais. Não adianta dar soco em ponta de faca. O fato concreto é que a vítima está desaparecida há dois anos e três meses. Esse sumiço podemos investigar. É isso que estamos fazendo. Não mais dirigido contra o ex-réu. Mas as investigações prosseguem para descobrir o que aconteceu com a vítima — explica o promotor.
A aposta das autoridades é de que alguma informação relevante, que ainda não chegou até eles, possa surgir com o tempo. O depoimento de alguma testemunha, o relato de alguém que ouviu algo e agora esteja disposto a falar ou mesmo a localização dos restos mortais da vítima seriam indícios que permitiriam reabrir a investigação por homicídio.
O gerente morava com a esposa e um sobrinho no condomínio de onde sumiu, no início da noite de 13 de novembro, após uma pescaria. A última imagem captada dele por câmeras de segurança é do momento em que seguia para o quiosque do residencial. Durante as buscas pelo gerente até um açude chegou a ser esvaziado, junto ao local onde ele morava, mas nenhuma pista do paradeiro de Potrich foi encontrada.
— Acreditamos muito que em algum momento vai surgir fio da meada. Seja testemunhal ou pericial. Trabalhamos com a hipótese de que esse crime não tenha sido praticado sozinho, pelo menos a ocultação do corpo. Sempre tem alguém que sabe. Está sendo um trabalho bem difícil, de formiguinha. Mas, mais cedo ou mais tarde, a culpa pesa e alguém vai falar — aposta Prediger.
Mesmo após a ação ter sido encerrada, pessoas da comunidade continuam procurando o MP e a polícia com informações sobre o caso. Mas, até agora, nenhuma delas foi consistente o suficiente para ser considerada prova.
— A polícia não tem dúvida de que houve um crime de homicídio — diz a delegada regional, Fabiane de Vargas Bittencourt.
O caso na época foi investigado por dois delegados, que atualmente não estão mais na Delegacia de Polícia de Anta Gorda. A delegada recorda que inúmeras diligências foram realizadas naquele período para tentar exaurir todas as possibilidades. O cenário atual, na ótica da policial, é mais complexo, já que a conclusão feita pela polícia na época não foi considerada convincente pelo Tribunal de Justiça e pelo STJ.
— Entendemos a gravidade desse fato. Aguardamos qualquer elemento, alguém da comunidade que tenha alguma informação para que possa ter subsídio para dar continuidade. Foi um caso que teve repercussão a nível de Estado. A família até hoje nos procura solicitando ajuda. Mas como houve o arquivamento do processo, existe dificuldade na investigação — afirma a delegada.
Após o caso, a esposa do gerente, Adriane Balestreri Potrich, 55 anos, deixou o condomínio onde residia e alugou um apartamento na área central do município. A família acredita que o bancário tenha sido assassinado, mas que o caso ainda será solucionado. Na mesma linha que os familiares, o promotor Prediger acredita que o tempo não impedirá que o caso seja desvendado.
— Um pai de família, esposo, gerente de banco, um homem que não tinha motivo nenhum para sumir, desapareceu, esse é o fato. A família quer uma resposta. O prazo prescricional é de 20 anos. Nós temos 18 anos para buscar essa prova nova. E eu tenho certeza que ela vem. Não é otimismo, é experiência. Tenho certeza de que em algum momento vamos chegar lá — afirma.
Colabore
Quem tiver informações sobre o caso pode procurar a Delegacia de Polícia de Anta Gorda pelo telefone (51) 3756-1138. Também é possível entrar em contato com o Ministério Público pelo telefone: (51) 3751-1143.
Relembre
Após o sumiço de Potrich, um vizinho acabou indiciado e denunciado pelo desaparecimento e morte do gerente do Sicredi. Para o MP e a polícia, o crime havia sido cometido em razão de uma desavença entre os dois.
A ação acabou sendo encerrada pelo Tribunal de Justiça, que decidiu por unanimidade em agosto de 2019 trancar a ação penal, por entender que não havia provas de que o dentista tivesse envolvimento no caso. Em maio do ano passado, após o Ministério Público recorrer pedindo que a ação fosse mantida, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) confirmou a decisão que encerra o processo.