A investigação do desaparecimento de Jacir Potrich, há um mês, em Anta Gorda, no Vale do Taquari, colocou em alerta a Polícia Civil. Inicialmente, trabalhava-se com hipóteses de mal súbito, perda de memória ou suicídio. A possibilidade de sequestro motivado pela atividade profissional chegou a ganhar força, mas, sem pedido de resgate e sem corpo encontrado, os policiais passaram a considerar outras possibilidades, não reveladas à reportagem.
Durante apuração, os investigadores procuraram corpos não identificados em necrotérios e hospitais de pelo menos cem municípios na Serra, no Norte e no Vale do Taquari. Cinco cadáveres foram encontrados, mas nenhum se encaixava com a descrição do bancário.
— Foi encontrado um corpo que estava amarrado em um pedregulho. Choveram ligações aqui na delegacia, mas não era ele — conta o delegado Pacífico.
Os policiais aguardam laudos da perícia feita na casa, último local onde o bancário foi visto. Pacífico espera resultado de auditoria realizada no Sicredi, mas os investigadores já descobriram que não houve movimentação vultuosa de valores no banco, o que pudesse evidenciar um sequestro seguido de extorsão. Sabe-se que Potrich possui seguro de vida.
O inquérito tem mais de 120 páginas, no qual foram ouvidas cerca de 60 pessoas.
Potrich mora com a mulher Adriane Balestreri Potrich, 53 anos, e com o sobrinho Arthur Balestreri, 24. O jovem está na cidade há sete meses. Segundo o delegado, o rapaz veio de Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul, para trabalhar no escritório de contabilidade da tia, após se formar no curso. O convite do emprego teria partido de Adriane.
A reportagem foi ao escritório de contabilidade para conversar com Adriane e com o sobrinho. Por mensagem, a mulher do gerente afirmou que não daria entrevista. Ao ser abordado na chegada ao trabalho, o sobrinho disse que não iria se manifestar.
No dia do sumiço, Adriane tinha ido visitar o filho do casal em Passo Fundo. O sobrinho era o único da família que estava na cidade. Segundo o delegado, ele permaneceu o dia no escritório. Passou em dois lugares antes de ir para casa e perceber a falta do tio.
Desaparecimento mudou a rotina de delegado
O sumiço fez o delegado Guilherme Pacífico mudar radicalmente a rotina. Há um mês, o policial encara diariamente um percurso de 60 quilômetros de Soledade, onde tem residência fixa, até Anta Gorda. O caminho toma mais ou menos duas horas dele por dia.
— Estou com dedicação exclusiva aqui — garante.
Antes do desaparecimento, eram raras as idas à cidade. Além de Anta Gorda, Pacífico é titular em Arvorezinha e está respondendo por uma delegacia em Soledade. Desde então, feriados foram postergados e o contato com a família ficou restrito ao turno da noite.
Acostumado com cidades maiores, Pacífico se surpreendeu com a despreocupação com segurança na cidade, chamada por ele como "europeia". Apesar da bonança, a investigação do desaparecimento acabou comprometida.
— É uma cidade que não detêm cercamento eletrônico por câmeras, com câmeras de videomonitoramento urbano, circuitos internos de televisão mais espaçados pela cidade. Isso acaba atrapalhando nosso trabalho — garante.