Uma abordagem da Brigada Militar (BM) em um condomínio de Canoas, na Região Metropolitana, desencadeou um conflito entre moradores e policiais entre a noite de quinta (26) e a madrugada desta sexta-feira (27). Após a ação policial, houve disparos de arma de fogo e pedras e fogos de artifício foram arremessados contra os policiais, além de pelo menos 11 veículos incendiados.
Moradores do Residencial Mathias, localizado na Rua Campinas, no bairro Mathias Velho, relataram que houve truculência na abordagem dos PMs. Uma moradora afirmou que os agentes teriam agredido o porteiro com tapas no rosto porque o portão estaria emperrado e teria demorado para abrir. Há relatos também de revistas a adolescentes e de agressões com tapas a uma criança.
O coronel Márcio de Azevedo Gonçalves, responsável pelo Comando de Policiamento Metropolitano, afirma que um inquérito será instaurado para apurar se houve excesso na abordagem. Contudo, ele ressalta a gravidade dos ataques contra a BM e o rastro de automóveis incendiados deixado.
— É gravíssimo também a forma como a Brigada Militar foi recebida ontem (quinta-feira) durante todo o dia por esses moradores. Isso ensejou com que nós tivéssemos uma ação mais enérgica, mais reforçada de efetivo, porque uma hostilização contra a Brigada Militar é também contra o Estado — ressalta o coronel.
O comandante explica que, ao longo da quinta-feira, foram atendidas diversas ocorrências nas imediações do condomínio. Em uma delas, teriam sido feitos mais de 10 disparos de arma de fogo. Ele também relata uma ocorrência envolvendo uma pessoa armada na UPA Caçapava, o que teria motivado a abordagem a um homem suspeito próximo do condomínio.
— Quando foi feita essa abordagem, a Brigada Militar foi hostilizada, praticamente agredida, e isso começou a fazer com que tivéssemos reforços. Inclusive, fomos agredidos por parte da portaria desse condomínio, que não conseguimos prender a pessoa por conta do apoio que ele teve de grande parte dos moradores — conta o oficial da BM.
A Brigada afirma que teria sido chamada três vezes porque um homem estaria armado e disparando na rua. A primeira foi no começo da tarde, pelas 13h, e a última por volta das 21h, quando os policiais voltaram ao local. O coronel Gonçalves afirma que os agentes não entraram no condomínio em momento algum. Ele diz também que foram utilizados equipamentos não letais como bombas de efeito moral para conter a agressão. Conforme a BM, duas pessoas foram presas durante a ação.
Investigação
O delegado Marco Antônio Arruda Guns, titular da 1ª Delegacia de Polícia de Canoas, que investiga o caso, confirma que há ligação entre a queima dos automóveis e a abordagem da Brigada Militar no condomínio. Ele comenta que a Polícia Civil trabalha para identificar a origem do conflito e se há relação com o tráfico de drogas.
— A primeira conclusão da Polícia Civil é de que não existe coincidência alguma. Naturalmente, é uma reação por parte de criminosos a uma atuação legítima da Brigada Militar. Isso é o que nós vamos investigar — afirma o delegado.
Guns pontua que há duas facções atuando na região onde fica o condomínio, uma com base no Vale do Sinos e outra originária de Canoas, fato que precisa ser investigado. Ele diz que a Polícia Civil está coletando depoimentos na região e analisando imagens de vídeo que possam ajudar a compreender o contexto do conflito.
Carros queimados
Pelo menos 11 veículos foram incendiados entre as 3h e as 6h30min desta sexta-feira. Segundo a BM, oito dos carros queimados foram registrados em Canoas, nos bairros Mathias Velho e Harmonia, e outros três, em Nova Santa Rita.
De acordo com o delegado Guns, uma equipe também ficou responsável por acompanhar o recebimento das ocorrências de possíveis proprietários de veículos que possam ter sido incendiados, para identificar se eram carros abandonados ou de moradores.