O Ministério Público (MP) e a Comissão Especial do Conselho Deliberativo do Internacional apuram inconsistências que levaram à rejeição das contas do Inter durante a administração do ex-presidente Vitorio Piffero, entre os anos 2015 e 2016. Promotores e conselheiros analisam como a gestão passada do clube permitiu que R$ 18,4 milhões fossem sacados da tesouraria a título de adiantamentos - parte deles sem a devida comprovação da despesa.
Os questionamentos das consultorias que analisaram as contas da gestão Piffero no Inter constam em três diagnósticos a que teve acesso o Grupo de Investigação da RBS (GDI), dois encomendados pelo Conselho Fiscal do clube à empresa Baker Tilly Brasil e outro feito pela consultoria EY (antiga Ernst & Young), contratada pela atual gestão, iniciada em 2017.
Em mais de 670 páginas, auditores listaram inconsistências contábeis como prestações de contas pendentes, saques sem a comprovação adequada e falta de assinaturas dos beneficiários.
De acordo com as auditorias, a gestão Piffero adotou uma política de liberação de adiantamentos de recursos, sobretudo aos seus vice-presidentes, com milhões tomados em espécie junto à tesouraria. Parte das verbas foi aplicada em finalidades desconhecidas.
Segundo as consultorias, não havia um processo formal de requisição do adiantamento nem justificativa sobre a sua necessidade. Prestações de contas foram deixadas em aberto ou, quando eram feitas, os recibos não continham a assinatura do tomador do dinheiro e tampouco de um vice-presidente concedendo autorização. A análise também percebeu que notas fiscais de numeração sequencial com datas recentes eram usadas para justificar valores recebidos meses antes.
Consultoria Baker Tilly Brasil apontou que adiantamentos eram feitos sem o devido controle:
Pendências
A Baker Tilly Brasil relacionou em um quadro os adiantamentos concedidos em 2015 a diferentes estruturas do clube e que viraram o ano sem a prestação de contas ter sido feita. Ou seja, até 31 de dezembro, a justificativa dos gastos estava pendente. A origem dos gastos só apareceu em 2016. O longo tempo entre o saque e a prestação de contas foi um dos apontamentos da consultoria. Os diagnósticos questionaram que foram apresentados notas fiscais sequenciais e comprovantes sem especificação. Os adiantamentos:
Do montante de R$ 18,4 milhões em adiantamentos, R$ 5,49 milhões teriam sido sacados na boca do caixa, conforme os relatórios da auditoria. Uma das vice-presidências que mais recorreram aos adiantamentos foi a de Finanças, então comandada por Pedro Affatato. Os relatórios das consultorias citam, inclusive, que a diretoria de Affatato retirou adiantamentos sob alegação de custeio de obras, atividade que está sob responsabilidade da vice-presidência de Patrimônio do Inter. Na prática, não havia delimitação de espaço de atribuições, o que também é incomum.
A atual direção do Inter encaminhou o resultado das auditorias ao Ministério Público, em outubro de 2017, sugerindo que a gestão de Piffero fosse investigada.
– É prematuro fazer qualquer avaliação a respeito do que está sendo apurado. O assunto está a cargo não do clube, mas do Conselho Deliberativo. O Conselho criou uma comissão e, depois de várias deliberações, entendeu encaminhar parte da matéria para o Ministério Público – afirmou o atual presidente do clube, Marcelo Medeiros, em entrevista ao GDI.
Nenhum relatório apontou superfaturamento ou fraudes
LEIA A ENTREVISTA
Não houve desvio de recursos
LEIA A ENTREVISTA