O Rio Grande do Sul passou a quinta-feira de Corpus Christi tentando retomar a rotina após a greve dos caminhoneiros. Não havia mais bloqueios, apenas concentrações isoladas de manifestantes que tentavam dar continuidade à paralisação iniciada no dia 21 de maio.
O Exército ainda mantinha tropas circulando por rodovias federais, como as BRs 116, 290 e 386, mais por precaução do que por necessidade. Um sobrevoo ao meio-dia desta sexta-feira (1º) dará condições para o chefe do Centro de Coordenação de Operações do Comando Militar do Sul, general Carlos José Penteado, decidir se a Operação Corredor Livre poderá ser encerrada.
Na quinta, o Gabinete de Crise, criado pelo governo exclusivamente para arrefecer as mobilizações nas estradas, decidiu manter o grupo atuando. O entendimento é de que, embora as rodovias estejam abertas para os veículos de cargas, é prudente realizar reuniões por mais dias.
— Movimentamos caminhões com segurança garantida por escoltas de Brigada Militar (BM), Polícia Civil e Susepe (Superintendência dos Serviços Penitenciários) nos últimos dias. O que queremos dizer à comunidade é que nossas rotinas ainda vão demorar um pouco para se normalizar em consequência de toda uma cadeia produtiva que foi afetada, mas tenho certeza de que isso todos vão compreender — ressaltou o chefe da Casa Militar, coronel Alexandre Martins.
Historicamente o dia de maior movimento nas Centrais de Abastecimento do Rio Grande do Sul (Ceasa), em Porto Alegre, a quinta-feira foi animadora tanto para produtores rurais quanto para revendedores.
O diretor-técnico e operacional da Ceasa, Ailton Machado, estima que de 80% a 90% da normalidade tenha sido atingida, com escassez apenas de culturas trazidas de outros Estados, como mamão e abacaxi, buscados do Nordeste, melão, transportado de Rio Grande do Norte, e laranja de suco, colhida em São Paulo. O tomate também estava em falta, mas não abalou o otimismo do presidente das Centrais, Ernesto Teixeira:
— Estou usando a seguinte frase: bem-vindo ao abastecimento. A Ceasa está cheia de comprador, produtor, atacadista. Se continuar assim, até segunda-feira vamos colocar o abastecimento em dia em todo o Rio Grande do Sul.
A Associação Gaúcha de Supermercados (Agas) estima que a normalidade nos estoques de produtos como hortifrútis, laticínios e carnes deve ocorrer entre quatro e seis dias a partir de hoje. A disponibilidade de itens não perecíveis não chegou a ser afetada.
Filas de veículos se mantiveram no feriado
No setor de combustíveis, a procura por gasolina ainda era acentuada nesta quinta, sobretudo pela manhã. Se enfileiravam por quarteirões veículos sedentos por litros que garantiriam o passeio do fim de semana. Também esperavam vez aqueles que não abasteceram ou que retiraram das bombas menos do que normal nas últimas duas semanas.
Agora sem o limite antes estabelecido pelos postos para garantir equidade nas distribuição restrita, o volume voltou a ser ditado pela capacidade do tanque, em geral completado sem hesitação. Isso reduz o tempo de duração dos estoques e ainda ocasiona faltas temporárias de gasolina, já que os caminhões-tanque não conseguem repor o produto na mesma velocidade com que é comercializado.
Permanece também a carência de etanol anidro, produto misturado à gasolina nas distribuidoras e que é trazido de São Paulo, Paraná e Goiás.
— Os caminhões estão chegando. Estimamos que em dois dias a situação seja normalizada das distribuidoras. Nos postos, ainda vai levar cerca de uma semana para que não haja mais reflexos da greve em nenhum município — projetou o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis e Lubrificantes no Estado (Sulpetro), João Carlos Dal'Aqua.
Na Refinaria Alberto Pasqualini (Refap), em Canoas, caminhões-tanque saíam e chegavam constantemente nesta quinta, muitos sem necessidade de escolta. Um grupo de petroleiros em greve estava reunido pacificamente na área interna.
No início da noite, assembleia do Sindicato dos Petroleiros (Sindipetro-RS) realizada em frente à Refap decidiu encerrar a mobilização, seguiu orientação da Federação Única dos Petroleiros (FUP), em razão de o Tribunal Superior do Trabalho (TST) ter elevado de R$ 500 mil para R$ 2 milhões a multa diária em caso de continuidade da paralisação da categoria.
Do lado de fora, no final da tarde, alguns manifestantes vestindo verde e amarelo e cerca de 10 homens a cavalo, além de um carro de som que reproduzia o Hino Nacional, reivindicavam a redução de impostos. Mas não havia qualquer tentativa de impedir a circulação dos veículos no local.
Conforme a Sulpetro, no Rio Grande do Sul há 2,8 mil postos — toda a cadeia produtiva do petróleo responde por 22% da receita de ICMS do Estado. No Brasil, são 40 mil estabelecimentos, que empregam mais de 400 mil pessoas. O presidente do sindicato estima que, durante os dias de paralisação dos caminhoneiros, os prejuízos para o setor chegaram a R$ 120 milhões em custos operacionais:
— Nestes dias de greve, a economia parou. Caiu o consumo de combustível e os funcionários continuaram trabalhando, o aluguel terá de ser pago, a energia elétrica foi gasta.