Após quase duas semanas de demoradas negociações e alguma indecisão, as polícias estaduais e federais partiram para cima dos grevistas da área de transportes. Conforme levantamento feito por GaúchaZH, desde o início da greve, foram realizadas 53 prisões, 11 delas no Rio Grande do Sul. Até a tarde de quarta-feira, 23 detenções haviam sido feitas. Isso significa que as prisões quase dobraram em 24 horas.
Contribuiu para isso, admite um policial federal envolvido nas ações, o fato da greve estar enfraquecida.
— Quando o movimento está no auge é muito difícil realizar prisões, mesmo que existam elementos para flagrante. No mínimo acontece uma pancadaria. Em alguns casos, pode resultar em tragédia. Melhor esperar o desgaste para agir— pondera ele, que pediu para não ser identificado.
E isso foi feito. Quando os piquetes tinham caído para menos da metade em todo o país, as polícias rodoviárias estaduais e a PRF agiram para desmontá-los. Contaram, para isso, com apoio do Exército – que, no Maranhão, prendeu sete pessoas em flagrante. Nenhum deles era caminhoneiro: eram pequenos comerciantes, empresários e até um político, que o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Sérgio Etchegoyen, chamou de "infiltrados".
Quase todas as prisões foram feitas em flagrante, por um motivo: é bem mais fácil de comprovar a depredação quando ela é constatada no ato (por filmagem ou depoimento no calor da discussão). Por vezes, os piqueteiros agem em frente aos policiais ou militares, o que facilita a detenção. Foi o que aconteceu no Maranhão, onde os mesmos apoiadores da greve bloquearam por três vezes em seis horas uma rodovia federal. Na terceira, foram presos pelo Exército.
Aconteceu algo semelhante em Caçador, em Santa Catarina, onde dois microempresários (pai e filha), foram presos em flagrante ao anoitecer de quarta-feira(30) por incitarem os caminhoneiros a não atenderem ordem judicial de desocupação de rodovia. A dupla foi indiciada por desacato, desobediência e incitação à subversão de ordem política ou social.
Ainda em Santa Catarina, o líder de um dos piquetes foi filmado durante três dias, antes de ser preso, em flagrante, por incitação ao crime e constrangimento ilegal qualificado. Ele foi registrado juntando pedras, foguetes e intimidando caminhoneiros. Santa Catarina é o Estado com mais presos: 13 até agora.
Poucos foram os casos de prisão com ordem judicial, sem flagrante. Aconteceu em apenas dois locais: São Paulo e Rio Grande do Sul. Em Jales (SP), a Justiça autorizou um mandado de prisão e de busca e apreensão na casa de um suspeito, que foi preso. Segundo a PF, ele não é caminhoneiro e estaria infiltrado na greve, onde teria ameaçado e perseguido motoristas que queriam voltar ao trabalho. Na caminhonete do suspeito a polícia encontrou munição e, por isso, ele foi preso. O homem tem antecedentes por porte ilegal de arma de fogo sem registro, porte de drogas, tentativa de homicídio e contrabando.
No Rio Grande do Sul ocorreu a única prisão por locaute do país, de um empresário, sócio de uma empresa sediada em Caxias do Sul, com 570 carretas. Ele é suspeito de associação criminosa, ameaça e depredação de caminhões que tentavam fugir da greve.
As prisões por Estado
Rio Grande do Sul
11 - seis por ameaça a condutores, dois por depredações, um por sabotagem e um por tentativa de homicídio.
Santa Catarina
13 - todos por ameaça a condutores e depredações.
Paraná
7 - quatro por depredações e incitação ao crime, dois por venda de gasolina a preço abusivo e um por distribuição de cigarros falsos aos grevistas.
São Paulo
Um por ameaça a condutores e porte ilegal de arma.
Maranhão
7 - todos por depredações e incitação ao crime.
Ceará
2 - por venda de diesel por preço abusivo.
Minas Gerais
2 - por venda de gasolina por preço abusivo.
Rio Grande do Norte
Um por atropelar um manifestante.
Espírito Santo
Um por tentativa de homicídio.
Mato Grosso do Sul
2 - um por venda de gasolina por preço abusivo e outro por depredar caminhão.
Rondônia
4 - um por homicídio e três por incitação ao crime.
Paraíba
2 - por venda de combustível a preço abusivo.