A menos de dois meses do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), milhares de alunos estão na reta final da preparação para as provas. Neste ano, 89,4% dos matriculados no 3º ano do Ensino Médio na rede pública estadual se inscreveram para fazer o exame, conforme a Secretaria da Educação do Rio Grande do Sul (Seduc).
O fim da Educação Básica já é um momento desafiador. Para estudantes gaúchos, o ano tem sido ainda mais conturbado por conta da tragédia climática que assolou o Estado. Com a enchente de maio, muitos ficaram sem aula durante um mês ou mais, seja pela infraestrutura comprometida em casa, seja pela situação das escolas.
Neste cenário, gestores e professores têm feito trabalho de recomposição de aprendizagens, revisão e preparação para o Enem, de modo a garantir o engajamento e bom desempenho dos candidatos – mesmo com os impactos.
É o caso de Amanda da Silva Gonçalves, 17 anos. A estudante está no último ano do Ensino Médio e mora em Pelotas, no Sul do Estado, uma das cidades mais atingidas pela catástrofe. Ela e a família moravam na colônia de pescadores Z3 e, quando a água subiu na localidade, tiveram de passar 45 dias fora de casa.
Foi muito tempo sem acesso à luz e internet, o que a impossibilitou de acompanhar as aulas online de sua escola, do Serviço Social da Indústria (Sesi-RS). Após serem retomadas as atividades presenciais, ela intensificou a rotina de estudos para o Enem, e conta que o apoio da Escola Sesi Eraldo Giacobbe tem sido fundamental.
— Eu não estava me preparando quando teve a enchente. Eu nem conseguia assistir aula, não tinha nem luz nem internet. Agora estou me sentindo confiante, os professores estão puxando bastante a gente. Fizemos exames preparatórios para o Enem, estudamos bastante linguagens, fizemos redações para treinar — conta a aluna, que quer estudar Enfermagem ou outro curso na área da Saúde.
Conforme a professora de Sociologia Isadora de Leon Torres, da Escola Eraldo Giacobbe, a instituição trabalhou muito neste ano para ampliar o repertório dos alunos, com foco no Enem e nas demais avaliações externas. Foram intensificadas as leituras, por exemplo, abordando a temática da catástrofe climática e soluções para problemas ambientais.
Além do reforço no conteúdo, é importante que as escolas ofereçam suporte emocional nesse momento:
— É importante que a gente consiga estar ao lado deles para dar conta desse momento de avaliação externa, como o Enem — afirma a professora, destacando que os fenômenos vividos deixam a situação mais complexa.
Esforço da rede estadual
Na rede estadual, pelo menos 1.103 das 2.338 instituições foram afetadas de alguma forma, impactando cerca de 330 mil alunos no momento mais grave da enchente. Um deles foi Kauã Cardoso Silva Salvador, 18 anos, que chegou a ser resgatado de sua residência em Canoas, na Região Metropolitana. Ele conta que, naquele momento, seu foco foi o voluntariado, para ajudar pessoas que precisavam.
— Depois que teve a enchente fiquei muito perdido, porque eu não sabia por onde começar. Fiquei preocupado com o meu pai, em como organizar a nossa casa, como voltar para os estudos, até porque no mesmo dia que fui resgatado já vim para a escola para ficar como voluntário — relata.
Ele está no 3º ano do Ensino Médio na Escola Estadual de Ensino Médio (EEEM) Professora Margot Terezinha Noal Giacomazzi, que serviu como abrigo durante 45 dias em Canoas, e ficou sem aulas durante boa parte desse período. Com isso, professores e alunos tiveram de se reinventar para retomar a rotina preparatória.
Segundo o professor de Linguagens Eduardo Nazário, o programa de Estudos de Aprendizagem Contínua da Seduc tem sido fundamental nesse processo, inclusive para resgatar o elo dos estudantes com a escola e garantir o envolvimento deles nas atividades.
— Pensamos num ângulo mais social, em como gerar interesse do aluno pela escola. Nós fizemos uma feira cultural, por exemplo. Selecionamos países e eles foram desafiados a criar uma apresentação falando sobre a cultura daquele país específico. Eles prepararam vídeos, pratos típicos, esquetes para expressar corporalmente aquele tema. Isso tudo traz uma dinâmica, não é só a aula tradicional — conta o professor.
Para Kauã, que quer cursar Medicina, o apoio da escola tem sido importante nessa reta final. Já a aluna Julia da Rosa Figueiredo, 17 anos, também pretende ingressar no Ensino Superior em breve, mas está em dúvida entre Direito, Relações Internacionais e Psicologia. Para ela, além da escola, o estudo em casa é uma parte importante da rotina.
— Agora está mais tranquilo. Eu estudo bastante por fora. Refaço provas, faço bastante simulado e foco também nos conteúdos específicos e matérias que tenho mais dificuldade — afirma.
Devido à enchente de maio, os candidatos gaúchos foram isentos da taxa de inscrição. A Seduc fez um mutirão com ações para estimular a participação dos estudantes na rede no exame. Com isso, a adesão quase triplicou, conforme o governo. Na edição deste ano, 70 mil estudantes de escolas estaduais se inscreveram no Enem; em 2023, foram cerca de 26 mil.
A secretaria tem conduzido uma série de iniciativas para assegurar que os alunos estejam preparados, mesmo com os desafios da crise climática. Por meio da campanha Vamo pra Cima, a Seduc disponibilizou aos alunos uma série de cadernos de exercícios preparatórios voltados ao Enem 2024.
Além dos materiais de apoio, o programa oferece aulões ao vivo pela TV Seduc RS com professores influencers de todo o Brasil e caravanas de reforço escolar com eventos presenciais em todas as regiões do RS. As ações ocorrem em parceria com a ONG Embaixadores da Educação.
Enem 2024
As provas do Enem serão aplicadas nos dias 3 e 10 de novembro, com questões em quatro áreas de conhecimento.