A Região Metropolitana de Porto Alegre foi uma das regiões mais atingidas pela enchente, e os moradores seguem na luta pela reconstrução. Em Canoas e Eldorado do Sul, dois dos municípios mais afetados, a educação é um dos principais desafios a enfrentar. Considerando a rede estadual, pelo menos 18 escolas foram afetadas nas duas cidades, e muitas delas seguem fechadas.
É o caso da Escola Estadual de Ensino Médio Professor Américo Braga, a mais antiga de Eldorado. Com 73 anos de história, a instituição está fechada desde o dia 2 de maio, após ter ficado debaixo d’água. Além dos danos materiais, incluindo uma cratera no pátio, móveis, livros, salas, geladeiras e refeitório comprometidos, todos os 550 alunos e 43 colaboradores foram atingidos pela tragédia climática em seus lares.
Por isso, desde o mês passado, a escola no bairro Sans Souci está oferecendo aulas de forma híbrida, com os estudantes sendo atendidos no Clube de Mães Amizade. Como o espaço comporta poucas pessoas, as aulas estão funcionando por revezamento, modelo adotado pelo Estado em diversas instituições. Nos dias em que não estão presencialmente no local, as crianças e jovens têm aulas remotas.
— As pessoas que não trabalham em escola pública não têm ideia do que significa cada conquista, cada coisinha que a gente consegue. Conseguimos aquela rampa em 2022, antes a nossa escola não era acessível. Lutamos muito para conseguir isso, e agora a rampa está daquele jeito, toda quebrada. É muito triste ver a escola assim — lamenta a diretora Adriana Rosa Brzezinski.
Também foram danificadas as pastas com os documentos dos alunos, o que dificulta a localização dessas crianças e jovens. A instituição ficou interditada por um período, passando pela avaliação de engenheiros, e agora está sendo higienizada por uma equipe de apenados em regime semiaberto, com o apoio da Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe). A equipe é de Montenegro.
A limpeza deve ser concluída na sexta-feira (12), mas a escola ainda depende de obras para voltar a operar, como a quadra de esportes, que sofreu problemas por conta da cratera no pátio. Parte dos reparos estão sendo feitos com verbas emergenciais do programa Agiliza, do governo do Estado. Segundo a diretora, a previsão de retorno presencial no local é em agosto, após o recesso.
Nossa preocupação urgente é voltar a vincular os alunos à escola. Queremos estar ainda nesse semestre com eles vinculados, para fazer esse acolhimento antes do início do segundo semestre. Tem toda essa questão emocional da retomada. A escola precisa ser a última a fechar e primeira a reabrir, quando ocorrem esses eventos.
CLAUDETE OLIVEIRA
12ª Coordenadoria Regional de Educação
Apesar de não estarem na escola, os estudantes estão frequentando as aulas híbridas, com encontros no Clube de Mães, que fica no mesmo bairro. Para Elisa Cristiane Paillo Machado, que é servente de escola e mãe de uma aluna do 3º ano do Ensino Fundamental, é fundamental ter esses encontros.
— Pelo menos a gente consegue dar um pouco de afeto e conforto para os pequenos. A gente vem aqui e se encontra, se ajuda, é muito importante. A escola é nossa segunda casa, a gente passa mais tempo na escola do que dentro de casa. Se Deus quiser vamos conseguir recomeçar — conta.
As outras quatro escolas da rede estadual atingidas em Eldorado já retomaram as atividades, mas todas de forma remota. De acordo com a Secretaria da Educação do RS, será reaberta nesta quarta-feira (10) a Escola Estadual de Ensino Médio Eldorado do Sul, que também estava fechada desde maio. A água chegou a 1m80cm no prédio da instituição, mesmo estando em um local mais alto, que chegou a servir de abrigo no início da enchente.
Reconstrução em Canoas
Em Canoas, a Escola Estadual de Ensino Médio Guarani ainda precisa passar por obras para poder receber os alunos. A instituição localizada no bairro Fátima tinha 597 estudantes antes da enchente. Após a catástrofe, o número de matriculados caiu para cerca de 530.
A escola passou por uma força-tarefa de limpeza em junho, com auxílio do Exército, mas deve ficar fechada por pelo menos mais um mês. Enquanto isso, os alunos do Ensino Fundamental e Médio estão tendo aulas online, e os professores estão lecionando parte das aulas de uma outra escola, o Instituto Educacional Estadual Dr. Carlos Chagas. As instituições estaduais de Canoas que não foram afetadas estão cedendo o espaço, sendo chamadas de “escolas madrinhas”.
Apesar disso, os alunos estão enfrentando dificuldades para se adaptar às aulas remotas, em um processo ainda mais desafiador que o da pandemia, há quatro anos.
Estamos tendo 50% de adesão dos estudantes que estão participando. Muitos ainda estão limpando suas casas sem previsão de retorno. Está sendo diferente [da pandemia], muitos alunos não estamos conseguindo acessar pois muitos perderam os celulares na enchente, outros estão sem endereço. É muito doloroso.
TATIANI PRESTES
Diretora da Escola Estadual de Ensino Médio Guarani
Mãe de um aluno com transtorno do espectro autista, Amanda Laguna Karnopp conta que está usando arcando com transporte para levar o filho à escola provisória, já que ele possui dificuldades de acompanhar à distância.
— Está sendo muito difícil. A internet é um horror, às vezes dá, às vezes cai o tempo inteiro. Meu filho não consegue acompanhar. A gente está tendo que pagar transporte por aplicativo para ele ir para a escola, que é mais uma despesa que a gente não está contando — relata.
Nesse momento, a direção aguarda um retorno de uma empresa contratada pela instituição com o orçamento das obras que precisaram ser feitas, entre elas, a retirada do piso das salas e a reforma dos mobiliários. Algumas classes e cadeiras novas já chegaram, mas seguem embaladas. A expectativa é ter condições mínimas de retomar as atividades no retorno do recesso, dia 5 de agosto.
— Essa é a previsão da nossa coordenadoria. Mas, neste momento, isso não depende da escola, e sim desses orçamentos que estamos organizando — acrescenta a diretora Tatiani.