O início como hub universitário poderia dar a impressão de que a Aliança Empresarial Norte RS era um projeto despretensioso. A lista das nove empresas idealizadoras da iniciativa, a ampliação meteórica de suas atividades e os resultados céleres, no entanto, mostram que o agora Instituto Aliança Empresarial veio para ficar – e quer colocar de vez a região Norte no mapa do empreendedorismo e da inovação do Rio Grande do Sul.
Quando a reportagem de GZH foi a Passo Fundo conversar com integrantes da Aliança Empresarial, na primeira quinzena de maio, o grupo celebrava o início da segunda etapa de seus projetos. Lançada em novembro de 2020, a união da faculdade IMED com as empresas BSBios, Coprel, Cotrijal, Farmácias São João, Grupo Grazziotin, Hospital Ortopédico, Metasa e Oniz Distribuidora focou, em seu primeiro ano de existência, em pensar internamente sobre possibilidades de iniciativas inovadoras do grupo local e regionalmente. Com o passar dos meses, foi ganhando novos participantes e, em setembro de 2021, um espaço físico foi criado dentro da Imed para que o programa funcionasse.
Em abril de 2022, um novo passo foi dado pelos empresários: de hub, a Aliança Empresarial ganhou status de instituto e pretender seguir a mesma linha de outras iniciativas gaúchas, como os institutos Caldeira, da Região Metropolitana, e Hélice, da Serra. O trio de organizações já tem, inclusive, um acordo de cooperação assinado, que visa tornar o RS um polo empreendedor.
Agora, a Aliança Empresarial busca uma sede para funcionar para além do espaço localizado na IMED.
— Tivemos este primeiro espaço, que possibilitou trocas iniciais. A partir disso, as empresas compreenderam os resultados que podemos alcançar por meio da inovação. Então, nos tornamos um instituto, que terá sede própria, para podermos agregar com mais facilidade instituições que, mesmo parecendo concorrentes, também podem colaborar de muitas formas — explica o recém-empossado CEO do Instituto Aliança Empresarial, Diego Gazaro.
É consenso entre empresários da região que o ecossistema de inovação do RS está mais aberto, desenvolvido e propício para o trabalho colaborativo. Com o apoio de startups, universidades, empresas e poder público, o grupo pretende transformar a realidade da região Norte.
Um dos desafios é sensibilizar as corporações locais a investir em programas de inovação. Hoje, a Aliança Empresarial já investe em três startups, e pretende ampliar essa carteira.
— À exceção da Serra e da Região Metropolitana, temos o hábito, aqui no Estado, de investir em “cimento”, por mais que se tenha capital disponível. Então, também há um trabalho de sensibilização de mentalidade, inclusive por meio de eventos, para conseguirmos traduzir essa cultura da inovação aberta, de empreendedorismo e de conexão com startups — analisa Gazaro.
O que é jornalismo de soluções?
É uma prática jornalística que abre espaço para o debate de saídas para problemas relevantes, com diferentes visões e aprofundamento dos temas. A ideia é, mais do que apresentar o assunto, focar na resolução das questões, visando ao desenvolvimento da sociedade.
Objetivos em comum
Contratada pela Aliança Empresarial, a Semente Negócios mapeou o que as empresas que formam a iniciativa tinham em comum e, a partir disso, ajudou a selecionar as três startups. As parcerias já permitiram melhorias em diferentes processos dos empreendimentos e economia de recursos, que, nesta segunda etapa do trabalho do instituto, serão reaplicados em ideias de inovação.
— Um dos focos em comum que nós temos são as pessoas. Por mais que o setor de cada empresa seja bastante distinto, todos nós lidamos com pessoas, e os resultados passam por essas pessoas — comenta Eduardo Caceres, gerente de contratos da Metasa.
Empresa que desenvolve há 46 anos soluções de engenharia, fabricação e montagem em estruturas metálicas, a Metasa realizou capacitações em inovação para seus líderes e gestores, a fim de fomentar a cultura da inovação. Também criou uma célula inovadora, da qual participam pessoas de todas as posições e setores da empresa. Os projetos sugeridos pelos colaboradores geraram uma economia direta de aproximadamente R$ 1 milhão em redução de consumo de tintas e gases.
— Nossos projetos foram desenvolvidos internamente, com o apoio da Aliança, trocando informações com outras empresas de forma contínua. Nosso produto é a estrutura metálica e, muitas vezes, não é possível modificar a forma de produção em si. Mas podemos nos reinventar, e ninguém melhor do que a nossa própria equipe para saber como fazer isso — relata Caceres.
Para incentivar a participação dos colaboradores nos projetos, a Metasa criou sistemas de premiações e reconhecimentos públicos para as ideias trazidas. No primeiro ano de trabalho, em torno de 350 pessoas – cerca de metade da empresa – participou das discussões.
Trinta e sete ideias foram implementadas e muitas outras foram para um banco de sugestões que deverão ser postas em prática no momento oportuno. Entre as iniciativas, estão rotinas repetitivas que podiam ser automatizadas e o reaproveitamento de resíduos, como madeira e aço, sem perder a qualidade.
Engajamento dos colaboradores
A Coprel, que atua nos setores de telecomunicações e de geração e distribuição de energia para 82 municípios da região Norte, tem procurado envolver todos os colaboradores no processo de fomentação da cultura de inovação na cooperativa. A empresa já recebeu 157 ideias dos funcionários.
— Engajamento é uma palavra que temos multiplicado entre todos, para que todos possam apresentar suas ideias, que às vezes ficam guardadas, com receio de oferecer para a diretoria e o conselho. Temos tido grande ganhos e experiências maravilhosas — comenta Edson Pedrotti, que atua em nível de diretoria nas áreas administrativa e financeira da Coprel.
Dez ideias já foram aprovadas e oito já foram concluídas ou estão em fase de implantação. A economia foi de R$ 1,75 milhão no período. O foco foi melhorar a experiência dos clientes, tanto na área de energia, quanto na telecomunicação. Entre as sugestões já implementadas, está o atendimento por WhatsApp e a integração entre cadastros de clientes de diferentes produtos, a fim de agilizar as contratações.
— Oferecemos internet, telefonia e telefonia móvel. Quando o cliente contratava esse pacote todo, a gente perdia um tempo significativo na hora do cadastro, pela falta de integração dessas funções, e isso foi um desenvolvimento da equipe interna, que conseguiu que num único momento fosse efetuado o cadastro. Temos tido resultados significativos na melhora da experiência — celebra Pedrotti.
Outro projeto importante foi a digitalização da documentação no momento da solicitação do fornecimento de energia. Com isso, se tornou desnecessário que o contratante esteja no local na hora da instalação, o que gerava dificuldades de agenda e de logística entre cliente e eletricista.
Novas parcerias
A UNA Construtora entrou na Aliança Empresarial há cerca de oito meses, a convite do grupo. Cristiano Basso, CEO da empresa, conta que desde o início encontrou similaridades com as outras companhias, especialmente no que se refere à busca por inovação mesmo dentro das pequenas coisas.
— O setor da construção civil é um pouco diferente do de indústrias ou agronegócio, por exemplo, mas também temos similaridades incríveis. Nós discutimos problemas e sucessos, para chegar a conclusões. Depois, consequentemente você aprimora isso no seu dia a dia na empresa — pontua Basso.
Mesmo em pouco tempo, o CEO já aponta alguns resultados dessa parceria com o instituto. De modo geral, percebe que está mais fácil de medir o que se está fazendo de certo e de errado.
— Antigamente, era uma coisa que não se conseguia. Se trabalhava, trabalhava, fazia coisas certas, coisas erradas, mas demorava para se ter esse retorno. Agora, tu troca o material da construção e avalia ele por 15 dias, por exemplo. Nesses 15 dias, a gente consegue ver o tempo empregado, o desperdício, quantas pessoas foram empregadas ali, quantas tínhamos antes. Eu diria que, para nós, a maior vantagem neste momento é a inovação nos processos que a gente adotou — resume Basso.
O executivo ainda cita um software contratado que fez uma mudança importante de logística dentro das obras. Com ele, é possível calcular de forma mais assertiva quando a obra será entregue, que leva em conta, inclusive, questões meteorológicas.
Ganhos educacionais
A parceria entre IMED e o Instituto Aliança Empresarial permite ganhos mútuos – se, por um lado, as empresas são favorecidas pelas novas ideias surgidas diante da aproximação com professores e estudantes, por outro, os alunos já têm experiências empreendedoras durante a faculdade e podem até mesmo sair de lá com investimentos em startups. A iniciativa da faculdade permite que problemas da região sejam solucionados.
— A IMED tem um programa chamado Desafios do Empreendedorismo, com vários professores da área, onde são trazidos desafios da vida real, para que os alunos tenham esse espírito empreendedor e tragam novas ideias. Essa conexão é muito importante, porque muitos já saem empregados — destaca Sonara Stringui, gestora de carteira da Semente Negócios.
Além de CEO do Aliança Empresarial, Gazaro também é professor da faculdade e ministra a disciplina citada por Sonara. Sua percepção é de que hoje há uma grande necessidade de desenvolver na prática os conhecimentos teóricos aprendidos em sala de aula.
— A IMED sempre se posicionou muito de forma a atender as demandas da sociedade atual. Isso passa também pela conexão com o mercado, de entender o que as empresas estão buscando, porque não basta simplesmente formar o aluno e ele não ter a oportunidade de colocar a mão na massa e partir para a execução depois — analisa o executivo.
Na faculdade, os estudantes recebem desafios reais e trabalham em cima deles. A partir disso, propõem protótipos, que podem ser transformados em soluções reais, a partir da interação com outros elos dessa cadeira, como as empresas.