Situada entre municípios com altos índices de criminalidade, Cachoeirinha também sofre os efeitos da disputa por pontos de tráfico de drogas. Nos últimos anos, a cidade se tornou palco de muitos conflitos e a população passou a sentir no dia a dia o reflexo da insegurança. Na tentativa de deixar esse cenário para trás, forças de segurança afirmam que vêm traçando estratégias e trabalhando em conjunto para combater a criminalidade.
A atuação começa a mostrar resultados: Cachoeirinha fechou os últimos três meses (fevereiro, março e abril) sem registrar homicídios, de acordo com números divulgados pela Secretaria da Segurança do Estado (SSP-RS) — os números de maio só serão divulgados após estarem consolidados.
Nos mesmos três meses do ano passado, o município havia registrado quatro vítimas de homicídio doloso — quando há intenção de matar. Em 2020, o total fora ainda maior, com seis mortes entre fevereiro e abril.
De acordo com a Polícia Civil do município, a única morte deste ano ocorreu na madrugada do dia 8 de janeiro, na Rua Alameda do Luís, na Vila Anair, uma das regiões que mais sofre com a violência em Cachoeirinha. Na época, o inquérito policial indicou que a morte do homem foi motivada pela disputa do tráfico.
A queda nos índices é celebrada por líderes da segurança pública de Cachoeirinha, que destacam o trabalho integrado.
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Intensificação de investigações
A Polícia Civil afirma que intensificou as investigações. Conforme o delegado Juliano Ferreira, titular da 1ª Delegacia Regional Metropolitana, responsável por Cachoeirinha, além de buscar esclarecer os fatos registrados no município, as equipes também vêm concentrando esforços na tentativa de retirar de circulação os envolvidos nos casos.
De fevereiro a abril deste ano, foram efetivadas 48 prisões de pessoas envolvidas com tráfico de drogas, homicídios e roubos, segundo Ferreira. No ano passado, no mesmo período, o número foi quatro vezes menor, com 12 prisões.
— Sabemos que o que fomenta os crimes de homicídio e de roubo é o tráfico de drogas, eles estão ligados direta ou indiretamente. Então, ao combatermos esses delitos em sua origem, ocorre a queda nas ocorrências. O objetivo é sufocar, diariamente, o tráfico de drogas. A orientação é para que, nesses crimes graves, assim que se tenha a autoria, se represente pela prisão. Isso porque, geralmente, as pessoas envolvidas com esse tipo de crime já possuem antecedentes criminais, então não há outra maneira de se lidar com elas que não seja colocando-as atrás das grades, retirando-as de circulação — diz Ferreira.
O trabalho nas duas delegacias do município é feito pelos delegados Anderson Spier e Carlos Eduardo de Assis.
Direcionamento estratégico de PMs
Por parte da Brigada Militar, a corporação afirma que vem direcionando de forma mais estratégica os policiais. Por meio de reuniões semanais entre líderes de batalhões do local, as equipes se debruçam sobre os detalhes de cada ocorrência dos últimos dias e traçam metas para coibir novas ações. Ou seja, PMs identificam os locais que vêm registrando os delitos e concentram as equipes nesses pontos.
— Analisamos o que ocorreu, onde e como, e então buscamos conter a ação o mais rápido possível. É um trabalho que ocorre toda semana. Se houve crime, nós vamos para cima desse ponto. A estratégia pode ser revisada semanalmente, ajustada se necessário, o que a torna mais ágil. Esse trabalho traz dois efeitos importantes: prejuízo ao tráfico de drogas, por meio de abordagens e prisões, e segurança aos moradores, que veem a presença da BM nas ruas — explica o tenente-coronel Rafael Tiaraju de Oliveira, comandante do 26º BPM e responsável pela corporação em Cachoerinha.
Outro trabalho que foi intensificado pela BM foi a abordagem de veículos, por meio de barreiras em pontos estratégicos da cidade. Em abril de 2022, as equipes abordaram 4.942 veículos, contra as 3.375 ações registradas no mesmo mês de 2021.
Foco territorial
Tanto Ferreira quanto Oliveira destacam também o trabalho feito dentro do programa RS Seguro, criado pelo governo do Estado, que prevê uma atuação integrada entre instituições de segurança, com foco territorial, realizado especialmente em locais que apresentam indicadores elevados de violência.
— Claro que as grandes investigações são importantes, não há dúvidas. Mas esse programa nos fez resgatar a atenção a crimes "menores", que realmente assolam os moradores, como roubo de veículos e a pedestres, além dos homicídios. São os crimes que mais registram ocorrências e que mais impactam na população. Além disso, o programa nos exige a integração, são reuniões entre polícia civil e militar, juiz e promotor do município, equipe do IGP, da Susepe, da Guarda Municipal. Todos debatendo os indicadores locais e o que será feito sobre eles. É um programa que acerta muito nesses sentidos — opina o delegado Ferreira.
Reflexo percebido nas ruas
Após sofrer ao menos seis assaltos em oito anos, a comerciante Maria (nome fictício), 41 anos, passou a atender apenas com as grades fechadas. Só entram no estabelecimento clientes conhecidos. Os rostos novos ficam de fora, atendidos pelo portão de ferro.
A loja que ela comanda fica em uma rua do bairro Vila Anair, perto de onde ocorreu a única morte deste ano no município, em janeiro. Apesar de estar em uma das regiões mais violentas de Cachoeirinha, ela afirma perceber a diminuição nos casos.
— Por segurança, seguimos com as portas fechadas. Mas faz uns dois anos que não tivemos mais assaltos aqui. Parece que acalmou, tanto aqui na redondeza quanto na cidade, a gente não vê mais tantos relatos de assaltos, de mortos — relata.
Perto dali, no bairro Granja Esperança, outras duas moradoras, que preferem não ser identificadas, também dizem que os relatos de assaltos e outras ações violentas na vizinhança diminuíram nos últimos seis meses.
— Não temos visto mais tantos relatos por parte de conhecidos, parece que diminuiu mesmo. Não é como há um tempo atrás. De qualquer forma, a gente segue com os cuidados, claro: o celular está sempre no bolso quando estou na rua, tento andar sempre nas avenidas com mais movimento, sem entrar nas ruas menores — afirma uma delas.