Em junho deste ano, um mês depois que a pior enchente da história atingiu o Rio Grande do Sul, foi lançado o fundo filantrópico emergencial RegeneraRS, idealizado pelo Instituto Helda Gerdau (IHG), em parceria com a Din4mo Lab, com aportes do instituto, da Gerdau e da Vale.
O fundo destina recursos aos impactados pela tragédia climática. Neste 18 de dezembro, completam-se exatos seis meses do lançamento da iniciativa e, segundo o coordenador-executivo do RegeneraRS, Tarso Oliveira, 77 mil pessoas já foram atendidas.
Confira a entrevista com Oliveira que, além de coordenador-executivo do RegeneraRS, é também empreendedor social que cria oportunidades para pessoas em vulnerabilidade através da diversidade e inclusão nas empresas:
Como está o trabalho do RegeneraRS?
O fundo surgiu da articulação de três organizações. O Instituto Helda da Gerdau, a própria empresa Gerdau e a Din4mo, que é uma empresa de São Paulo que trabalha inovação e impacto social. No início, perguntamos o que vinha depois da emergência. E aí, as palavras reconstrução e regeneração vieram à tona. Começamos perguntando como é que a gente poderia atuar dentro desse processo de reconstrução do Estado e veio a criação desse fundo catalítico, dessa coalizão que é voltada para a mobilização de capital social, financeiro e intelectual em prol da reconstrução e regeneração do Rio Grande do Sul. E pensamos em atuar em quatro áreas: educação, negócios, soluções urbanas e habitação. Hoje, já temos em torno de R$ 40 milhões no fundo, onde aplicamos essa lógica que chamamos de lógica catalítica para os projetos, porque entendemos a necessidade de multiplicação de capital na ponta. Sabemos que as enchentes afetaram a nossa economia. E como recuperamos isso? A luta é através de projetos. Temos, por exemplo, projetos de reconstrução de casas. Temos projetos que atuaram junto à Secretaria de Educação para ajudar num plano de recuperação. Temos projetos que estão levando crédito social para empreendedores afetados pelas enchentes, abaixo dos juros de mercado e com carência de pagamento. Obviamente, entendendo o momento dos empreendedores. Olhamos para diferentes aspectos. Estamos também olhando para projetos SBN, que são soluções baseadas na natureza, para ajudar o Estado como um todo. E hoje já temos outras empresas que estão no nosso fundo. Temos empresas de diferentes portes com a gente.
O fundo surgiu de um evento climático extremo e sabemos que isso vai ser cada vez mais recorrente. Vocês trabalham também para prevenir? Como é que, além de trabalhar na reconstrução, o fundo atua para que nem precise reconstruir?
Temos a Área de Aprendizado e Monitoramento de Impacto. Essa área está acoplada aos projetos que deliberamos para aprender, na prática, como podemos evitar uma situação nessas proporções. Estamos aprendendo, infelizmente, é que elas (situações como a enchente) são inevitáveis a partir de agora, mas, se elas ocorrerem, como é que a gente se adapta dentro de um processo mais resiliente? Temos aprendido desde soluções de casas mais rápidas para serem entregues, como é que preparamos, por exemplo, as empresas para essa adaptação climática e emergencial e como preparamos a própria educação. Temos os alunos que enfrentaram a pandemia, a enchente. Como é que trabalhamos para não ter um déficit de aprendizado deles? Tudo isso, hoje, o Regenera olha de uma forma bem transversal e coletiva, porque a gente trabalha de forma multi-setorial. E não fazemos, obviamente, nada disso sozinho. Só estamos ali catalisando e trazendo luz e possibilidades para projetos e também parceiros que já estão fazendo na ponta. Estamos tentando entender como é que adaptamos, de fato, processos que estão afetados para sermos mais fortes no futuro.
Quais resultados observados até agora?
Já temos, até agora, em torno de 77 mil pessoas atendidas pelo fundo. Atualmente, usamos muito alguns indicadores próprios, que para cada R$ 1 doado, a gente conseguiu já transformar ele em R$ 31 na ponta. Hoje já deliberamos em torno de R$ 15 milhões. E isso, na ponta, já virou quase meio bilhão de reais. Estamos olhando essas multiplicações do capital para justamente conseguir reaquecer a economia na ponta. Vamos impactar para conseguir ter melhores taxas de juros e assim melhorar todo o ecossistema. Trabalhamos com essas formas para conseguirmos levar mais dinheiro para a ponta de uma forma mais escalável. Precisamos de novas lógicas financeiras para conseguirmos ajudar o Estado de uma forma mais inovadora. E o mais legal é que a gente já vem tendo reconhecimento no Brasil todo. Também já começamos algumas conversas com o pessoal da Espanha, que teve uma situação bem similar à nossa. Estamos compartilhando essas informações através desses aprendizados que temos aqui.
Você atua com diversidade e inclusão nas empresas e isso está dentro da sigla ESG. E temos a enchente como um ponto de impacto, de urgência de mudança. Como as empresas podem utilizar esse evento extremo para se adaptarem não só às mudanças climáticas, mas também à necessidade de incluir a diversidade em seu dia a dia?
Infelizmente há certas pautas que só funcionam a partir das catástrofes. Uma coisa que estamos aprendendo é que está tudo interligado. Não podemos falar de justiça climática sem falar de diversidade e inclusão e vice-versa. Não tem como falar de ambiental sem social. A gente teve casos bem nítidos dentro dos abrigos. É toda uma situação que acarreta e afeta todos nós. As empresas precisam entender um pouco do seu papel fundamental dentro da sociedade, como protagonistas dessa reconstrução. Isso, para mim, inspira todo o mercado empresarial a entender que, como aquela velha frase: “grandes poderes, grandes responsabilidades”. Grandes empresários são formadores de ideias e de movimentos e eles se posicionarem e entenderem o papel deles é fundamental para nossa reconstrução em diferentes áreas: ambiental, social, de diversidade e inclusão.