A relação comercial entre Brasil e China deu um salto proporcional ao crescimento da economia chinesa, por anos na casa dos dois dígitos. Há 20 anos, os chineses representavam apenas 1,8% das importações e 2% das exportações brasileiras – ocupando o 14º lugar na lista de parceiros comerciais. Hoje, 21% das vendas externas do Brasil têm como destino o gigante asiático, que desde 2009 passou a dominar o mercado externo brasileiro.
– Houve uma grande mudança na pauta comercial nos últimos anos. De bens de consumo com menor conteúdo tecnológico, a China passou a vender ao Brasil bens de capital em geral – destaca Carlos Eduardo Abijaodi, diretor de Desenvolvimento Industrial da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Enquanto isso, o Brasil segue na maldição dos países subdesenvolvidos: exporta produtos baratos e importa produtos caros. Cerca de 80% da pauta exportadora brasileira para a China se concentra em três produtos: petróleo, minério de ferro e soja.
– O Brasil deve perseguir o aumento do valor agregado de suas exportações à China, estimulando investimentos aqui e trabalhando em conjunto para fomentar projetos de infraestrutura do banco dos BRICS – acrescenta Abijaodi.
A China é hoje o principal comprador de soja e carne bovina do Brasil. As compras dos chineses chegam a quase 80% dos embarques do grão nos portos brasileiros e a mais de 40% de toda carne de gado exportada. Essa relação de dependência é benéfica ao país? Depende o olhar sob a questão.
– É uma dependência de mão dupla. Nós dependemos da China e a China depende de nós. O nosso principal cliente é o país mais populoso do mundo com nível de renda para consumir. Não vejo problema nisso. Problema teríamos se não tivéssemos uma China como compradora – avalia Antônio da Luz, economista-chefe da Federação da Agricultura no Rio Grande do Sul (Farsul).
Mais recentemente, a relação sino-brasileira foi ampliada do comércio para investimentos. Os chineses tornaram-se as principais fontes de investimento estrangeiro direto no país, com destaque para os setores de energia e mineração, siderurgia, infraestrutura e agronegócio.
– Os chineses estão atrás de bons negócios, onde quer que eles estejam. O Brasil precisa deixar a ideologia de lado, sem fazer distinção entre países por diferenças de regimes políticos – indica o coordenador do Núcleo de Estudos Brasil-China da Escola de Direito da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Evandro Menezes de Carvalho, exemplificando que é possível aumentar a relação entre os dois países na transferência de tecnologia, em carros elétricos e inteligência artificial.
A harmonia entre Brasil e China até agora poderá sofrer instabilidade nos próximos anos se o presidente eleito Jair Bolsonaro confirmar alinhamento com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Os chineses fizeram duras advertências logo após o segundo turno das eleições, afirmando que a aproximação de Bolsonaro e Trump pode custar caro ao Brasil. O alerta foi feito por meio de editorial do jornal China Daily, principal canal de interlocução do governo chinês com o Ocidente.