Em 1978, quando a agricultura era a principal fonte de renda na China, o lucro líquido anual por produtor rural era de 134 yuans (o equivalente a R$ 74). Em 2016, o rendimento foi aumentado para 12.363 yuans (o equivalente a R$ 6.814). Descontada a inflação no período, a média de crescimento anual foi de 7,2%.
Os chineses voltaram a conhecer o conceito de propriedade de terra somente após a morte, em 1976, do ditador Mao Tsé-Tung. Antes disso, a fome havia matado milhões de pessoas em consequências devastadoras do projeto Grande Salto à Frente, instituído por Mao em 1958.
A iniciativa desejava transformar a China em uma superpotência industrial. Camponeses viraram operários para aumentar a produção de ferro e aço. Cerca de 90 milhões de pessoas deixaram o campo pelas cidades. Em um ano, a produção de aço dobrou e, em dois, a de cereais caiu 25%. O resultado foi desastroso.
Dentro do plano de reformas iniciado por Deng Xiaoping, em 1978, cada família passou ter um pedaço de terra de 600 metros quadrados para plantar – entregavam uma cota ao governo e ficavam com o restante.
– A política que restabeleceu o direito à propriedade da terra agrícola foi muito bem implementada. Até junho de 2017, 1,05 bilhão de hectares de terras agrícolas foram confirmados para agricultores – destaca Wu Huifang, pesquisadora da Universidade Agrícola da China, que estuda os impactos do desenvolvimento rural ao lado das colegas Pan Lu e He Congzhi.
A partir da instituição do lucro, a China começou a perder as características originais do comunismo e passou a adotar um “socialismo com características chinesas” – na essência, capitalismo. Uma nova China recomeçou com o arroz no centro da história novamente. Em quatro décadas, a produção do cereal cresceu quase cinco vezes – contribuindo para a redução da fome.
– A mecanização agrícola melhorou drasticamente. Mais de 60% das atividades agrícolas são realizadas por máquinas – ressalta Huifang.
Há 40 anos, não havia estufas na produção agrícola da China. Em 2016, a área total de produção coberta chegou a 1,32 milhões de hectares.
Maior consumidor global de alimentos, a China é hoje também o maior produtor agrícola – com 620 milhões de toneladas de grãos produzidos em 2017. Mas há fortes restrições ao crescimento, alerta o professor Antonio Domingos Padula, diretor brasileiro do Instituto Confúcio na UFRGS:
– Cerca de 20% das terras agricultáveis na China estão contaminadas e impróprias para a produção. Além disso, 95% de suas propriedades rurais tem menos de um hectare, o que está exigindo uma rápida intensificação da produção de alimentos.
Mesas fartas simbolizam o fim da escassez de comida
As refeições chinesas são verdadeiros banquetes. As mesas fartas simbolizam o fim da escassez de comida – que castigou milhões de chineses no século passado. E não basta ter alimento, ele precisa ser literalmente fresco. É muito comum chegar a restaurantes na China e escolher peixes vivos em aquários que em poucos minutos vão para a panela e depois para os pratos.
A abundância é justificada também pela grandiosidade da aquicultura no país: 70% dos pescados de cativeiro no mundo são produzidos na China. Junto aos frutos do mar, um acompanhamento indispensável em todas as refeições: o arroz.
A culinária chinesa é bem diversificada. Vai de iguarias exóticas como carne de gafanhoto, escorpiões, cobra e barbatana de tubarão – que remontam ao período de guerras e fome que assolou o país – a pratos conhecidos no mundo ocidental, como frango xadrez, yakissoba e rolinho primavera. A cozinha fina oriental, que antigamente era privilégio dos imperadores, exibe pratos como o Pato de Pequim – famoso entre chefes de cozinha renomados.
E não por acaso os chineses são esbeltos. Além da alimentação fresca, com muito peixe e verdura, o cardápio na China praticamente não tem açúcar. As sobremesas costumam ser cestas variadas de frutas.