Foi a partir dos anos 2000 que a China mostrou sua força ao mundo. Com a entrada do país na Organização Mundial do Comércio (OMC), em 2001, o comunismo na sua essência foi deixado de lado para dar lugar ao socialismo com características chinesas – permitindo que outro autor, além do governo, assumisse o protagonismo da história: a iniciativa privada.
Desde então, a China aumentou a participação no mercado internacional, saindo de 5% naquele ano para quase 20% em 2017. Com isso, o PIB chinês começou a crescer 10% ao ano, desbancando Japão, Alemanha e Reino Unido. Em 2012, a China alcançou o segundo lugar no ranking das maiores economias. Em 2049, quer chegar ao topo.
– Para superar os EUA, é preciso desenvolver tecnologias essenciais. Isso vai levar pelo menos uns 20 anos – projeta Leon Xiao, professor da Universidade Normal de Pequim.
Quando a política de reformas começou, a preocupação da China era abrir-se ao mercado global, fazendo com que o Ocidente fosse até lá.
– Agora, é a China que está indo ao mundo. Essa mudança de perspectiva representa uma nova era para a história – avalia Evandro Menezes de Carvalho, coordenador do Núcleo de Estudos Brasil-China da Escola de Direito da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Com marcas próprias, empresas chinesas passaram a buscar seu espaço fora do Oriente, tendo um enorme mercado interno como garantidor de lucro.
– A demanda interna da China tornou-se um fator decisivo para o desenvolvimento econômico do país. Isso nos dá confiança para buscar mais, ir além das nossas fronteiras – diz Yan Cheng Sheng, vice-diretor de Colaboração do Ministério do Comércio da China.
Para desbravar o mundo, os chineses buscam a aproximação. Lançada há cinco anos, o projeto “Um cinturão, uma Rota” prevê em 30 anos construir obras de infraestrutura e acesso a outros países da Ásia, à África, à Europa e, também, à América Latina. A iniciativa é inspirada na antiga Rota da Seda, por onde escoavam mercadorias ao Ocidente. As projeções apontam para US$ 1,3 trilhão em investimentos.
Além de acordos bilaterais (só com o Brasil são 35 firmados desde 2015), a China mantém investimentos em energia, telecomunicações, mineração, siderurgia, infraestrutura, agronegócio e serviços bancários em diferentes continentes.
– O dinamismo chinês é uma fonte quase inesgotável de oportunidades de negócios. Mas essas oportunidades vêm acompanhadas de riscos. Está ocorrendo um forte movimento de concentração das exportações em troca de investimentos externos da China. Está na hora de abordar essa situação com uma perspectiva mais estratégica, e não meramente numa visão mercantilista – alerta o professor Antonio Domingos Padula, diretor brasileiro do Instituto Confúcio na UFRGS.