Projeção com os valores desta quarta-feira (4) no mercado aponta que a venda de 128 milhões de ações do Banrisul arrecadaria cerca de R$ 2 bilhões a R$ 3 bilhões. Esse montante bancaria até duas folhas de pagamento do Executivo: o Piratini gasta, por mês, R$ 1,4 bi brutos em salários desse poder.
Na manhã desta quarta-feira (4), o governador José Ivo Sartori anunciou a venda de ações da instituição e a oferta de dividendos do banco à União, medida que passou a integrar o plano de recuperação do Estado.
Gestadas nas últimas semanas, as iniciativas são mais uma sinalização do governo na tentativa de amenizar a crise financeira e de viabilizar o socorro da União, sem perder o controle acionário de sua principal instituição bancária – uma vez que foram colocadas na mesa apenas ações excedentes, mantendo controle das ações com o Estado.
A oferta pública das ações na bolsa paulista foi aberta a qualquer investidor e os preços foram definidos conforme o apetite do mercado. Como a decisão do governo gaúcho foi tomada sem abrir mão do controle acionário fez os papéis do banco sofrerem forte queda já nesta quarta.
A saída encontrada pelo Estado para levantar dinheiro foi interpretada como um revés nas expectativas do mercado de privatização da instituição financeira, especulação que desde o início do ano deu impulso extra às cotações.
As ações preferenciais classe B do Banrisul, com código BRSR6, as mais negociadas na bolsa, fecharam amargando tombo de 10,8%, a R$ 15,50. Na mínima do dia, chegaram a R$ 15,15, retração de quase 13%.
Desde que as tratativas para a adesão do Estado ao regime de ajuste proposto pelo governo federal começaram, no início do ano, o Banrisul vinha sendo alvo de assédio. Em janeiro, o próprio ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, confirmou publicamente que a instituição financeira estaria "na mesa de negociação". Dias depois, o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, definiu o banco e a Corsan, outra estatal cobiçada, como "joias da coroa".
Na ocasião, Sartori e o núcleo duro do governo entraram em ação para negar qualquer possibilidade de alienação do banco, considerado "patrimônio dos gaúchos". A polêmica havia se instalado.
– Politicamente, seria muito complicado comprar uma briga dessas. Sem contar que, com a recessão econômica, ganharíamos muito pouco. Seria queimar um ativo importante – relata uma fonte próxima a Sartori.
Até esta semana, havia dúvidas, no governo, se este seria o momento mais adequado para colocar as ações à venda. Alguns integrantes do governo cogitaram a hipótese de deixar o anúncio para fevereiro ou março. Mas, como se concluiu que as ações saltaram de R$ 5 no auge da crise econômica para R$ 17 nos últimos dias, não havia motivos para esperar.
– Estão postas as condições técnicas para um processo que tem tudo para ser muito bem-sucedido – disse Sartori, em coletiva de imprensa nesta quarta-feira (4).
O anúncio, na avaliação do líder do governo na Assembleia, Gabriel Souza (PMDB), ajudará a fortalecer o banco, a quitar pendências e a deixar clara, para o Ministério da Fazenda, a preocupação de Sartori em sanar as contas.
– É mais uma demonstração de que o Estado está disposto a fazer o possível para chegar ao equilíbrio fiscal – concluiu Souza.
Críticas
O anúncio da venda das ações do Banrisul pegou de surpresa a Assembleia e recebeu críticas da oposição ao governo de José Ivo Sartori. Embora a operação não precise do aval do Legislativo para se concretizar, os deputados reclamam do que classificam como "falta de diálogo".
Na avaliação de Pedro Ruas (PSOL), a oferta de ações "não resolverá os problemas financeiros" e, por se tratar de patrimônio público, deveria ter sido debatida antes com a sociedade.
O deputado Tarcisio Zimmermann (PT) também atacou a decisão do Piratini:
— O patrimônio do Estado junto ao banco ficará muito pequeno. É um negócio ruim, de desesperados.