Incluída no plano de recuperação fiscal enviado à União, a venda de 128 milhões de ações do Banrisul poderia render, em tese, cerca de R$ 2,8 bilhões para o Estado caso a oferta saísse com as cotações desta quarta-feira (4), por volta do meio-dia. O valor seria inflado pela negociação dos 99,2 milhões de papéis ordinários (com direito a voto), que eram cotados a R$ 24. Mas, como são ações que não têm liquidez no mercado, a tendência é de que os preços acabem semelhantes aos dos papéis preferenciais de classe B, os mais negociados do banco estatal gaúcho na bolsa de valores de São Paulo (B3) e que eram cotados a R$ 15,40, com queda de 11%, avalia a diretora da Zenith Asset Management, Debora Morsch. Com isso, o total chegaria a aproximadamente R$ 1,9 bilhão, levando-se em consideração o preço ao final da manhã desta quarta-feira.
A oferta pública das ações, a ser realizada na bolsa paulista, será aberta a qualquer investidor e os preços serão definidos conforme o apetite do mercado.
Além de 99,2 milhões de ações ordinárias (que têm o código BRSR3), o Banrisul anunciou que vai se desfazer de 2,7 milhões de preferenciais classe A (BRSR5) e 26,1 milhões de preferenciais classe B (BRSR6). Enquanto as mais negociadas despencavam mais de 10%, com sete mil negócios no pregão, as ordinárias subiam 13%, mas com apenas 10 transações. As preferenciais classe A, que subiam 26%, apresentavam apenas dois negócios.
Para Debora, não há razão para o mercado pagar mais pelas ações ordinárias porque não há não nenhum direito a mais em relação aos donos das preferenciais classe B. Isso porque o Banrisul garante aos preferencialistas o mesmo valor pago aos donos das ordinárias em uma eventual venda de controle do banco. E, ao mesmo tempo, as ações preferenciais asseguram 10% a mais de dividendos.
O mercado esperava que fosse feita a privatização do banco. E o caminho não foi esse.
Carlos Müller
Analista-chefe da Geral Investimentos
Para Débora, a queda acentuada dos papéis mais negociados do Banrisul nesta quarta-feira tem relação com uma percepção dos investidores de que o Piratini busca uma outra opção para viabilizar sua adesão ao plano de recuperação fiscal proposto pelo governo federal, que não a privatização do banco, como era o esperado.
— O governo gaúcho é especialista em destruir valor. Se fosse uma privatização, as ações teriam subido até R$ 50 e o governo poderia arrecadar R$ 6,4 bilhões levando em consideração este mesmo lote de ações — avalia.
O analista-chefe da Geral Investimentos, Carlos Müller, tem percepção semelhante.
— O mercado esperava que fosse feita a privatização do banco. E o caminho não foi esse — sustenta.