Depois das pressões do Planalto para que o Banrisul entrasse, de alguma forma, no plano de recuperação fiscal do Estado, era inevitável que um dos cinco últimos bancos estaduais do país – os demais são Banestes, BRB, Banpará e Banese – fosse alvo de alguma tentativa de monetização. A escolhida pelo governo gaúcho, raspar a quantidade de ações que ainda supera o mínimo exigido para manutenção do controle público, embute o risco de reforçar a característica do Banrisul como caixa automática do Estado frente a situações de aperto.
Quando um ativo se transforma em refúgio diante de situações de desespero, perde valor. É o que reforça a reação do mercado, que "pune" o banco com queda superior a 10% na manhã desta quarta-feira (4). Acionistas vão desconfiar que, sem uma clara solução para os problemas estruturais do Estado, a saída de fatiar fatias do capital do banco volte a ser colocada em prática uma e outra vez. O que o Piratini faz agora é exatamente o que fez o governo Yeda Crusius, com mais folga e melhores expectativas de arrecadação. Na época, os motivos originais eram até mais aceitáveis: inicialmente, a intenção era construir um fundo para encaminhar solução para um problema estrutural do Estado, a previdência.
A boa intenção não sobreviveu às vésperas da eleição. No afã de gerar a famosa "agenda positiva", o governo Yeda, resgatou os fundos que deveria ser imexíveis e aplicou os valores em uma estrada que, a essa altura, sem recursos para manutenção, deve estar cheia de buracos. A fragilidade das finanças do Estado provoca decisões quase desesperadas, como a anunciada hoje pelo Piratini.
Na operação do governo Yeda, o Estado vendeu apenas ações preferenciais, as que não envolvem direito a voto das deciões estratégicas da companhia. Agora, o que o Piratini anuncia é a venda de 49% das ações ordinárias, o que significa que o poder público gaúcho passará a ter sócio estratégico, caso haja concentração desses papéis na mão de um ou poucos acionistas. É um risco. Mas a situação de penúria das finanças públicas passou a demandar esse tipo de atitude. Depois da operação, o Estado vai reduzir de 57% para 26% do capital total do banco.