A decisão do governo gaúcho de vender 128 milhões de ações do Banrisul sem abrir mão do controle acionário fez os papeis do banco estatal gaúcho sofrerem forte queda nesta quarta-feira (4) na bolsa de valores de São Paulo (B3).
A saída encontrada pelo Estado para levantar dinheiro foi interpretada como um revés nas expectativas do mercado de privatização da instituição financeira, especulação que desde o início do ano deu impulso extra às cotações.
As ações preferenciais classe B do Banrisul, com código BRSR6, as mais negociadas na bolsa, fecharam amargando tombo de 10,8%, a R$ 15,50. Na mínima do dia, chegaram a R$ 15,15, retração de quase 13%.
O analista de mercado Philip Soares, da Ativa Corretora, lembra que, quando há entre os investidores expectativas de que um banco público passará a mãos privadas, livrando-se de ingerências políticas, a conclusão é de que será melhor gerido, terá foco no retorno aos acionistas e, portanto, mais lucrativo.
— Neste caso, os investidores aceitam pagar um prêmio pelo valor da ação porque avaliam que o banco será melhor administrado. E ocorre o contrário quando essa perspectiva deixa de existir — diz Soares.
O economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Pedro Paulo Silveira, também credita o movimento desta quarta à frustração da hipótese de privatização.
— A gestão de um banco pelo setor público não é o desejado pelo mercado. As ações do Banrisul subiram este ano com os rumores de que seria vendido — diz Silveira.
O valor que o RS receberá com a operação, no entanto, vai depender do apetite dos investidores pelo papeis e da situação do mercado até a operação ser finalizada. Pelas cotações de quarta-feira, poderia render, em tese, cerca de R$ 3 bilhões.
O valor seria inflado pela negociação dos 99,2 milhões de papéis ordinários (com direito a voto), que fecharam cotados a R$ 25,90 — alta de 22%, mas com apenas 24 negócios, contra 16,2 mil transações do papel mais líquido.
Como são ações sem movimentação no mercado, a tendência é de que os preços acabem semelhantes aos das preferenciais de classe B, as mais negociados na bolsa, afirma a diretora da Zenith Asset Management, Debora Morsch.
Com isso, o total chegaria a aproximadamente R$ 1,98 bilhão, levando-se em consideração o preço de encerramento dos papéis na quarta.
Para Debora, inexiste razão para investidores pagarem mais pelas ações ordinárias porque não há não nenhum direito extra em relação aos donos das preferenciais.
Isso porque o Banrisul garante aos preferencialistas o mesmo valor pago aos detentores das ordinárias em uma eventual venda de controle do banco. Na política de distribuição de dividendos também não há vantagem para quem tem ações com direito a voto.
— O governo gaúcho é especialista em destruir valor. Se fosse uma privatização, as ações teriam subido até R$ 50 e o governo poderia arrecadar R$ 6,4 bilhões levando em consideração este mesmo lote de ações — avalia.
Embora o Estado não tenha esmiuçado como fará a oferta pública, o anúncio de road shows por Estados Unidos, Europa e Ásia indica que haverá preferência por vender os papéis para grandes investidores institucionais, como fundos.
Entenda como seria o valor da operação, a valores desta quarta-feira (4):
Ações ordinárias a serem vendidas: 99,2 milhões
Cotação desta quarta: R$ 25,90
Valor: R$ 2,570 bilhões
Ações preferenciais classe A a serem vendidas: 2,7 milhões
Cotação desta quarta: R$ 25
Valor: R$ 67,5 milhões
Ações preferenciais classe B a serem vendidas: 26,1 milhões
Cotação desta quarta: R$ 15,50
Valor: R$ 404 milhões
Total: R$ 3,04 bilhões
PORÉM...
Como a tendência é o mercado precificar todas as ações ao valor da preferencial classe B, a mais negociada, o valor seria mais baixo:
Total de ações vendidas: 128 milhões
Cotação desta quarta: R$ 15,50
Valor: R$ 1,98 bilhão