Um dos grandes desafios de quem trabalha com saúde, emagrecimento e fitness é a enxurrada de informações enganosas que são publicadas diariamente e que confundem muito a cabeça das pessoas de fora da área. Parece que todo dia vem um conhecimento “novo” à tona, muitas vezes contradizendo outro, e ficamos nesse pingue-pongue de “faz bem, faz mal”, o que gera insegurança e desconfiança.
Por isso, preparei esse material sobre os mitos mais comuns sobre exercícios físicos e suas explicações verdadeiras!
Abdominal faz perder a barriga
Apesar de ser muito praticado, os exercícios abdominais não são os responsáveis pela perda da gordura localizada na região do tronco. Para que você consiga ver definição nessa área do corpo, você precisa investir todas as suas fichas em uma dieta equilibrada, para diminuição de gordura abdominal, associada a exercícios físicos de moderada a alta intensidade, e não precisa fazer muito abdominal se você não gosta.
Como esse grupo muscular é amplamente exigido para a estabilização do tronco em muitos outros exercícios, quando esses são bem orientados, programados e executados (por isso a necessidade de um profissional capacitado prescrevendo os exercícios) os músculos abdominais são trabalhados em conjunto. Não há necessidade de fazer 300 abdominais por dia, porque a gente não perde gordura localizada somente com exercício localizado. A perda de gordura é sistêmica, ou seja, no corpo todo. Qualquer exercício que a gente faz, estimula a queima de gordura pelo corpo inteiro, e não de forma localizada.
Suor é sinal de emagrecimento
Suor é sinal apenas de que seu corpo está capaz de regular a sua temperatura interna. Através das glândulas sudoríparas, nós eliminamos água para a superfície da pele, processo de sudorese, que tem alguns objetivos. Um deles é controlar a temperatura corporal em resposta a um aquecimento interno ou externo, e isso é controlado pelo sistema nervoso autônomo.
Claro que, quando perdemos líquidos corporais de forma exagerada, o nosso peso na balança diminui, esse é inclusive um método de controle de reposição de fluidos em atletas, por exemplo. A associação entre suor e emagrecimento existe, talvez, por essa falsa interpretação do número na balança associada a neurose que existe com o peso corporal, no geral.
A perda de peso ocorre quando temos uma alimentação equilibrada, práticas de atividades físicas, sono reparador e déficit calórico. O tanto que uma pessoa sua varia de acordo com o ambiente que ela está, com a genética, com as roupas e com a intensidade do exercício praticado. Suar também não “desintoxica”, ok? Não “force” o aumento da transpiração, porque isso pode te deixar exposta a um perigo maior: a desidratação.
Você queima mais calorias se exercitando por mais tempo, mas com intensidade leve
Talvez por uma interpretação errônea de uma parte dos conhecimentos de fisiologia do exercício, que nos ensina que exercícios de longa duração e moderada-baixa intensidade usam gordura como fonte principal de energia, criou-se a ideia de que é melhor ficar caminhando duas horas do que correr 20 minutos para perder gordura, já que conforme vai aumentando a intensidade do exercício, menos a gordura é utilizada como fonte principal, dando lugar aos carboidratos.
Até pouco tempo atrás, inclusive, a orientação nas academias era que o tempo mínimo de esteira para começar a queimar gordura era de 20 minutos. Ora, mas veja, as tuas células têm cronômetro? Esse é outro mito!
Temos que avaliar o aspecto global de uma atividade, isto é, o número total de calorias gastas durante a prática. Quanto maior a intensidade do exercício, quanto mais rápido você caminhar ou correr, por exemplo, mais calorias você vai gastar por minuto. E o treinamento bem orientado vai te ajudar a manter o exercício de alta intensidade por mais tempo, fazendo com que você consiga sustentar uma prática de alta queima calórica.
Yoga é uma atividade leve
Já que está “na moda”, não poderia deixar de citá-la! O yoga possui diferentes estilos, os mais conhecidos derivam do tradicional da Índia, que foi trazido para o Ocidente por mestres yogis há muitos anos, como o Hatha Yoga, Tantra Yoga, Vinyasa Flow e Ashtanga Yoga.
É uma atividade ótima para trabalhar não só a força, mas também as outras valências físicas que são, muitas vezes, esquecidas nas formas mais comuns de exercício, como flexibilidade, equilíbrio, coordenação, além, obviamente, de trabalhar intensamente a concentração e a capacidade de manter a mente quieta e relaxada.
Mas não se engane! O yoga não é uma prática fácil, não é meditação, e alguns estilos são bastante desafiadores e exigem bastante do corpo e da mente. O segredo é se informar sobre o estilo praticado na escola que você busca, se certificar que o professor tem uma formação sólida e experiência, e deixo uma dica: práticas de hatha e tantra são menos desafiadoras do que de vinyasa flow e ashtanga!
Basta fazer exercícios com regularidade para ter resultados
Não é tão simples assim. Quando estamos falando de corpo humano, na verdade, não existe regra que sirva para todos, nem garantias que aquilo que dá certo para a maioria, vai dar certo para você também.
O corpo humano não é uma máquina, e por mais que nós tenhamos uma alimentação equilibrada, pratiquemos atividades físicas bem orientadas e com comprometimento, cuidemos do nosso sono e da nossa saúde mental, existe um fator que é extremamente importante e sobre o qual nós não temos controle: a genética.
Existe uma grande variação na resposta ao treinamento nas diferentes pessoas. O potencial de desenvolvimento de força, velocidade, resistência, potência e agilidade são muito diferentes entre as pessoas, e isso é determinado geneticamente. Podemos sim, melhorar, aumentar nossas capacidades através de um treinamento bem prescrito, mas mesmo essa melhora possui um teto limitante.
Eu costumo dizer que nós não podemos fabricar um atleta vencedor; eles já nascem prontos, nós apenas os descobrimos e desenvolvemos. Portanto, alinhe seus objetivos à sua realidade, olhe para seus pais e irmãos e compreenda qual a carga genética que você carrega... para não ficar a vida inteira em busca de um “corpo perfeito” que você não tem como desenvolver de forma natural.
Raquel Lupion é formada em Nutrição e Educação Física, tem especialização em Nutrição Clínica e Mestrado em Ciências do Movimento Humano. Sua motivação é promover um estilo de vida saudável, fugindo de radicalismos e tentando encontrar o caminho do meio entre o que é necessário e o que é prazeroso. Na vida profissional, divide seu tempo entre atender em consultório, dar aulas de yoga, palestrar e ministrar cursos. Escreve semanalmente em revistadonna.com.