Que momento bacana que a gastronomia está passando. Pensa bem, tempos atrás dava para contar nos dedos as opções de bares e restaurantes que tínhamos na cidade, além de serem praticamente todos iguais. Tínhamos casas valorizando pratos alemães e outras fazendo uma boa cozinha italiana, além de churrascarias e restaurantes trabalhando a culinária francesa por ser a maior das escolas. E deu, né?
Infelizmente, grande parte dessas casas não teve a sorte de estar aqui entre nós, vivendo essa fase de ouro. É justamente em função do trabalho iniciado por esses guerreiros que temos hoje chefs estrelando campanhas publicitárias, dezenas de programas na TV fechada, reality shows em canal aberto, festivais gastronômicos, documentários na Netflix e cursos profissionalizantes. Sem contar que a rotina do chef de cozinha já serve de roteiro para filmes em Hollywood.
Tá tranquilo, tá favorável? Sim e não. Lógico que o assunto é bem mais recorrente e já virou pauta da hora do cafezinho no trabalho. E quando alguma coisa vira pauta da hora do cafezinho no trabalho é porque de fato caiu na boca do povo. Mas não dá para ser ingênuo e achar que a festa está feita e é só alegria.
Gastronomia está na moda sim, mas não vai ser a salvação da lavoura da galera que vive uma crise existencial na profissão, nem dos aventureiros que enxergam isso tudo como mais uma chance de investir aquela grana que estava guardadinha. Não queria fazer esse papel de chato, mas, cá entre nós, essa bronca terá que ser resolvida na terapia, e é bom manter a grana no banco. Não é por aí, e nem to falando de dinheiro, que fique claro.
Ser conhecido pela turma como um baita cozinheiro não basta. Ter milhares de quilômetros rodados por vários restaurantes mundo afora também não. Conhecer todo mundo na cidade e achar que o restaurante lotaria por causa deles é ingenuidade. Nem mesmo conhecer um investidor disposto a facilitar as coisas pode funcionar. O lance todo depende de um detalhe, que é justamente o único a não ser considerado: ter uma causa.
A maioria dos estabelecimentos gastronômicos servem comida, têm uma boa equipe de cozinha e salão, decoração bacana, boas opções de bebidas e uma rede de wi-fi. E só. Poucos sabem exatamente o porquê de terem criado aquilo tudo. Me arrisco a dizer que muitos nem mesmo acreditam no estilo de cozinha que escolheram para trabalhar, são reféns de um “negócio” e da zona de conforto. Sabe como a gente vê isso? Quando a pessoa vive se queixando, quando muda de ideia o tempo todo, quando tudo é difícil.
Tirando da frente vários “se”, do tipo "se dinheiro não fosse problema” e "se não existisse preocupação com o que os outros vão pensar”, o seu restaurante seria exatamente assim, do jeitinho que é hoje? Bem provável que não, confesse. Acredite naquilo que você é, isso te diferencia de todos os outros. Chega de olhar para o lado tentando ver o que o vizinho está fazendo. Este cara talvez esteja sendo fiel a um propósito, que dificilmente é o mesmo que o seu.