
Às 21h4min (16h4min em Brasília), o sol havia se posto por trás da Basílica de São Pedro fazia cerca de uma hora nesta primavera europeia, quando a fumaça preta tomou o naco de céu do Vaticano sobre a Capela Sistina. Era densa desde o início, confirmando, sem deixar dúvidas, que os 133 cardeais reunidos havia mais de três horas não tinham chegado aos dois terços mínimos dos votos para eleger o sucessor de Francisco.
O resultado, que deixa o mundo por mais alguns dias em suspense, obedece à tradição de não haver um eleito no primeiro dia do conclave. O último ungido logo na largada do ritual foi em 1503, que definiu o sucessor de Pio III em somente 10 horas. Na época, Giuliano della Rovere, uma figura influente entre os cardeais, foi escolhido para assumir o pontificado após a morte de Papa Pio III. Ele optou pelo nome de Júlio II.
Nos últimos cem anos, a média tem sido de dois a três dias de olhares atentos para a chaminé — inclusive, Bento XVI e Francisco foram eleitos no segundo dia.
A quarta-feira (7) de expectativa no Vaticano — e no mundo — com o início do conclave começou pontualmente às 10h (5h em Brasília) com a missa "pro eligendo Romano Pontifice", na Basílica de São Pedro, na qual o cardeal Giovani Batista Re, o decano do colégio cardinalício, deu o tom dos debates sobre o sucessor do papa argentino:
— A eleição do novo Papa não é uma simples sucessão de pessoas, mas é sempre o Apóstolo Pedro que retorna.

A chuva sobre o Vaticano atrapalhou quem acompanhava a celebração na Praça de São Pedro.
Depois da cerimônia, os cardeais voltaram para a Casa Santa Marta, onde almoçaram. Às 16h15min (11h15min), eles se concentraram na Capela Paulina, no Palácio Apostólico, de onde seguiram em procissão até a Capela Sistina. Um a um, os cardeais fizeram o juramento de manter o sigilo do processo. O arcebispo de Porto Alegre, dom Jaime Spengler, foi o último dos brasileiros na fila, quase ao final de todos os colegas.
O prelado italiano Diego Ravelli, mestre das celebrações litúrgicas pontifícias, proferiu o "Extra omnes" ("Fora todos"), frase tradicional para que todos os não participantes do conclave deixem a Capela Sistina. O fechamento das portas da Capela Sistina ocorreu às 17h46min (12h46min).
A partir de então, uma multidão de fiéis, peregrinos e curiosos se dirigiu à Praça de São Pedro, já sob sol romano, tão claro que, ao final da tarde, ele ofuscava a visão da chaminé da Capela Sistina.
A previsão era de que a fumaça com o resultado do primeiro dia de votações saísse às 19h (14h em Brasília), mas caiu a noite no Vaticano e não havia sinal algum. Algumas pessoas deixaram a praça, impacientes. A maioria ficou. Foi então que às 21h04min (16h4min em Brasília), a chaminé começou a expelir a fumaça — nessa primeira vez, escura. Foram mais de três horas de espera desde o fechamento da Capela Sistina. Alguns presentes ficaram decepcionados. Tanto que a praça se esvaziou rapidamente, para voltar a lotar nesta quinta-feira (8), cedo da manhã.
A primeira sessão de votação foi mais demorada do que em 2013. Foi pelo menos uma hora mais longa do que naquele conclave que elegeria, ao final, Jorge Mario Bergoglio como Papa Francisco. O fechamento das portas ocorreu às 17h35min (13h35min em Brasília, pois o fuso era de quatro horas naquela época do ano, março). E o sinal de fumaça preta foi visto pela primeira vez pelo público às 19h41min (15h41min em Brasília). Ou seja, a sessão demorou duas horas e seis minutos.
Conforme informações de bastidores, dessa vez, o processo demorou mais devido a uma meditação interna e ao maior número de cardeais — 133 contra 115 de 2013.
A votação será retomada nesta quinta. Serão dois escrutínios pela manhã — se houver um escolhido no primeiro, a fumaça será branca. Caso não se tenha um eleito, a segunda votação ocorre, sem que a fumaça preta anuncie o resultado do primeiro processo. Caso esta também termine sem ninguém alcançar dois terços dos votos, as cédulas das duas sessões serão queimadas juntas. Ou seja, a fumaça preta só aparece uma vez. Isso também vale para o turno da tarde.