No dia mais quente de outubro, com temperaturas que passavam dos 30 graus, o sol não era um grande problema para os fãs de Roger Waters que foram conferir, na última terça-feira (30), o músico britânico no Estádio Beira-Rio. Tampouco a decisão do jogo de volta da Libertadores entre Grêmio e River Plate, que ocorreu na zona norte da Porto Alegre – aliás, vários fãs vestiam a camiseta do clube tricolor.
Porém, para alguns, um possível incômodo era as manifestações políticas do músico, como era o caso do sociólogo Rubens dos Santos, 55 anos. Vestindo uma camiseta do presidente eleito Jair Bolsonaro, ele veio de Canoa Quebrada (CE) para assistir ao seu segundo show da turnê. Antes, o sociólogo compareceu a São Paulo, na primeira apresentação polêmica que abriu os shows brasileiros.
— Passei cinco minutos vaiando ele lá — afirma.
Rubens conta que ouve Pink Floyd desde os 15 anos e que o trabalho de Roger é seu amor de juventude, apesar, segundo o sociólogo, de o músico ser um "esquerdopata".
— A genialidade dele transcende qualquer posição política. Tenho certeza que ele está sendo manipulado, não conhece o contexto brasileiro - reflete. - Ideologia não se discute, se lamenta - completa.
E se Roger fazer alguma manifestação política no Beira-Rio?
— Vou vaiar de novo, lógico - garante.
Já a preocupação do casal formado por Claudiomar Alves, 53 anos, e Ana Lúcia Santos, 48 anos, era outra.
– Espero que seja um show menos visual que o The Wall, que vi aqui em 2012, e tenha mais som – disse Claudiomar, que vive com a mulher na Capital.
Fã de Pink Floyd desde os discos "bolachão", ele destaca que não se interessa pela visão política de Waters:
— Estamos fora disso. A questão política não nos chama atenção.
— Queremos música – concorda Ana Lúcia.
Já a psicóloga Fernanda Arioli, 35, foi ao show justamente porque Roger a representa politicamente, além, é claro, de apreciar seu trabalho como músico.
– Ele é contrário a toda essa ameaça de extrema-direita que vive o país e que já aconteceu em outros países, como a Alemanha – explica a moradora de Porto Alegre.
Quando questionada pela reportagem se toparia tirar uma foto, ela recusou:
— Tenho medo de ser perseguida porque ele (Jair Bolsonaro) foi eleito.
Antes do começo do show, boa parte do público gritou "ele não", contra Bolsonaro, recebendo vaias em resposta.
Em outros shows
Porto Alegre é a oitava cidade da turnê nacional, para o primeiro show após as eleições, cercado de expectativa. Em todas as apresentações pelo Brasil, Waters foi protagonista de diversas polêmicas. Desde a primeira performance, em 9 de outubro, em São Paulo, o músico tem se manifestado contra o agora presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL). Criticado por misturar política com música pelo ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão, Waters declarou que ele deveria renunciar ao cargo.
Em cada cidade, o músico fez alguma referência diferente. Em São Paulo, exibiu os dizeres "Ele Não" e incluiu Bolsonaro em uma lista de neofascistas. Já em Salvador, Waters projetou a foto de Moa do Katendê, capoeirista morto após uma discussão política depois do primeiro turno. No Rio de Janeiro, relembrou do caso Marielle Franco, enquanto em Curitiba correu contra o tempo para exibir a frase "Ele Não", já que tinha o limite de até as 22h para realizar qualquer tipo de manifestação política.