As polêmicas envolvendo o posicionamento político do ex-Pink Floyd Roger Waters não se restringem às arena de shows onde o músico se apresenta. Durante o fim de semana, o inglês, que tem criticado o presidenciável Jair Bolsonaro em suas apresentações no Brasil, foi atacado pelo ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão, que acusou o roqueiro de receber R$ 90 milhões para fazer propaganda política disfarçada em suas performances pelo Brasil. Além da acusação, o titular da pasta de Cultura também defendeu o candidato do PSL.
"Roger Waters recebeu cerca de R$ 90 milhões para fazer campanha eleitoral disfarçada de show ao longo do 2º turno. Na Folha (o jornal Folha de S.Paulo), chamou Bolsonaro de 'insano' e 'corrupto'. Sem provas, claro. Disse aos fãs que não voltará ao Brasil caso ele ganhe. Isso sim é caixa 2 e campanha ilegal!", escreveu em seu perfil no Twitter.
O ministro não especificou de onde teria vindo o dinheiro. Porém, em seis tuítes, deu a entender que o montante de R$ 90 milhões teria sido diluído no cachê — que, segundo Sá Leitão, teria custado US$ 3 milhões por evento. Ao ser questionado se uma estrela da música como Waters não valeria tal quantia, ele disse que "a questão não é receber para fazer shows. É usar os shows e entrevistas no Brasil, pelos quais recebeu, para fazer campanha eleitoral direta, interferindo no processo".
Na semana passada, Waters condenou o ministro por ele ter dito em entrevista ao Estado de S.Paulo que estava de "saco cheio" de shows políticos no país. O cantor britânico tem difundido a campanha #EleNão e classificado Bolsonaro como líder fascista. O posicionamento dividiu o público entre vais e aplausos desde o primeiro show da turnê pelo país, ocorrido em 9 de outubro, em São Paulo. Na ocasião, foi exibida no telão uma lista de líderes mundiais considerados neofascistas. Desde então, Waters tem repetido a postura contestadora por onde passa com seu espetáculo, o que cria discórdia entre aqueles que acreditam que ele não deve se manifestar politicamente.
Para o artista, Sérgio Sá Leitão deveria abrir mão do cargo por desconhecer o componente político que há na cultura.
— Esse cara está no emprego errado, tem de achar um novo trabalho. Não sei o que ele faz, mas não deveria estar numa posição de poder sobre questões culturais se dá uma declaração dessas. Porque cultura inclui música, e ela pode expressar muito da condição humana. Acho que ele deveria renunciar — alfinetou Waters.
Além de achincalhar o compositor de famosos temas do Pink Floyd, o ministro também discutiu com usuários da rede social de 140 caracteres. Um deles insinuou que Sérgio Sá Leitão já estaria em campanha a favor da censura tentando garantir novo emprego em um eventual governo Bolsonaro, e foi rebatido pelo ministro.
"Fale por você, Alberto. Não projete em mim seus valores e aspirações. 'Campanha pela censura'? 'Garantir novo emprego para quando sair do MinC'? Você pode achar estranho. Mas sou íntegro e independente. Não preciso de emprego. E sou contra censura. Tanto que não sou de esquerda."
A empresa responsável pela turnê de Roger Waters pelo Brasil, a Time For Fun (T4F), foi contatada para comentar as declarações do ministro. Contudo, por meio de sua assessoria de imprensa, disse que não vai se pronunciar sobre o assunto.