As vaias não intimidaram Roger Waters. Dando sequência a sua turnê pelo Brasil, o ex-Pink Floyd fez mais uma manifestação ligada às eleições na noite de quarta-feira (17), em show em Salvador, na Bahia. No telão da Arena Fonte Nova, exibiu uma imagem de Moa do Katendê, o mestre de capoeira assassinado após declarar voto em Fernando Haddad (PT) durante uma discussão política.
A homenagem de Waters foi feita quase no encerramento do show, em um momento de comoção. A imagem de Moa em um telão de cerca de 70 metros de largura foi seguida de assovios e aplausos.
— Quero apenas ter um momento para relembrar um dos seus. Esse é um grande artista local. Ele foi brutalmente assassinado durante o processo eleitoral e era um grande exemplo para todos nós ao espalhar amor, humanidade e coragem. Lembrem-se do Mestre Moa — incentivou o músico.
Moa do Katendê foi assassinado a facadas na madrugada de 8 de outubro em um bar em Salvador, após o resultado do primeiro turno das eleições, quando a apuração das urnas mostrou que o segundo turno seria disputado pelos candidatos à Presidência Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT).
Segundo o registro da polícia, o mestre de capoeira fez críticas a Bolsonaro e defendeu o candidato petista, o que motivou o ataque de Paulo Sérgio Ferreira de Santana, 36 anos. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA), o assassino chegou ao bar gritando o nome de Bolsonaro. Ele confessou o crime e está preso. Moa do Katendê tinha 63 anos. Foi um compositor, percussionista e educador, considerado um dos maiores mestres de capoeira da Bahia.
Como nos dois shows em São Paulo, a apresentação de Waters em Salvador seguiu com as críticas a Jair Bolsonaro. No telão, voltou a exibir uma lista de líderes políticos que considera "neofascistas", entre eles o próprio capitão reformado que lidera as pesquisas de intenção de voto no Brasil.
Com as vaias e os xingamentos que recebeu após o primeiro show na capital paulista, em que exibiu a frase "Ele Não" no telão, um grito contra Bolsonaro criado pelo movimento feminista, Waters fez uma crítica em cima da crítica a partir da segunda apresentação: passou a exibir uma faixa sobre o nome de Bolsonaro com a frase "ponto de vista política censurado", o que se repetiu na noite em Salvador. Também houve gritos de "Ele Não" entoados pelo público baiano. Segundo o jornal Folha de S.Paulo, praticamente não houve manifestação favoráveis a Bolsonaro. Na Bahia, Fernando Haddad ganhou em 411 dos 417 municípios.
As novidades no show que mistura clássicos do Pink Floyd a manifestações políticas, uma tradição nas turnês de Roger Waters, foi a presença de crianças em situação de vulnerabilidade social. Integrantes do Projeto Axé, elas subiram no palco vestindo macacões de cor laranja e camisetas com a inscrição "Resist" (resista, em inglês). No telão, também se exibiu a frase "resista à volta da tortura, resista às forças policiais militarizadas".