Enquanto os guarda-sóis giram na praia e o fluxo de veículos diminui nas cidades, as impressoras das gráficas seguem rodando e os fluxos de consciência continuam sendo produzidos por autores que dão os últimos retoques nos livros que você lerá ao longo de 2020.
GaúchaZH ouviu escritores em atividade no Estado, em um recorte variado com a intenção de contemplar autores com longo tempo de carreira e jovens talentos. Também buscou um panorama representativo da variedade de gêneros trabalhados nas letras do Estado.
De quatro escritores (três deles gaúchos) que, em conjunto, devem lançar uma ficção pós-apocalíptica de zumbis (embora o termo não seja usado), à poesia de Armindo Trevisan e Ronald Augusto; dos ensaios e reflexões de Lya Luft à ficção pop de Marcelo Benvenutti e ao pulp reinterpretado de Cesar Alcázar. Há espaço também para alguma incerteza, já que alguns autores talvez não finalizem este ano os livros em que estão envolvidos – o que é da natureza do processo.
Autora de As Parceiras e Perdas e Ganhos
“Meu livro As Coisas Humanas, reunindo artigos avulsos, deve sair em maio, sempre pela Record. São reflexões variadas, um pouco de memorialismo, enfim, aquela conversa com o leitor.
Começo a preparar outro, talvez para começos de 2021: A Alma Dividida, em que me lanço em uma aventura de que gosto muito: poemas meus dispostos em forma de prosa. Fica muito interessante e é uma espécie de ‘armadilha’ para o leitor que diz não gostar ou não entender de poesia. Já fiz essa experiência em colunas da ZH e deu muito certo.”
Autora de A Rua dos Secretos Amores.
"Estou, neste momento, terminando um livro de contos, o que é um grande prazer, apesar de, nos últimos anos, ter me dedicado à literatura para jovens. O conto é e sempre foi, para mim, muito desafiador pela estrutura e pela possibilidade de 'brincar' com esta estrutura sem fugir de suas características gerais. O título – talvez provisório – é Mulher de Outono.
São 13 contos curtos. A epígrafe ou o mote dos contos são os pintores impressionistas, por quem também sou apaixonada. Nesse sentido, cada um dos contos busca apreender impressões da vida cotidiana de qualquer pessoa sob a ótica feminina, sob a ótica das mulheres de outono, que são, simultaneamente, suaves, divertidas e fortes. A previsão é lançá-lo na Feira do Livro."
A oito mãos
Samir Machado de Machado, autor de Tupinilândia; Luisa Geisler, autora de Enfim, Capivaras; Natalia Borges Polesso, autora de Controle e Marcelo Ferroni (paulista), autor de O Fogo na Floresta
"O livro Corpos Secos, um romance, será lançado pela editora Alfaguara neste semestre, em abril ou maio (a data exata ainda não foi definida), já que depende de agendas. O livro é um romance escrito a oito mãos por Luísa Geisler, Samir Machado de Machado, Natalia Borges Polesso e Marcelo Ferroni.
A trama imagina um cenário onde uma nova doença cria uma situação pós-apocalíptica. Nascida do contato com agrotóxicos em plantações de soja do Centro-Oeste, ela provoca morte cerebral mas mantém o corpo ativo, criando os chamados ‘corpos secos’. Seis meses após a epidemia, quando já não há mais governo ou sociedade e as ruas estão tomadas de mortos-vivos, diferentes pessoas em diferentes regiões são afetadas por uma transmissão de rádio que oferece esperança caso cheguem vivas a um dos poucos lugares que se diz seguro: a ilha de Santa Catarina."
Autor de, entre outros, A Surpresa de Ser e Como Apreciar a Arte
“Não tenho, neste momento, nenhum livro no prelo, mas estou preparando, para o segundo semestre, o lançamento de uma antologia de poemas dedicados à Virgem Maria, que terá o título: Bela como a Lua.
Venho trabalhando nesse projeto há cerca de 10 anos. O livro começará pelos poemas do primeiro dos poetas marianos, Santo Efrém, o Sírio, do século quarto. Traduzi várias sequências e antífonas do latim.
A partir de Dante Alighieri, selecionei aproximadamente cem grandes poetas das línguas latinas: do português, do espanhol, do italiano, e do francês. O florilégio estende-se até ao século 21. Acrescentei-lhe três ensaios: o primeiro sobre a influência da poesia de amor medieval e do culto de Maria na emancipação feminina; o segundo, sobre a poesia popular de língua portuguesa e a Virgem Maria; o terceiro, sobre O Auto da Compadecida de Ariano Suassuna, o auto de Rutebeuf (século 13) O Milagre de Teófilo e as eventuais influências desse auto na obra do pernambucano. Lançamento previsto para setembro.”
Autor de Diário da Queda e O Tribunal da Quinta-Feira
“Estou terminando um romance, mas não tenho ideia se e quando ele vai ser publicado (nem mostrei para a editora ainda). Então, até poderia ser para este ano (segundo semestre), assim como pode ser para daqui a cinco anos ou nunca – sem eu achar que está terminado não tem como prever, e isso sempre depende de vários fatores, inclusive sorte.
A história é sobre uma briga de irmãos (no caso, irmão e irmã). Isso passa por uma herança, mas claro que não é só isso. De algum modo, essa briga reflete o ambiente político do Brasil nos últimos anos, a partir do tema da violência urbana (e do ódio social por baixo dela).”
Leonardo Brasiliense
Autor de Roupas Sujas e Eu Vou Matar Maximillian Sheldon
Estou trabalhando num romance chamado Analice, já em fase de redação, acho que acabo de escrever até junho ou julho, então, mesmo que a editora aprove e mesmo que aprove rapidamente, não deve ser publicado este ano.
A sinopse: após dois divórcios e outros relacionamentos amorosos frustrados, Marvin, 42 anos, publicitário, compra uma boneca de silicone, a qual batiza de Analice, e com ela estabelece uma vida afetiva intensa, como se fossem um casal de verdade (ao menos “intramuros”), sentindo que, ao contrário das mulheres de carne e osso, ela o compreende e não o sufoca. Marvin faz planos para o futuro com Analice e acredita que o amor lhe deu mais uma chance.
No entanto, aos poucos, o que parecia perfeito começa a repetir padrões dos relacionamentos anteriores (especialmente quando ele passa a ter ciúmes da boneca), e rompe as barreiras da racionalidade para expor o quanto se necessita do outro mesmo em nossa tragédia mais íntima.”
Autor de Entre uma Praia e Outra
“Em 2020 a previsão, a princípio, é lançar dois livros, um no primeiro semestre, e outro no segundo. O Leitor Desobediente é um conjunto de ensaios que será publicado em breve pela editora Figura de Linguagem. O conjunto reúne alguns estudos críticos sobre tópicos literários e parafilosóficos.
Na segunda metade do ano pretendo lançar a terceira edição do livro No Assoalho Duro (2007) acrescida de uma seção com poemas de caráter explicitamente político, que venho escrevendo nos últimos tempos na esteira do blog A Voz Pública da Poesia.”
Marcelo Benvenutti
Autor de Arquivo Morto e Vidas Cegas
"Estou com dois livros a serem financiados pelo Catarse (a campanha entra no ar dia 2 de março). O primeiro é um folhetim chamado Maldita Champanha, que é mais ou menos assim: certa manhã (calma, Gregor), Marina chega ao trabalho e descobre que esqueceu um homem trancado em seu apartamento. E agora? O que fazer? Como lidar com uma situação dessas em meio ao caos urbano, com chefes, clientes, ladrões e esposas alheias? A quem pedir auxílio? É drama, mas tem humor, tem romance, tem ação, o básico de toda história folhetinesca.
O segundo, Cones no Deserto, é um livro de contos sobre uma Porto Alegre em convulsão, um autor em crise à procura de seu lugar, um plágio de Cortázar a céu aberto, por que não? Narrados em diversos formatos, na primeira pessoa, na terceira, em pessoa nenhuma (!), líricos ou secos, metafóricos ou realistas, os contos trazem personagens que se encontram ao acaso em uma Porto Alegre por vezes crua, por vezes poética, sem nunca perderem o delírio e a perversidade natural das paixões.”
Cesar Alcázar
Autor de A Culpa É da Noite
“Com lançamento previsto para o início de abril, O Cão Negro de Clontarf compila todas as histórias já publicadas da série de fantasia heroica Contos do Cão Negro, além de apresentar um conto inédito. A série, que se passa na Irlanda do século 11, teve sua primeira publicação em 2010. Nestes 10 anos, o Cão Negro já apareceu em diversos contos, uma novela, histórias em quadrinhos e até em uma canção, parceria com o Bando Celta.
Anrath, o mercenário irlandês conhecido como o “Cão Negro de Clontarf”, é um homem atormentado. Nascido gaélico, foi criado entre os vikings. O destino fez dele um renegado, um guerreiro condenado a vagar entre duas culturas sem pertencer a nenhuma. Após a notória Batalha de Clontarf, um embate sangrento entre gaélicos e nórdicos no ano de 1014, Anrath rompe com o bando viking do qual fazia parte e percorre a Irlanda lutando em troca de pagamento, sempre perseguido pelo passado. Lançamento da Avec Editora.”