A produção de quadrinhos de ficção fantástica vem ganhando força no Rio Grande do Sul. Autores têm se organizado em iniciativas editoriais que estão possibilitando publicações com diferentes temáticas e formatos. E, ao mesmo tempo, eventos como a Odisseia de Literatura Fantástica e o FantasPoa despertam cada vez mais o interesse do público.
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Um dos frutos desse momento é a AVEC Editora, que neste ano já lançou três obras autorais de gaúchos que se dedicam ao gênero: a antologia de contos de horror Treze, de Duda Falcão, o romance steampunk Le Chevalier e a Exposição Universal, de A.Z. Cordenonsi, e, mais recentemente, a história em quadrinhos O Coração do Cão Negro, com roteiro de Cesar Alcázar e ilustrações de Fred Rubim.
Este último acaba de chegar às livrarias em edição de luxo. Com formato de 21cm por 28cm, segue o padrão de publicações europeias. A mesma inspiração do Velho Continente se dá na temática. Ou seja, esqueça figuras em trajes espalhafatosos nas cores da bandeira dos EUA combatendo o crime em tramas com heróis e vilões bem definidos.
Cão Negro... circula por um terreno mais adulto e explora temas como violência e sexo. Entre suas influências, Alcázar aponta Sláine, de Pat Mills e Angela Kincaid, e Corto Maltese, de Hugo Pratt.
– Nos EUA, a cultura do super-herói ficou forte com personagens como Fantasma e Flash Gordon e com a literatura pulp, que influenciou as criações de Batman e Superman. Na Europa, há a tradição do romance de cavalaria, das histórias medievais – diz Alcázar. – A narrativa europeia é mais “quadradinha”, com uma diagramação mais fechada. Trabalhamos nesse formato, mas com uma narrativa mais livre – conclui Rubim, que cita, entre suas referências, os artistas Mike Mignola (Hellboy) e Eduardo Risso (100 Balas).
O Coração do Cão Negro marca a estreia em uma narrativa gráfica do personagem criado por Alcázar, que também atua como tradutor para quadrinhos da Marvel e da DC Comics. Antes, Cão Negro havia figurado em seis histórias em prosa publicadas por editoras diversas, entre elas a Argonautas, da qual Alcázar é sócio-fundador ao lado de Duda Falcão.
A história apresenta um universo de magia e aventura em meio a um cenário medieval característico do subgênero “espada e feitiçaria” (sword & sorcery, na expressão em inglês), tipo de ficção que ficou famoso no Brasil pelo desenho animado A Caverna do Dragão. Inserindo alta carga de fantasia em um contexto histórico real, a história se passa no século 11 e conta a jornada do mercenário Anrath, o “Cão Negro de Clontarf”, em uma Irlanda (Erin) esfacelada por invasões de vikings e disputas internas entre seus reinados.
– Pegamos um período e fatos reais e inserimos elementos de fantasia do folclore – diz Alcázar.
O CORAÇÃO DO CÃO NEGRO
Roteiro de Cesar Alcázar e ilustrações de Fred Rubim
Quadrinhos, Avec Editora, 64 páginas, R$ 29,90.