Um dos grandes historiadores da leitura, o francês Roger Chartier, reforçava em seu trabalho que as condições tecnológicas e sociais afetam os hábitos do leitor: como nos relacionamos com o livro, se o emprestamos, se o queremos ter.
Formulações que também servem para pensar o hábito contemporâneo de “leitura de verão”: aproveitar o início do ano com compromissos reduzidos e férias à vista para pôr em dia as leituras mais recentes. De preferência livros curtos, fáceis de carregar na beira da praia.
Usando essas diretrizes, pedimos a oito colunistas de GaúchaZH (e grandes leitores) que indicassem um livro para a estação. Tem leitura leve, ensaios instigantes e até provocação estética. Confira:
A Luta
Indicado por Alexandre Lucchese
Agora disponível em versão pocket, o livro-reportagem de Norman Mailer parte da maior luta de boxe do século 20, o confronto entre George Foreman e Muhammad Ali, para expor tensões do mundo polarizado pela Guerra Fria, bem como dos EUA marcados pelo preconceito racial. Também se dedica a demonstrar por que, a despeito da violência, o boxe é a “nobre arte”.
O Mundo da Escrita
Indicado por Cláudia Laitano
Com o subtítulo Como a Literatura Transformou a Civilização, o livro de Martin Puchner faz com a história da leitura mais ou menos o que Sapiens fez com a história da nossa espécie: uma narrativa erudita e ao mesmo tempo eletrizante, que nos conduz de Homero a Harry Potter. Um livro para quem gosta de livros.
O Caderno Rosa de Lori Lamby
Indicado por Carlos Gerbase
Nestes tempos em que a produção intelectual e artística é atacada por autoridades praticamente analfabetas que pretendem zelar pela “família”, recomendo a obra de Hilda Hilst que, na tradição obscena de Henry Miller e D.H. Lawrence, retrata uma família nada convencional. O começo é assim: “Eu tenho oito anos. Eu vou contar tudo que eu sei porque mamãe e papai me falaram para eu contar do jeito que eu sei”. A partir daí, leitor, é por sua conta.
Metrópole à Beira-Mar
Indicado por Luís Augusto Fischer
Como nos outros livros de Ruy Castro, temos aqui um banquete de informações, reunidas em texto fluente como poucos outros no jornalismo brasileiro de hoje. Seu assunto está sugerido no título: um passeio pelo Rio de Janeiro, entre 1920 e 1930. Música, teatro, cinema, literatura, arquitetura, costumes, grandes e pequenas figuras vão povoando as páginas, numa sucessão que pode ser chamada sem medo de uma celebração.
Ideias para adiar o fim do mundo
Indicado por Júlia Dantas
Talvez não seja a leitura mais veranil do mundo, mas é leve e esperançoso o suficiente para momentos de contemplação em meio à natureza. O livro de Ailton Krenak traz três breves ensaios sobre a relação entre a humanidade e a Terra e sobre nossas possibilidades de sonhar um futuro mais harmonioso. É hora de decidirmos: vamos dar um jeito de viver de modo mais equilibrado ou vamos esgotar esse planeta até a última gota?
Mulheres Empilhadas
Indicado por Cláudia Tajes
O romance de Patrícia Melo se passa no Acre, estado com o maior número de feminicídios do país. É para lá que uma advogada paulistana vai, com o objetivo de acompanhar um mutirão de julgamentos de casos de mulheres assassinadas. Começa com casos retirados dos jornais e prova o que serviu de ponto de partida para a obra: o feminicídio é prática tristemente democrática no Brasil.
A Uruguaia
Indicado por Cíntia Moscovich
O livro de Pedro Mairal é um romance curto, ágil e divertidíssimo – sem deixar de lado a cota de tragédia que garante o ridículo necessário às boas histórias. Um escritor argentino, em crise com o casamento e com a literatura, se envolve com uma... uruguaia, com quem vai se encontrar ao buscar uma grana em Montevidéu. É pura diversão e literatura fina num livrinho fácil de levar pra cima e pra baixo.
Uma noite com Sabrina Love
Indicado por Pedro Gonzaga
Depois de ler A Uruguaia, obra de surpreendente humor e concisão, investi sem receios neste romance de estreia de Pedro Mairal. A história é inusitada e muito bem conduzida: um jovem humilde do interior da Argentina ganha um concurso para passar uma noite com uma grande estrela pornô de Buenos Aires. As agruras dessa comédia de erros derivam numa novela de formação, clássica e moderna.