Um dos grandes autores surgidos no Rio Grande do Sul, João Gilberto Noll (1946-2017) era um solitário que não recusava a mágica dos encontros. Embora vivesse de forma reclua, cultivou amizades ternas e não era avesso a frequentar festivais e feiras em que a literatura fosse discutida. É para celebrar esse espírito que será realizada a segunda edição do Festival Literário Rastros de Verão, uma série de atividades de 27 de janeiro até 15 de fevereiro tendo o livro como centro, as livrarias como palco e Noll como um afetuoso pretexto.
O encontro de abertura será realizado hoje, às 19h, na Taverna, reunindo os escritores Jeferson Tenório e Ricardo Barberena, com mediação de Vitor Necchi.
A lista de atrações do festival inclui breves saraus, debates, bate-papos, conferências, leituras de contos do autor, discussões sobre sua obra e outros escritores falando sobre livros que lançaram no ano passado. A programação ao longo das três semanas do evento se concentra em quatro livrarias independentes da cidade: Bamboletras, Baleia, Taverna e Padula (as três últimas, coincidentemente, situadas na Fernando Machado, rua em que Noll morava).
– É um festival sem muita pretensão. Não é um grande evento, é um pretexto para encontros nessa época modorrenta da cidade.
As atividades são em um espaço íntimo, próximo, você tem a chance de conversar com quase todo mundo – comenta o organizador Fernando Ramos.
Esta é a segunda edição do festival, criado no ano passado por Ramos, agitador cultural da cidade que é também idealizador da FestiPoa Literária. Ele criou o Rastros do Verão como um projeto para, ao mesmo tempo, homenagear Noll e repassar o calendário de lançamentos do ano anterior. É uma proposta que ainda norteia o evento hoje. Estarão nas livrarias para falar de Noll ou conversar sobre temas variados vários autores que lançaram livros no ano passado, de nomes de ampla circulação como Ricardo Silvestrin, Altair Martins, Luisa Geisler ou Samir Machado a estreantes em livro, como Clara Corleone ou Priscila Pasko.
– É uma iniciativa que merece todo louvor possível, não só por criar eventos literários para quem gosta dessa Porto Alegre tranquila de verão, e pela valorização de autores locais, mas também por valorizar o espaço das pequenas livrarias independentes – elogia Samir Machado de Machado, que participa de um debate no dia 5 de fevereiro com Luisa Geisler e César Alcazar.
Uma marca desta edição é explorar a ideia de cartografia que emerge da obra do Noll, o espaço, a rua.
VITOR NECCHI
Co-organizador do evento
Estreia
Se a primeira edição celebrava o autor, recentemente falecido, e retirava seu título de um dos livros no qual Noll flagrou a apatia do verão ardente da Capital, a programação deste ano tem o objetivo de celebrar outro volume do autor: O Cego e a Dançarina, coletânea de contos que marca sua estreia em livro e foi publicada em 1990. Ao longo da programação, contos do livro serão lidos por participantes. As atrações deste ano também incluem aulas e cursos. A ideia foi trazida pelo jornalista e escritor Vitor Necchi, que, de participante na primeira edição, se tornou co-organizador da segunda:
– Uma marca desta edição é explorar a ideia de cartografia que emerge da obra do Noll, o espaço, a rua. Ele era um andarilho, perambulava muito pelo Centro, e por isso surgiu essa ideia não só de celebrar sua obra mas para celebrar essa característica muito dele – conta Necchi.
O festival também aborda a influência de Noll em autores de diversas gerações.
– Noll foi uma revelação na minha adolescência. Foi um dos grandes autores que me fez pensar: “ah, mas dá para escrever assim?”. Não consigo falar dele de uma perspectiva racional, assim como de Caio Fernando Abreu – diz Luisa Geisler
Atrações da primeira semana
Hoje, na Livraria Taverna
19h – Bate-papo com Jeferson Tenório, Ricardo Barberena e Vitor Necchi (Livraria Taverna)
29 de janeiro, na Livraria Taverna
19h30 – André Günther lê conto do livro O Cego e a Dançarina, de João Gilberto Noll
20h – Bate-papo com Altair Martins, Henrique Schneider e Jéferson Assumção.
30 de janeiro, na Livraria Bamboletras
19h30 – Leitura de poesia, com Ricardo Silvestrin
20h – Bate-papo com Pedro Gonzaga, Priscila Pasko e Taiasmin Ohnmacht
1º de fevereiro, na Livraria Baleia
15h – Aula de poesia portuguesa contemporânea, com Gabriela Silva. Incrições a R$ 30, via Sympla, no endereço bit.ly/AulaGabrielaSilva
18h – Leitura de poesia, com Mariam Pessah
18h30 – Bate-papo com Clara Corleone e Manuela D’Ávila. Mediação de Nanni Rios
* Todas as atividades do festival, com exceção dos cursos, são gratuitas
Endereços do Festival
Livraria Baleia
Rua Coronel Fernando Machado, 85
Taverna
Fernando Machado, 370
Padula
Fernando Machado, 997
Bamboletras
Centro Comercial Nova Olaria, Rua General Lima e Silva, 776